quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Shy boy


(Katie Melua - Shy Boy)

If this was a quiz on a tv show

And the prize was a guy who would love me so

Whatever they ask, the answer, i know

Hey, my reply, boy

Is give me a shy boy

Observatório III




Política à portuguesa



Ordinariamente todos os Ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?

Estas palavras poderiam ter sido escritas por qualquer um - salvo as devidas distâncias - quanto ao sentimento de desencanto que exprimem pela classe política, na sua generalidade. Seriam naturais a todos os que sentem essa desilusão e seriam muitos os que as escreveriam hoje, não derivando daí nenhuma catástrofe.
Catastrófico, tsunâmico mesmo, é o facto de este pensamento ter mais de 140 anos e ter sido escrito pelo bom do Eça (esse, de Queirós), em 1867, num artigo no Distrito de Évora, comentando o desalento, já então, sobre a qualidade dos (des)governantes da época.
É a (infelizmente) curiosa actualidade deste sentimento ancestral, em relação aos políticos de hoje, que me fez sorrir quando o li primeiro (ah! afinal não é de agora) e, a seguir, quando o reli, me fez reflectir com tristeza. Estava a ver um retrato actual, mascarado a preto e branco ou em tons sépia esbatido.
E vieram-me à memória, em catadupa, os Portucale, Moderna, BCP, o recentíssimo alegado golpe palaciano dos terrenos do Casino de Lisboa, tantos que, de repente, lhes esquecemos os nomes, mas não conseguimos deixar de sentir o amargo na boca, mal ressacados depois de uma noite longa de mau vinho.
Mas lá vamos, daqui a um ano, cumprir o nosso dever(zinho) cívico, dar o nosso contributo à democracia(zinha), continuar a engordar os porquinhos que se enchem nas nossas barbas e à nossa custa, sem o mais pequeno pudor!
Até quando, Eça, até quando?
Pedro Silveira Botelho

(Imagem: Chema Madoz - fotografia)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A kiss is just a kiss?

(Casablanca)

Aqui discute-se se um beijo é apenas um beijo, ou não. Não resisti a trazer para aqui o assunto, porque sobre isto não tenho a menor dúvida: um beijo, consentido e com sentido, nunca é "só" um beijo. É um vocábulo explícito, de uma linguagem planetária e inequívoca. Encerra sempre, num molde indestrutível, o desejo que o forjou. Traz em si memórias de beijos sonhados e expectativas de beijos futuros. E mesmo que não tenha passado nem futuro, cada beijo é, por si só, um universo.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O poder de um sorriso

Charlie Chaplin compôs esta canção lindíssima, num especial momento de inspiração. Michael Jackson (de quem eu nem sequer gosto muito) cantou-a assim, igualmente inspirado. A mensagem da letra e a beleza da música, fazem dela uma eterna lição. E uma eterna emoção.

(Smile)

Smile, though your heart is aching, smile, even though it's breaking

When there are clouds in the sky, you'll get by...

If you smile with your fear and sorrow, smile and maybe tomorrow

You'll find that life is still worthwhile, if you just...

Light up your face with gladness, hide every trace of sadness

Although a tear may be ever so near

That's the time you must keep on trying, smile, what's the use of crying

You'll find that life is still worthwhile, if you just...

Smile, though your heart is aching, smile, even though it's breaking

When there are clouds in the sky, you'll get by...

That's the time you must keep on trying, smile, what's the use of crying

You'll find that life is still worthwhile

If you just smile.

(Nota: Para a minha amiga S., que perdeu o sorriso algures entre duas lágrimas. E eu quero voltar a vê-lo.)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Meia dúzia de nadas

Lá me apanharam em mais uma corrente. Mas, vinda da Leonor, não posso recusar. Assim, deixo aqui as tais "6 insignificâncias" sobre a minha pessoa, que não interessam a ninguém mas que tiveram o mérito de me fazer olhar para dentro. São estas:
    1. Demoro muito a "sair" de um filme de que gostei. Quando se acendem as luzes da sala de cinema e olho à minha volta, tudo me parece estranho: as pessoas, as conversas, o ambiente. Às vezes, um dia inteiro não chega para voltar à realidade. Acontece-me o mesmo com alguns livros.
    2. Adoro flores amarelas: rosas, frésias, narcisos, túlipas.
    3. O mar faz-me uma falta física: se estou muito tempo afastada, começo a entristecer perigosamente.
    4. Perco-me por tapetes orientais. E por chocolates.
    5. Nada tem a capacidade de me comover como a música. E pode ser qualquer uma a ter este efeito, desde a erudita ao fado.
    6. Sou a pessoa mais distraída do mundo, mas sou boa fisionomista. Raramente esqueço uma cara e tenho a mania de encontrar semelhanças entre as pessoas.
    7. Em Itália, sinto-me em casa. Mas é a Índia o meu grande desafio.

E pronto. Eu sei que são 7 e não 6, mas eu gosto mais do número 7 (outra mania minha, também). Passo o desafio ao Pedro Viegas, à Rosarinho, ao Paulo, à Musqueteira, à Meg, à Sofia e ao Pedro SB, que é da casa e por isso responderá aqui mesmo. Se lhe apetecer, claro, como aliás todos os outros.

