Ordinariamente todos os Ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?
Estas palavras poderiam ter sido escritas por qualquer um - salvo as devidas distâncias - quanto ao sentimento de desencanto que exprimem pela classe política, na sua generalidade. Seriam naturais a todos os que sentem essa desilusão e seriam muitos os que as escreveriam hoje, não derivando daí nenhuma catástrofe.
Catastrófico, tsunâmico mesmo, é o facto de este pensamento ter mais de 140 anos e ter sido escrito pelo bom do Eça (esse, de Queirós), em 1867, num artigo no Distrito de Évora, comentando o desalento, já então, sobre a qualidade dos (des)governantes da época.
É a (infelizmente) curiosa actualidade deste sentimento ancestral, em relação aos políticos de hoje, que me fez sorrir quando o li primeiro (ah! afinal não é de agora) e, a seguir, quando o reli, me fez reflectir com tristeza. Estava a ver um retrato actual, mascarado a preto e branco ou em tons sépia esbatido.
E vieram-me à memória, em catadupa, os Portucale, Moderna, BCP, o recentíssimo alegado golpe palaciano dos terrenos do Casino de Lisboa, tantos que, de repente, lhes esquecemos os nomes, mas não conseguimos deixar de sentir o amargo na boca, mal ressacados depois de uma noite longa de mau vinho.
Mas lá vamos, daqui a um ano, cumprir o nosso dever(zinho) cívico, dar o nosso contributo à democracia(zinha), continuar a engordar os porquinhos que se enchem nas nossas barbas e à nossa custa, sem o mais pequeno pudor!
Até quando, Eça, até quando?
Estas palavras poderiam ter sido escritas por qualquer um - salvo as devidas distâncias - quanto ao sentimento de desencanto que exprimem pela classe política, na sua generalidade. Seriam naturais a todos os que sentem essa desilusão e seriam muitos os que as escreveriam hoje, não derivando daí nenhuma catástrofe.
Catastrófico, tsunâmico mesmo, é o facto de este pensamento ter mais de 140 anos e ter sido escrito pelo bom do Eça (esse, de Queirós), em 1867, num artigo no Distrito de Évora, comentando o desalento, já então, sobre a qualidade dos (des)governantes da época.
É a (infelizmente) curiosa actualidade deste sentimento ancestral, em relação aos políticos de hoje, que me fez sorrir quando o li primeiro (ah! afinal não é de agora) e, a seguir, quando o reli, me fez reflectir com tristeza. Estava a ver um retrato actual, mascarado a preto e branco ou em tons sépia esbatido.
E vieram-me à memória, em catadupa, os Portucale, Moderna, BCP, o recentíssimo alegado golpe palaciano dos terrenos do Casino de Lisboa, tantos que, de repente, lhes esquecemos os nomes, mas não conseguimos deixar de sentir o amargo na boca, mal ressacados depois de uma noite longa de mau vinho.
Mas lá vamos, daqui a um ano, cumprir o nosso dever(zinho) cívico, dar o nosso contributo à democracia(zinha), continuar a engordar os porquinhos que se enchem nas nossas barbas e à nossa custa, sem o mais pequeno pudor!
Até quando, Eça, até quando?
Pedro Silveira Botelho
(Imagem: Chema Madoz - fotografia)
9 comments:
Ana, aqui que ninguém nos ouve... Fantástica colaboração que tu arranjaste! Vê lá não o deixes fugir...
Agora para o PSB: digamos que acabou por fazer uma crónica queirosiana mesmo... inteligente, atenta e perspicaz a este país de eternos 'inhos' e do 'isto já não vem de ontem'... Que mais poderei dizer?
Beijinhos
O que eu vou dizer talvez seja polémico, mas acho que os portugueses só funcionariam bem com um ditador. Do que serviram 33 anos de democracia? Para nada! As pessoas votam ao sabor do vento e a participação cívica dos portugueses é menos que nada.
Temos o país que merecemos...
Bom fim de semana!
Sofia: o Porta do Vento, como o nome indica, é uma porta de total liberdade. Só assim faz sentido e é assim que eu gosto. O Pedro estará por cá enquanto quiser e se sentir bem. Por mim ficará eternamente, mas só ele é que pode responder-te.
Capitão: é polémico, sim, mas eu subscrevo o que dizes, embora com tristeza. Já os generais romanos que vieram para cá disseram a Júlio César que éramos "um povo ingovernável", e não acho que muito tenha mudado desde aí, infelizmente. Gostamos sempre de arranjar culpados para tudo o que não fazemos ou nos corre mal, e queixamo-nos muito mas não estamos para contribuir para as mudanças que queremos, porque isso dá muito trabalho. Somos assim. Com algumas características notáveis, e outras muito dispensáveis, que nos prejudicam imenso como povo.
Não defendo ditaduras em nenhum caso, mas concordo que uma democracia plena não nos tem feito muito mais participativos...
beijo
Sofia
Infelizmente vivemos num País(zinho) de opereta... mas a culpa é só nossa.
Beijinhos
Capitão
Infelizmente também, concordo consigo e com a Ana. Já houve quem tenha dito que 'não temos que mudar de políticos, mas sim de portugueses'...
Nesta perspectiva, está tudo dito.
Um abraço
Queridos Amigos,
um ditador de que serviria? Morto o homem, logo o epígono faria tudo ao contrário. Vão por mim, só a Monarquia Tradicional nos pode salvar.
Beijinhos e abraço
as pessoas votam por clubismos - são PS,PSD ou PCP até à morte, mesmo que estes os desiludam e saibam lá no fundo que os mesmos não correspondem às espectativas.
Nascem Benfiquistas, Socialistas, e assim permanecerão para que os laços com o "clube" não se quebre.
Em trás-os Montes é assim, no Minho e Douro idem,idem,aspas,aspas...
Muito bom, o texto!
Lembro-me que há muitos anos, num curso que fiz , o formador parafraseou alguém dizendo qualquer coisa como isto: " Os jovens desta geração estão perdidos: não estudam, não trabalham , não respeitam. No meu tempo é que era...."
Deu-nos então a escolher 3 contextos temporais em que a frase terá sido proferida: 15 anos; 150 anos e 1500 anos. Optámos quase todos pelas duas primeiras hipóteses. Errámos, claro. A frase é da autoria de um qualquer filósofo da cultura clássica.
O pessimismo e o desencanto em relação à natureza humana é de sempre. Eu, com a idade, vou tendo temdência a comportar-me de maneira contrária a este paradigma. Acho que os meus filhos são bem melhor que eu.Por isso vejo o futuro com optimismo.
E mais uma vez o dedo na ferida, caro Pedro. As nossas idiossincrasias, as nossas fraquezas. E a nossa incapacidade de reagir à adversidade com alguma acção, uma característica tão portuguesa.
Um abraço.
Querido Réprobo, espero que não considere uma provocação o meu post sobre os monárquicos do meu jantar. Não é, nem podia ser: a sua cabeça está a anos-luz da deles!
Anyway, o brinde que lhe faço pelo primeiro aniversário também é para atenuar a minha indelicadeza...
Um beijinho
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