quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Sem rede


Amigos:
Continuo sem net ainda, por isso não tenho aparecido nem respondido às mensagens. Passei hoje por aqui, numa corrida, mas não tenho tempo para mais do que deixar esta explicação. Amanhã, em princípio, já virei aqui com mais calma. E já com rede, espero.



quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Na minha, não!



Como não tenho tempo para escrever, faço minhas todas as palavras do FAL, do Corta-fitas.
E só acrescento: há pelo menos uma casa neste país, senhor primeiro ministro, onde o seu convidado-maravilha não será recebido: a minha.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O mundo é composto de mudança




Para satisfazer curiosidades, é para aqui que vou. A casa não é nova (tem mais de um século), mas... não, não é nenhuma das que estão nas fotografias de cima.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Com a casa às costas


Meus amigos, nos próximos dias não haverá novos posts.
Estou na fase final da minha mudança de casa, por isso podem adivinhar o caos que aqui vai!
Mas vou passando por aqui de vez em quando (não resisto), sobretudo à noite.
De dia, sou um caracol...
Fiquem bem. A bientôt.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Amor # Paixão (5)

O amor embala.
A paixão sacode.


(Elton John - We all fall in love sometimes)

domingo, 18 de novembro de 2007

Something in the way they sing

Curiosidade de Domingo (já quase segunda-feira...): o videoclip de SOMETHING, uma das músicas dos Beatles de que eu mais gosto. Encontrado nesta fã incondicional dos 4 magníficos.
Boa semana!

In the wind

(Katie Melua - Blowin' in the wind)

How many roads must a man walk down, before you call him a man?

How many seas must a white dove sail, before she sleeps in the sand?

How many times must the cannon balls fly, before they're forever banned?

How many times must a man look up, before he can see the sky?

How many ears must one man have, before he can hear people cry?

How many deaths will it take till he knows that too many people have died?

How many years can a mountain exist, before it's washed to the sea?

How many years can some people exist, before they're allowed to be free?

How many times can a man turn his head, pretending he just doesn't see?

The answer, my friend, is blowin' in the wind.

(Bob Dylan)

sábado, 17 de novembro de 2007

Campista ilustre


Preocupa-me o dilema de protocolo do MNE com o sítio onde instalar a tenda de Kadhafi, já que o homem se recusa a dormir debaixo de telha.
Por isso, aqui fica o meu humilde contributo para resolver o problema que tanto atormenta a Missão da Presidência da UE: uma lista dos parques de campismo do distrito de Lisboa. Todos com águas correntes, quentes e frias. Até junto os números de telefone para uma reserva prévia, não vá dar-se o caso de não haver vaga. Se nenhum destes servir, talvez o INATEL. Pronto, pronto, não me agradeçam. Temos que ser uns para os outros.
Alenquer
Alenquer Camping
263 733 224
Cascais
Guincho (Orbitur)
214 857 019
Ericeira
Mil Reguengos (Parque Municipal)
261 862 513
Lisboa
Lisboa Camping
217 623 100
Lourinhã
Areia Branca (Parque Municipal)
261 412 199
Mafra
Sobreiro
261 815 525
Sintra (Colares)
Praia Grande
219 290 581
Vila Franca de Xira
Vila Franca de Xira
263 275 258

Dia de...


Lá se passou mais um dia de...
Parece que hoje foi o do não-fumador. Eu já deixei de fumar há 8 anos, mas jurei a mim própria que não me tornaria num desses fundamentalistas insuportáveis prontos a matar, a rajadas de metralhadora, se puderem, quem ainda não se libertou do vício.
Claro que os ambientes despoluídos são mais saudáveis, claro que fumar não é bom para ninguém, claro que os fumadores passivos são injustiçados. Mas não consigo deixar de ver, em alguns desses irredutíveis ex-fumadores, a frustração de ter perdido um prazer e, até, uma certa inveja dos que consideram suicidas e inconscientes. Pior ainda: uma certa pose farisaica, de quem se acha superior por ter substituído o vidro dos seus telhados por uma resistente chapa de zinco, e está pronto a atirar pedras aos cristais alheios, por se saber a salvo de represálias.
Enfim, não defendo o tabaco. Sei que é francamente prejudicial à saúde, que pode matar a longo (e às vezes a curtíssimo) prazo. Mas reconheço aos outros o direito a um vício que - ainda me lembro muito bem - dá um enorme prazer. Se querem viver ou matar-se assim, quem sou eu para dizer-lhes que não o podem fazer? Sejamos justos: o tabaco não é um serial killer solitário, na cruzada contra os humanos: o stress, a solidão, a falta de dinheiro, o excesso de trabalho, a poluição e, sobretudo, a ausência de perspectivas de um futuro mais risonho, formam um gang letal. E estamos (quase) todos nas mãos deles.
Por isso, em mais um estúpido "dia de" que alguém inventou, só tenho a dizer: parabéns aos que não fumam, nunca fumaram ou já deixaram de fumar, e... boas baforadas aos restantes, e que dêm uma ou duas por mim. E remato com uma sábia frase de Agustina Bessa Luis, que diz quase tudo:

Não há império maior do que o que se tem sobre os vícios dos outros.