Na mouche

Assim eu acertasse no euromilhões...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Cuba

Na melhor nódoa cai o pano.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Cata-Ventos


Cecilia Bartoli
Francisca Cunha Rêgo, no Blogue do JL

No princípio
JG, no Zoo Bizarro

O vento que passa fora do Ashram
O Jansenista, n' O Jansenista

O Flagelo dos Plágios
O Réprobo, no Afinidades Efectivas

Parole
Rui Bebiano, n' A Terceira Noite

100% Dignidade
Jorge Rosmaninho, no Africanidades

O Princípio do Fim
Daniel Oliveira, no Arrastão

Equilíbrio Instável
Legível, no Papel de Fantasia
As time goes by
LBP, no
Lord Broken-Pottery

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Observatório II





Tesos, mas saudáveis!


Li, algures, que os conselheiros municipais de Bridgewater, Nova Escócia, Canadá, iniciaram um processo legislativo para proibir fumar nas ruas, passeios e pontes. O regulamento ocupa-se também dos edifícios federais e parques de estacionamento, remetendo os fumadores para as suas casas.
Outro artigo, desta vez vindo da Finlândia, referia ter um tribunal invalidado a decisão de um condomínio, que proibia os residentes de fumarem na varanda, depois de uma contenda judicial que durou 2 anos.
Fumador convicto desde os meus 15 anos, há muitos, portanto (sim, eu sei que faz mal e que já perdi não sei quantos anos de vida), pensei logo: Pronto! Estamos tramados! Se o Sr. Francisco Ex-Fumador George e o Sr. Não Sei Quantos Abstémio Sakelarides, eminências lusas em saúde pública e defensores acérrimos da nossa saúde privada (sim, eu também sei que a sua preocupação com a minha saúde é, deveras, genuína) sabem disto, não vai faltar muito para só podermos fumar na casa de banho de nossa casa, o que até acho graça e me faz voltar aos meus tempos de miúdo, quando comecei a dar as primeiras passas, precisamente às escondidas, na casa de banho (que tinha janela grande e dava para disfarçar o cheiro a tabaco).
Aí, vai ser vê-los a darem a mão ao Sr. António Fundamentalista Nunes e (ah, ASAE dum caneco, que não vais ter mãos a medir!) vamos ter o problema do desemprego resolvido, a promessa dos 150.000 postos de trabalho cumprida, toda a gente satisfeita, com tanto inspector caçador de relapsos fumadores que vai ser preciso arranjar.
E vamos ter, finalmente, o País com uma saúde de ferro, liberto de monóxidos e de viciados à porta de centros comerciais e de restaurantes, todos enclausurados nas suas casas de banho privadas.
O resto, pode continuar uma merda. Mas teremos uma saúde de primeira.
Bem hajam e obrigado!

Pedro Silveira Botelho

(Nota: Gravura roubada no Afinidades Efectivas. A César o que é de César, meu amigo Paulo!)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fado como eu gosto

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O poder das circunstâncias


Fui ver o filme "Expiação", uma história que confirma uma vez mais como a vida se faz mais de circunstâncias do que de vontades.
Que bom seria se fosse ao contrário!
Fez-me lembrar uma frase lapidar que o meu avô dizia muitas vezes: "Não interessa nada o que as pessoas são lá no fundo... O que convive com os outros é sempre a superfície".
(Imagem: Júlio Resende)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Momento ainda mais narcísico


Nariz, nariz e nariz,
Nariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz, que Newton não quis
Descrever-lhe a diagonal;
Nariz de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total!

(Bocage)

Prometo que não falo mais no assunto, mas não resisti.

Sunday, bloody Sunday

À chuva, não tenho a destreza deste senhor.
Sou mais parecida com este.

Mas tenho ainda mais azar do que ele. Em vez da lama, que sempre é macia, o que me esperava ontem era um chão de pedra. Resultado: um serão nas Urgências da Cuf, à espera de uma radiografia que confirmasse o que eu já sabia - uma fractura do nariz. Mas não é tudo: na sala de espera, para entreter os pacientes (acidentados, quase todos), havia um plasma que passava videos de... quedas!!! Com gargalhadas de fundo e tudo. Os hospitais portugueses têm um estranho sentido de humor.
Enfim. Pior serão de Domingo, só a ver os programas da TVI.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Começar a vida

" Je n'en finis pas de commencer ma vie.
Quand je pense qu'il y en a qui n'attendent pas d'avoir vingt ans pour commencer leur mort ! "

(Maurice Béjart)

Dedicado à mana Mad, que faz hoje anos.
Parabéns, miúda!

Momento narcísico


















1. Tenho imensa curiosidade de ouvir isto!

2. Para todos os que me têm perguntado, o meu livro Gente do Sul já está nas livrarias. Aqui ficam algumas sugestões:

  • Livraria Buchholz (à Alexandre Herculano)
  • Livraria Barata (Av. Roma)
  • Livraria Salesiana (C. Ourique)
  • Livraria Obras Completas (Carnaxide/Linda-a-Velha)
  • Livraria Galileu (Cascais)
    Pronto. Já passou.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O triunfo dos Gatos


Se George Orwell fosse um blogger, mudaria o título do seu famosíssimo livro para "O triunfo dos Gatos". Perito como era em analogias com o reino animal, teria provavelmente sucumbido à avassaladora invasão da blogosfera pelos gatos.
Esta constatação reflecte um fenómeno que alguém, algum dia, se dará ao trabalho de estudar. Tenho-me dado conta de que há uma imensidão de blogs que glorificam os pequenos felinos, e o mais engraçado é que são, muitos deles, os blogs e os bloggers com quem eu descubro mais afinidades. Se quisesse dar-me ao trabalho de extrair da minha lista os links para os amantes de gatos, tenho a certeza de que a percentagem me deixaria de boca aberta. Para citar só alguns exemplos de entre os que visito regularmente, este, este, este, este, este e este. E isto tem que querer dizer alguma coisa.
Ora, eu fui educada a não gostar de gatos. Em casa dos meus pais a primazia sempre foi para os cães e, durante muitos anos, esses cães eram galgos. O meu pai era um exímio cavaleiro e um apaixonado por caçadas às lebres, prazer que só abandonou depois de uma fractura grave numa perna, devida à queda de um cavalo. Mas os galgos ficaram por lá, correndo no pátio de casa atrás dos (muitos) gatos da vizinhança. Lembro-me bem do Aquiles, do Falcão, da Torrinha, do Tango, do Raiado, da extrema elegância dos corpos longilíneos e musculados num quase voo rasante, perseguindo, a uma velocidade alucinante, os pobres gatos que se atreviam a entrar por entre as grades do portão e só paravam, salvos de morte certa, no galho mais alto de uma das árvores. Depois dos galgos vieram os labradores, os pastores alemães, os grand danois.
Eu adorava animais: tive em casa toda a espécie de bicharada, desde o impossíveil Pirueta, um coelho que se escondia na prateleira mais alta da estante e que corria loucamente pela casa toda (milagrosamente, nunca foi comido por nenhum dos cães), ao incómodo Xico, um cabrito bebé que trepava a sofás e mesas e que os meus pais condenaram rapidamente ao prato, sem eu saber. Pelo meio, rãs, lagartixas, mochos e até ratos, todos criei com desvelo, em caixas de sapatos ou gaiolas, até se transformarem em insuportáveis adultos que todos odiavam, menos eu. Mas esse afã de maternidade precoce nunca incluiu gatos.
Não nego que acho os gatos, como todos os felinos, animais lindos. Que admiro neles a natureza livre e indomável, a orgulhosa recusa em bajular os donos, a independência emocional. E até penso que, por definição, os gatos teriam mais a ver comigo do que os cães. Mas a verdade é que isso não acontece, e a explicação para esse mistério só poderá estar numa infância despovoada de gatos (ou povoada de gatos que não eram mais do que negaças para treino dos galgos), em que os cães eram os reis absolutos da casa.
(Fotografia encontrada aqui)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Negar a evidência





Criação

"Vivemos adormecidos num mundo sonolento. Mas se um tu murmurar ao nosso ouvido, é isso o que sacode as pessoas: o eu desperta graças ao tu. A eficácia espiritual de duas consciências simultâneas, reunidas na consciência do seu encontro, escapa à causalidade viscosa e contínua das coisas. O encontro cria-nos: não éramos nada - ou nada mais que coisas - antes de estarmos juntos."

(Gaston Bachelard)

Óscares 2008

O meu vencedor já está escolhido.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Cata-Ventos

Por que outra razão fariam isto às pessoas?
Cristina Ferreira de Almeida, no Corta-Fitas
Se o ridículo matasse
João Távora, no Corta-Fitas

Namoro
Leonor Barros, no A Curva da Estrada
Valadares, o psicologismo de alcova e a erecção espontânea
Azia, no Azeite & Azia
Animais
Ricardo A. Alves, no Abencerragem.
Às vezes esqueço-me
Mad, no Juro que tenho mais que fazer
Noite de regresso
Sofia, n'O meu cais
Será que estou?
Ernesta, no Cabra de Serviço
E pronto. Para a semana há mais.

Love hurts...

Embirro com datas impostas pelo comércio, mas este video é irresistível.
O amor também é humor.

Se não conseguir ver o video, experimente aqui.

Observatório (I)