(ABL, in Prazer e Glória)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Amor # Paixão (4)


O amor sabe.
A paixão inventa.

(Jacques Brel - Quand on n'a que l'amour)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Topo de Gama


Na mesa de café ao lado da minha, duas adolescentes típicas: muitos risinhos abafados, muitos olhares de esguelha, muitos sinais em código. E uma conversa em tom velado, entrecortada por suspiros e gargalhadinhas nervosas.
Fico curiosa e sigo-lhes as olhadelas disfarçadas, para ver a causa de tanta agitação: lá está ele, um patético don juan de quinze anos, de calças a escorregar pelo rabo inexistente, borbulhas indisfarçáveis e uma melena oleosa. Sozinho, ao balcão, parece "da casa" pelo à vontade da pose. Olha de vez em quando as miúdas, ostensivamente, com um ar distante e castigador (o mais aproximado que consegue do martini boy da fantasia delas) e a coisa parece estar a correr-lhe bem. O crescendo de excitação que provoca é evidente para qualquer um. Às tantas, uma delas não se contem e comenta, de modo a que ele a oiça:
- Ó pá, Tânia, o gajo é mesmo topo de gama!
Volto a olhar o casanova de pacotilha em versão imberbe - deliciado, é claro, com o efeito dramático do seu infinito charme - depois as miúdas, e pergunto-me muito seriamente se também eu já terei feito, um dia, estas figuras. Claro que fiz: talvez não tão explícitas, que os tempos eram outros, mas naquela idade as hormonas mandam em nós como gente grande. Saio a sorrir e a pensar com os meus botões:
Topo de gama??? Topo de Gama era o Vasco!

Amor # Paixão (3)

O amor é tacto, em sentido figurado.
A paixão é tacto, em sentido literal.

(O meu amor - Ópera do Malandro)

Em vias de extinção

Imagine um lugar onde se pode ler gratuitamente as obras de Machado de Assis, ou A Divina Comédia, ou ter acesso às melhores historinhas infantis de todos os tempos. Um lugar que lhe mostra as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci. Onde se pode escutar músicas em MP3 de alta qualidade. Pois esse lugar existe!

O Ministério da Educação do Brasil disponibiliza tudo isso, basta aceder o site:

Só de literatura portuguesa são 732 obras! Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desactivar o projecto por falta de uso, já que o número de acessos é muito baixo. Vamos tentar reverter esta desgraça, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura.
Nota: Recebi esta mensagem de um amigo, por e-mail, e publico-a aqui por me parecer importante a sua divulgação. O site é do governo brasileiro, mas todos nós podemos utilizar esta ferramenta. Aconselho uma visita. Ou melhor: muitas, para que não acabe.

Heavy Chávez Remix

Para acabar de vez com este assunto, aqui está uma boa ideia: em vez de falar nele... dançá-lo! Chávez presta-se, convenhamos: é heavy em vários sentidos. E o remix assenta-lhe como uma luva.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Amor # Paixão (2)

O amor é um cruzeiro no Mediterrâneo.
A paixão é uma estadia na faixa de Gaza.
(Joaquin Sabina - Contigo)

Ementa de luxo


Quando Oscar Wilde contou à escritora Ada Leverson que havia um membro da ralé parisiense que andava a persegui-lo com uma faca na mão, ela respondeu-lhe: "Humm, aposto que ele tinha um garfo na outra!".

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Amor # Paixão (1)

Começa hoje, aqui no Porta do Vento, uma série de curtas a que chamarei AMOR # PAIXÃO.

Podem ser lidas como pequenas provocações, ou apenas como matéria para reflexão. Vou ilustrá-las com músicas que venham a propósito (não será difícil encontrá-las, já que o amor e a paixão devem ocupar, seguramente, 90% das letras das canções, desde sempre). Gostava muito que os meus leitores/comentadores não fossem preguiçosos e contribuíssem com as suas sempre sábias opiniões para este debate. Pode ser? Aqui fica a primeira, então:
O amor é um estado de alma.
A paixão é um estado de corpo.
(Rita Lee - Amor e sexo)

Um presente


Há dias, tive um presente muito especial: uma agenda para 2008.
Mas não é uma agenda qualquer. Nada disso. É daquelas que guardamos religiosamente, e que continuamos a abrir muito tempo depois de aquelas datas baterem certas com os dias da semana. Muito tempo depois de termos enchido aquelas páginas de anotações, lembretes, pensamentos, contas, ideias.
Não é uma agenda qualquer. É o Culinário 2008*, ainda virgem dos meus escritos e já muito bem recheado de petiscos a pedirem para serem feitos e apreciados: uma receita por cada dia do ano, e todas apetitosas.
Obrigada, Sofia.