É comum dizer-se que a vaidade humana é incontornável. Pois bem, sendo humano, tenho por inerência a minha dose de vaidade e, mesmo resistindo a princípio, aqui estou a ‘postar’ pela primeira vez, qual debutante em baile de iniciação.
Mas, por muito pouco vaidoso que possa ser, o que, por acaso, até é verdade, não resisti a comentar um artigo da imprensa da semana passada, que me encheu as medidas, pelas más razões.
Este artigo teve honras de capa da Visão (Edimpresa, favor creditar os royalties de publicidade na minha conta do costume) de 7 de Fevereiro, com o título ‘O Lado Obscuro dos Transplantes’ a encimar uma fotografia do cirurgião Eduardo Barroso, com um de três subtítulos que referia ter este senhor ganho 277.000€ (sim, duzentos e setenta e sete mil euros) em prémios (fora ordenado e outras mordomias) no ano passado.
Entrando no artigo, que cognomeia o cirurgião como ‘O euromilhões dos transplantes’, percebe-se que a lista de espera de transplantes cirúrgicos de várias especialidades tem diminuído (mas não muito, que é para não nos habituarmos mal) não por melhoria de racionalização de serviços e meios, não por melhoria de racios de produtividade derivados de maior profissionalismo, mas sim porque o nosso Estado(zinho) se lembrou, já ao tempo do saudoso (lagarto, lagarto) Guterres, de criar uma lista de incentivos com valores unitários por transplante, qual açougue de preçário à porta, variável conforme o Hospital. O aqui visado é o Curry Cabral, em que um transplante de fígado, pulmões ou medula vale 54.860,00€ (desculpem-me, mas ignorei, por baixo, os trocos), do coração 24.930,00€, pâncreas 14.960,00€, 12.460,00€ por cada cada rim e por aí fora, até à córnea que só vale uns míseros 1.596,00 euritos.
Estes incentivos são pagos ao Hospital ‘transplantador’, sendo que 48% vão parar aos bolsos da equipa interveniente. Em valores líquidos.
Assim, em contas de merceeiro, sai-nos (contribuintes pagantes) mais barato que o vizinho resolva lá o problema dos..., perdão, da córnea, do que aquelas náuseas figadais (em bem te tinha avisado que um bagaço ao pequeno almoço era capaz de não te fazer lá muito bem) que nos saem um balúrdio. A equipa médica é que esfrega as mãos de contente...
Pasmo ainda, e por isso o cognome e aquela ‘massonga’ toda, que o incentivo pessoal deste cirurgião é de 21% sobre o valor arrecadado em cada intervenção (eu, se fosse um dos outros membros da equipa, ficava fu... lo, a ter que dividir 79% por tanta gente, pois até os administrativos também estão no bolo) mesmo, pasmem mais agora, que não tenha saído do sofá cosy da sua casa cosy. E esta, hein? (Ah, Peça, Peça). Pois não é que este senhor já não é director de serviços do Hospital, estando a servir a Nação como Presidente da Autoridade de Transplantação, a convite do nosso (?) Engenheiro, continuando a dar uma perninha, desculpe, mãozinha em situações excepcionais sempre que o arrancam do seu cosy sofá, porque alguma coisa se complicou, o que é raro (em 2007 foram aí uma dezena de vezes), segundo diz, e ainda bem, continua, pois ‘é sinal que estão a conseguir fazer o transplante sozinhos.’.
Não tenho nada contra o Eduardo Barroso, sinceramente. Até o acho simpático e sei que é um excelente cirurgião. Também gosta de charutos, é um bom garfo e gosta da boa vida. Como eu. E até, dito pelo próprio, acha estes incentivos um exagero. Como eu. Até já disse à administração do hospital que, a manter-se este ritmo de transplantes, ‘temos que diminuir o tecto dos prémios’. Se o não fizerem, digo eu, não vai saber o que fazer a tanto dinheiro, digo eu. Até já deu instruções para lhe baixarem a sua percentagem em 3%.
É mais um ‘gajo porreiro, pá’. Como eu.
Pedro Silveira Botelho

Ventos de feição

A partir de agora, o Porta do Vento contará com 2 novas rubricas:

1. Observatório
O meu amigo - e habitual comentador deste blog - PSB (Pedro Silveira Botelho) deu-me o grande prazer de aceitar um convite/desafio que lhe fiz há poucos dias: o de passar a colaborar regularmente no Porta do Vento. Primeiro renitente, por falta de tempo e "temor de iniciado" nestas lides, acabou por aceder. E ainda bem. O Observatório será uma coluna de opinião sobre temas da actualidade, com a acutilância e sentido de oportunidade que caracterizam a escrita do Pedro. Aí está, já a seguir, a primeira das suas crónicas. Sei que vão gostar.
2. Cata-Ventos
Será uma selecção de posts de que eu goste especialmente, ache curiosos ou divertidos, encontrados por mim noutros blogs. Um espaço de fora para dentro, a enriquecer este blog.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Ainda a propósito de aniversários...


Conselhos para agradar apesar de tudo

Ter um sorriso nos lábios e uma flor na lapela.

Vestir-se com tecidos suaves, veludos, tweed, caxemira, que dêem vontade de acariciar.

Para não cheirar a velho, retirar dos bolsos as bolas de naftalina e pôr um pouco de perfume distinto, que dê vontade de cheirar.

Não usar cores demasiado vivas, mas as tonalidades da sua estação, o Outono.

Comer feijões finos para ficar extrafino.

Ser desenvolto, leve, nunca pesado. Como os elefantes para atravessar o lago gelado, caminhar na ponta dos pés. Saltar para não se afundar.

Não falar como um livro, não se tornar grave e sentencioso, ficar malicioso, troçar de si e de todos.

Ser pessimista e jovial. Saber dizer asneiras.

Cultivar o inútil e as rosas, o escárnio e as abóboras-meninas.

Aprender de cor poesias para poder dizê-las sem óculos e no escuro.

Ser curioso e ambicioso.

Não se queixar, de manhã, de ter dores por todo o corpo. Pensar que as pequenas dores nos fazem companhia, ocupam o espírito, ficamos amigos. E quando já não as temos, aborrecemo-nos. Lembrem-se que, «passados os cinquenta anos, se acordarmos sem ter nenhuma dor, é porque estamos mortos», mesmo.

Jean-Louis Fournier

(O humor corrosivo de Jean-Louis Fournier, roubado no Zoo Bizarro , o blog do meu amigo JG)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Chega de Saudade... 30 anos depois

(João Gilberto e Tom Jobim - Chega de Saudade)

Imbatíveis. Insuperáveis. Inesquecíveis. Inimitáveis. E tudo o que quisermos chamar-lhes mais, que todos os superlativos são poucos para classificar esta canção e esta dupla, que voltou a juntar-se para este concerto ao vivo, porque... 30 anos depois, já chegava de saudade.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Domingo


Por muito blue que me ponham os domingos, o surpreendente StatCounter salva-me sempre da neura. Hoje, diz-me que houve gente que veio aqui à procura de respostas para dúvidas existenciais profundas, eu diria mesmo lancinantes. Como não gosto de deixar ninguém angustiado, vou tentar ajudar. Mas não prometo grandes revelações. Ora bem:
Para quem procura "mulheres loiras na praia", lamento informar que não é a minha especialidade. Não aconselho a Suécia, por duas razões: fica um bocadinho longe e as praias são frias. Enfim, ligeiramente. Mas acho que, sem ter que procurar muito e se não for muito exigente na qualidade das tintas, há-de encontrar muitas loiras nas praias portuguesas.
A quem está desesperado por "chapéus femininos matinais para casamento", seja para um casamento mesmo ou só por fétiche, lembro a sempre airosa e tão útil touca de banho, que de manhã fica sempre bem.
Finalmente, vá-se lá saber porquê, há quem espere de mim "ideias de como fazer um arrastão no São João". Por muito boa vontade que eu tenha, meu caro, isso é que eu não sei mesmo. O São João, para mim, é mais sardinhas e manjericos. Mas não corte já os pulsos. Posso falar-lhe da experiência de Carcavelos, que parece ter corrido muito bem: junte muitos amigos (de preferência dos que morem nas Marianas, Cova da Moura, Chelas e outros bairros chiques como estes), organize com eles um passeio à praia, em hora de enchente, marque o dia 24 de Junho para o evento, e... divirtam-se! Com sorte, até vai encontrar o amigo que anda à procura de loiras na praia e, quem sabe, ficam amigos para sempre e fazem juntos muitos outros arrastões...
E é tudo por hoje. Espero ter sido útil, não quero que vos falte nada.

Parabéns, Roberta Flack

Roberta Flack faz hoje 69 anos. Parabéns! Encheu os meus dias longínquos de canções lindas. Não nego a beleza da celebérrima Killing me softly, mas tem sido tocada e repetida à exaustão e, como acontece nestes casos, fiquei saturada dela. Aqui fica a minha preferida. E continuo na onda da nostalgia, não há dúvida...

(Roberta Flack - The first time ever I saw your face)

Nota: Ofereço esta música ao meu querido cunhadinho Diogo, que faz hoje anos também e está sozinho, desterrado, sem a sua Saidinha. Não me esqueci, vês? E ninguém me lembrou, juro!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Baleal, um amor antigo

Todos nós temos uma praia. A "nossa praia". Uma espécie de mundo encantado, perdido no tempo, onde estão guardadas, intocáveis, as nossas mais doces lembranças da infância e da adolescência. A minha é, sem dúvida, o Baleal. Estive afastada dela, fisicamente, durante anos. Mas o espaço que este lugar especial teve sempre no meu coração nunca foi ocupado por nenhum outro. Por qualquer razão que desconheço - há forças subterrâneas que não têm explicação simples, e são mais importantes do que pensamos - o Baleal voltou a tornar-se um apelo fortíssimo na minha vida. Sinto-lhe, mesmo de longe, o eterno cheiro a maresia, o vento cortante das madrugadas, a extrema brancura da areia finíssima. Cinco sentidos alerta, à espreita das memórias. Porque todas as velhas memórias se corporizam neste lugar mágico, onde o tempo teima em não passar.

Ando há muito tempo para escrever sobre o Baleal. Mas a minha irmã Madalena descreveu-o assim, e eu nunca o faria melhor. Convido-vos a ler esta declaração de amor à minha praia, à nossa praia de infância:

A Ilha do Baleal é um daqueles sítios alcançados por bafo divino em dia de suprema inspiração, dona de uma beleza natural que, além de absolutamente estonteante, é originalíssima na costa portuguesa (digo eu, que não a conheço toda), e isto só do ponto de vista geográfico e não do resto (ao dito resto iremos, a seu tempo). A Ilha, que não o é, sê-lo-ia quase se não estivesse ligada ao “continente” por uma língua de areia com duas praias – e aqui começa a originalidade, mas nem por sombras se esgota – que se enfrentam, mais que se admiram, mesmo em frente uma da outra.

Nós, os nativos, insistimos em chamar-lhe Ilha, talvez porque há muitos anos quem a frequentava lembra-se bem de chegar ao Redondo e ter que esperar que a maré baixasse para poder atravessar, pois a maré cheia juntava as águas até quase se perder o pé, ou pelo menos até tornar perigosa a travessia, por causa das correntes fortíssimas formadas pela junção das duas águas. O que, aliás, acontece ciclicamente, e é só mais uma das suas originalidades: a Ilha comporta-se como se tivesse vontade própria, transforma-se quando lhe dá na gana, renova a sua imagem, redefine os seus caminhos, o tamanho das suas praias, a quantidade da sua areia, a altura das suas rochas até quase à véspera familiares,provavelmente para nos confundir, nos encantar ou simplesmente nos fazer reapaixonar pelas suas formas renovadas.


Nega sistematicamente – ou não fosse ela um espírito livre – todas as transformações feitas por mão humana, imperfeitas por definição e desígnio divino, como o famigerado pontão para passagem de carros, espécie de cicatriz de uma operação mal conseguida, quase todos os anos reparado porque o mar o enche de areia ou porque lhe tira tanta que lhe faz perigar os alicerces, como se a própria Ilha o rejeitasse como corpo estranho, coisa de tal maneira óbvia que nós, míseros mortais e pouco sabedores dos mistérios da natureza, não alcançamos à primeira vista. Ou talvez porque, no fundo, desejamos que ela realmente venha ser uma ilha perdida nas brumas, inacessível aos milhares de veraneantes atraídos como mariposas pelo seu brilho.


De um lado, a ilha oferece-se ao continente, generosa na fartura das suas praias gémeas – falsas – uma de águas calmas mas perigosas, a outra de águas revoltas e correntes fortes mas previsíveis. Como a mente humana, aliás: toda a Ilha é uma analogia. E ainda nos oferece mais duas praias, uma escondida do primeiro olhar, por ser reduto antigo de barcos de pesca e por definição segura, protectora, aconchegante: a dos Barcos; e outra tão pequena que torna admirável o facto de ter sido baptizada: a das Cebolas, ainda que o seu nome não seja nem remotamente poético.


Do outro lado, aberta ao azul-cobalto, a Ilha mostra a sua face rebelde, gigantesca e sempre agreste, menos moldada às vontades humanas e imune a invasões. É o lado oceânico, com vista para as Berlengas, sua congénere longínqua e ao mesmo tempo ali tão perto, e para os Farilhões, ilhotas desertas e heliporto exclusivo de pássaros marinhos, a eterna inveja da nossa Ilha de alma eternamente selvagem. Ela aponta-lhes a sua proa cortante e abrupta, como se quisesse levantar âncora, imitando penínsulas saramaguianas na desesperada tentativa de se lhes juntar. A prová-lo, a Ilha das Pombas, esta com I maiúsculo por direito próprio, rochedo virgem e rebelde que fugiu das saias da mãe, conseguiu desertar da cobiça humana e buscar uma vizinhança composta exclusivamente por seres marinhos, ou quando muito alados, e fez-se ao mar há já uns bons milhares de anos.


Ainda que de rocha pura, a Ilha tem essência marinha, feminina. É mais feita de mar que de terra – a prová-lo o facto de não haver uma única árvore em todo o seu território, nem mesmo um pessegueiro, ainda que de outros tempos, só tojos raquíticos que sobrevivem à custa de pura teimosia – quase como se criar raízes não calcárias fosse motivo de vergonha para uma ilha que se preze...



É orgulhosa, a nossa Ilha. Não nos quer lá – ou não nos brindasse com tempestades quase de granizo em pleno estio, e só aos parcos mas persistentes visitantes invernais concede raras manhãs ensolaradas, gloriosas, ainda que gélidas. Parece até que considera esta adoração de que é objecto um contratempo, uma contrariedade temporária de que se verá livre rapidamente – para ela o tempo é efémero e o seu não se mede pela mesma medida que o nosso. Uma vida humana é um décimo de segundo. A memória da geração anterior somada a uma vida de agora não é mais que um suspiro.Talvez nos deixe construir casas porque as pintamos de branco, quem sabe as confunde com velas desfraldadas ao vento e conta com elas para sair mar afora, rumo ao pôr-do-sol...



(Fotografias: Mário Cordeiro)

Mais do mesmo

(Comfortably Numb (live) - Dave Gilmour)

When I was a child I caught a fleeting glimpse,

out of the corner of my eye.

I turned to look but it was gone.

I cannot put my finger on it now.

The child is grown, the dream is gone.

I have become comfortably numb.

Nota: Por sugestão e em honra da Margarida - uma velha amiga que tem andado desaparecida - aqui fica esta preciosidade (fora a pastilha elástica em palco, que se dispensava). Espero que gostem tanto como eu.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Wish you were here

(Pink Floyd - Wish you were here)

So... so you think you can tell Heaven from Hell, blue skies from pain.

Can you tell a green field from a cold steel rail? A smile from a veil?

Do you think you can tell?

How I wish, how I wish you were here.

Palavras minhas

Pede-me a Leonor Barros que nomeie as 12 palavras de que mais gosto. Difícil tarefa, escolher só 12. Adoro palavras e tenho a veleidade de achar que sou correspondida. Gosto de dizê-las, de escrevê-las, de repeti-las mentalmente, soltas ou em combinações caprichosas que elas próprias tratam de compôr. Dói-me quando as maltratam, como se fossem gente, e alegro-me quando as glorificam. As palavras são um brinquedo eterno e universal, além de absolutamente democrático: todos temos acesso a elas, ao seu mistério, à sua beleza, ao seu peso específico. Com palavras se pode dar vida e com palavras se pode matar. Mesmo os silêncios são feitos de palavras imaginadas, sonhadas, desejadas ou temidas. As palavras dançam à nossa volta durante uma vida inteira, a convidar-nos para o seu baile alucinante. Dancemos com elas.
Vamos às minhas preferidas, então. Não me detive no significado mas talvez na fonética, ou apenas no misterioso eco interior que cada uma delas provoca em mim, sem razão aparente. Aqui estão:
Maresia
Areia
Madrugada
Baía
Luz
Delícia
Cambraia

Ventania
Pele

Silêncio
Voragem
Ilha

Parabéns pela ideia, Leonor. O exercício é estimulante, ao contrário de algumas correntes que andam por aí na blogosfera. E passo o desafio a 12 amigos blogueiros (um por cada palavra preferida): Teresa, Mariav, Capitão-Mor, JuliaML, Pedro Viegas, Jayme Serva, African Queen, RAA, Lord Broken-Pottery, Adelaide Amorim, Sofia e Feitixeira, porque todos eles são gente da palavra. E de palavra.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Violência paga

"O Hospital de Braga cobra 152 euros às vítimas de violência doméstica, apesar de a Lei isentar estes utentes do pagamento de consultas e taxas moderadoras. De acordo com o jornal «Público», o decreto-lei é de Maio de 2007, mas ainda não está regulamentado. Por isso, cada hospital aplica o preceito de maneira diferente.
No São João no Porto, as vítimas entram e não pagam. Já em São Marcos, em Braga, recebem a factura da taxa moderadora e uma nota de débito da consulta num total de 152 euros. Isto acontece porque o hospital considera que a vítima de violência doméstica só o é se houver uma sentença judicial.
A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género defende que, para estar isento, o utente só tem de apresentar queixa e que a nota de débito deve ser enviada ao agressor."
A notícia escapou-me, só dei por ela na blogosfera (aqui). E não queria acreditar no que lia: as vítimas de violência doméstica têm que pagar os tratamentos em alguns hospitais do país, ainda por cima num valor que não é indiferente à maioria das bolsas portuguesas. Pelos vistos, a cobrança ou não deste atendimento fica ao critério de cada unidade hospitalar. E a vítima, para estar isenta, "só" tem que provar em tribunal que o seu caso é de inequívoca violência e ainda identificar o agressor para que seja enviada a factura a este e não a si! Como se o facto de ter-se dirigido a um hospital, exibindo maus tratos óbvios (que os médicos identificam imediatamente) e tendo que admiti-lo perante estranhos, não fosse já um passo de gigante para muitas vítimas, quantas vezes dado só quando o desespero chega ao extremo. Como se tudo isto fosse fácil, líquido e sem consequências para quem vive sob um regime de terror!!!!
Será que a vítima, já agora, também vai ter de levar de casa uma declaraçãozinha de culpa do agressor, para facilitar a vida aos serviços hospitalares e ter direito à borla? "Olha, desculpa lá: se não te importas, assina aí este papel que diz que és uma besta e que me ias matando, para eu não ter que pagar o tratamento"...
A hipocrisia que envolve toda esta aberração é uma vergonha para todos nós: os legisladores, que fizeram uma lei que permite interpretações deste teor; os deputados, que a aprovaram; os médicos, que põem a contabilidade à frente do juramento que fizeram; e, finalmente, toda a sociedade civil, que se demite e fecha os olhos a todos os assuntos que a constrangem. E assim, uma lei estúpida e irresponsável, aplicada ao acaso e não denunciada com a indignação que nos devia merecer, contribuirá para fazer engrossar outra vez uma estatística que tem diminuído a muito custo e a passo de caracol.
É revoltante, tão revoltante como a própria violência doméstica.
(Imagem: Fotografia de Chema Madoz)

In the waiting line

(Zero 7 - In the waiting line)

(Imagem - Gustav Klimt)

Esclarecimento

Não é meu costume bater em ceguinhos. E também não tenho o hábito de alinhar em caças às bruxas ou em poses farisaicas fáceis, porque escudadas numa legião de concordantes, contra alguém que prevaricou, muito ou pouco. Se aderi à crucificação do primeiro ministro por causa do longínquo projecto (apenas assinado ou saído do seu mau gosto embrionário) daquela espécie de "casa dos bicos" em trompe l'oeil de azulejo de casa de banho, foi porque ele tem provado, à exaustão, ter um total e absoluto desprezo por todos nós.
Não me parece que o pecado de assinar projectos destes seja assim tão grave, ainda por cima aos vinte e tal anos. Afinal de contas, mamarrachos há-os por todo o país, infelizmente. Este é só mais um, feito por um engenheireco recém-formado (ainda sem pretensões a primeiro ministro, julga-se) que queria ganhar umas coroas ou fazer o jeito a alguém, como tantos outros. E o gosto educa-se, aprende-se, refina-se com o tempo e com um esforço pessoal que não parece ter faltado nunca ao ambicioso Sócrates. Eu - e julgo que muita gente dirá o mesmo - perdoar-lhe-ia de bom grado a escorregadela arquitectónica, fosse ele mais humano. Mas a insuportável arrogância deste Armani man inacessível, que nos vende uma imagem cuidada de quem foi nado e criado num sofisticado loft novaiorquino do west end, impossibilita-nos o fechar de olhos ao passado incómodo. Só por isso não resisto a lembrar-lhe que também tem telhados de vidro. Ou melhor, de chapa de zinco.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Parabéns, miúdo


Com um sorriso tímido de miúdo apanhado a roubar bolachas, Cristiano Ronaldo diz isto a uma jornalista que lhe pergunta o que vê quando se olha no espelho: "Eu sei que não sou o Brad Pitt... mas sou engraçado, sou alto... sei lá, a minha mãe diz que eu sou um borracho!" (risos).
23 anos, o mundo aos pés (e nos pés). Mas dá gosto ver que a fama, o dinheiro e a excessiva exposição pública, neste caso, ainda não mataram a inocência e a simplicidade.
Parabéns, miúdo.

Portuga, afinal

Finalmente, a verdadeira humanização do gélido Sócrates:
faltava-lhe esta dimensão, tão portuga, de pato bravo.

(Nota: Imagem roubada no Corta-fitas)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Tiro ao alvo

Acabei de ouvir, na televisão, uma notícia espantosa: os elementos da PSP vão ser submetidos a um exame de tiro para apurar da sua perícia no uso de armas de fogo. Os que não provarem ter uma boa pontaria ficarão reprovados no dito exame, e consequentemente proibidos de usar armas daí em diante, no seu trabalho do dia a dia. Fiquei perplexa. Conhecida como é a penúria de equipamento destribuída aos guardas - que têm que adquirir, pelos seus próprios meios, fardas, coletes à prova de bala e até as próprias balas - imagina-se o vasto treino que estes homens terão de carreiras de tiro...
Sendo assim, presume-se que grande parte destes efectivos chumbará no exame e ficará sem poder usar uma arma em patrulhas, controle de bairros problemáticos, espaços nocturnos, etc. Some-se a isto a total desautorização de que têm sido vítimas nos últimos anos, mais o galopante número de armas de fogo ilegais em mãos desconhecidas, e o resultado desta medida é fácil de prever. Falta só um novo design de fardas para a PSP, com um alvo desenhado no peito.

15.000


15.000 ventos já passaram por esta porta, diz-me o contador que está lá em baixo.

Obrigada a todos, sejam brisas suaves ou nortadas mais agrestes. Começo a sentir uma certa responsabilidade em tudo o que digo aqui...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Grande Rita

(Mania de você - Rita Lee e Milton Nascimento)

Tratamento psi


A nova empregada de uma amiga minha era uma ucraniana robusta e de ar simpático, dessas que vieram parar ao nosso país em busca de uma vida mais parecida com a de um Ocidente romantizado pelo velho "mundo vermelho". Psicóloga. Pelo menos era o que ela dizia ser, que a minha amiga não tinha maneira de confirmar-lhe o curriculum nem estava muito interessada nisso: aparentemente, gostava dos miúdos e parecia entender-se bem com eles (são quatro, dos 4 aos 12 anos) e isso era tudo o que lhe parecia importante saber. Mas um dia, ao chegar a casa mais cedo do que o habitual, encontrou o Miguel (7 anos) a chorar copiosamente. Não era costume. Sem conseguir arrancar-lhe uma explicação para aquele pranto, perguntou aos outros o que se tinha passado. A resposta da Maria (4 anos) foi a única imediata: "Foi a Lluba que lhe deu um estaladão, mãe. E o Miguel agora está com um traumatismo ucraniano".

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Keep it simple

Para hoje, um clássico eterno: Love, de John Lennon.

Para quê complicar o que é simples?

Love is real, real is love

Love is feeling, feeling love

Love is wanting to be loved

Love is touch, touch is love

Love is reaching, reaching love

Love is asking to be loved

Love is you, you and me

Love is knowing we can be

Love is free, free is love

Love is living, living love

Love is needing to be loved

(Nota: Uma sugestão musical encontrada nesta especialista em Beatles.)

Paz podre

Não é de agora a minha decepção com os critérios que, nos últimos anos, têm presidido à atribuição do Nobel da Paz. Do inicialmente alto grau de exigência que reconhecia feitos de personalidades extraordinárias (no sentido de "invulgares") ao serviço de causas inequivocamente dedicadas ao bem da Humanidade, de uma forma altruísta, passou-se a uma moeda de troca política, conveniente e adaptada às circunstâncias.
Eu sei que figuras como Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela, Gandhi (que nunca o recebeu, apesar das sucessivas nomeações...), Martin Luther King ou Muhammad Yunus, para citar alguns nomes, não aparecem todos os dias. Mas era preferível que o prémio não fosse atribuído sempre que não houvesse, para recebê-lo, alguém deste nível. Juntar no mesmo saco, a estes nomes, os de políticos que se limitam a fazer o trabalho para que são (bem) pagos, movidos quase sempre por uma legítima (mas não premiável) ambição pessoal, é, quanto a mim, desvirtuar o próprio espírito do Nobel e fazê-lo descer ao nível da mediania reinante. Por isso o Nobel da Paz deixou de merecer o meu respeito, de há uns tempos para cá.
Os políticos que continuem a medalhar-se alegremente uns aos outros, e que tirem disso os dividendos esperados. Para mim, não valem por isso nem mais um cêntimo. Muito pelo contrário.

DEUS

Às vezes sou o Deus que trago em mim
E então eu sou o Deus e o crente e a prece
E a imagem de marfim
Em que esse deus se esquece.
Às vezes não sou mais do que um ateu
Desse deus meu que eu sou quando me exalto.
Olho em mim todo um céu
E é um mero oco céu alto.

(Fernando Pessoa)


(Imagem - Salvador Dali)



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

La niña Concha

(Concha Buika - Mi niña Lola)
Concha Buika, uma voz que descobri há pouco tempo e que me deslumbrou como poucas, ultimamente. É guineense (!) de origem, e canta num surpreendente registo de "flamenco", com uma alma gitana que não sei de onde lhe vem. Joaquín Sabina, sempre atento, trouxe-a para os palcos espanhóis. Depois disso, tem sido a glória. Merecidíssima, não acham?

No arame

A vida é um arame sem rede.
A rede é um arame sem vida.