*(da Assírio & Alvim)

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Os palhaços de serviço


Não deixa de ser irónico que tanto a esquerda como a direita internacionais tenham, hoje em dia, os seus "palhaços de serviço".
Até agora era Bush o bobo da corte "a pedido", fornecendo um inesgotável manancial de gaffes e constrangimentos, para grande gáudio da esquerda. Mas eis que apareceu Chávez, e as forças equilibraram-se em termos de ridículo. O que me parece saudável, porque isso afasta a tentação de se usarem argumentos falaciosos e obriga os políticos e comentadores a centrarem-se no que realmente interessa. Sem batotas fáceis, já que há telhados de vidro de ambos os lados.
Imagens: George Bush (via Causa Nossa); Hugo Chávez (via Arrastão)

Ó Zé! Isso não foi nada porreiro, pá!

Se o primeiro ministro lhe estender a mão, não ligue. Disfarce. Pegue num croquette, baixe-se para atar um sapato, assobie para o lado. Qualquer coisa, mas disfarce. Porque vai ficar de mão estendida, feito parvo, a não ser que não haja ninguém mais por perto.

domingo, 11 de novembro de 2007

Castanhas de S. Martinho


Mesmo com este calor e a 1€ a meia dúzia (inacreditável, não é?) é obrigatório comer castanhas hoje. É uma tradição, e esta, para mim, ainda é o que era. Talvez só porque gosto muito de castanhas assadas. E já que se fala em tradição, aqui ficam alguns ditos populares sobre este petisco de S. Martinho:
• A castanha tem uma manha, vai com quem a apanha.
• Castanha que está no caminho é do vizinho.
• Castanhas do Natal, sabem bem e partem mal.
• Da castanha ao cerejo, mal me vejo.
• No dia de São Martinho, há fogueiras, castanhas e vinho.
• Na família da castanha o pai é pingão, a mãe é raivosa e a filha é amorosa.

Puerta di Wind


Hoje é domingo, dia de ócio por excelência. E também de fazer coisas fúteis para encher o tempo. Talvez por isso, lembrei-me de um exercício que me diverte pelo absurdo: usar o tradutor Google que instalei neste blogue, para saber o que lê aqui quem não fala português. Porque "que los hay, los hay". Já tenho recebido mails de estrangeiros comentando o que lêm, dando sugestões, criticando, etc. E é aí, exactamente, que está o problema: no que eles lêm, auxiliados por esta ferramenta perversa e delirante, que distorce tudo e pensa por mim, alterando o sentido daquilo que escrevo.
Vou mostrar-vos. Pego num parágrafo qualquer (por exemplo, o primeiro do post anterior) e traduzo-o para 4 línguas: francês, espanhol, italiano e inglês. Vejam o resultado. Depois disto, nem me atrevo a adivinhar o que acontece com línguas mais distantes da nossa, como o chinês, o sueco ou o árabe.
Nota: Tomei a liberdade (como dizia o Ambrósio à Mme Ferrero Rocher) de salientar as partes mais cómicas das traduções. Reparem, para começar, na tradução sempre criativa de um título simples - De A a Z)
1. Francês (frenchman, como chama o tradutor à língua de Molière) - De à Z

Si j'avais qu'il apprendra toutes les leçons de vie dans une heure et demie, ainsi que dans une espèce de cours intensif et désespéré, choisirait probablement le film « Ryan's daughter », de David Lean. Il est là tout : le Bien, le Mal et tout ce qui a in between, montrés d'une manière il sublime.

(Apesar do título e dos erros de construção, pas mal. É bastante legível.)

2. Espanhol (spaniard, para o Google) - De un Z

Si tuviera eso para aprender todos los lições de la vida sobre una hora y media, tan bien como en una especie del curso intensivo y desesperado, elegiría probablemente la película elRyan a la hija”, de la inclinación de David. Es todo allí: el bueno, el mal y todo qué tiene entre, demostrado en una manera de la sublimación.
(A melhor, aqui, é a "inclinación de David". Para que lado se inclinará o David, na terra de nuestros hermanos?)
3. Italiano - Di una Z
Se avessi quello per imparare tutti i lições di vita in un'ora e calza, come pure in una specie di corso intenso e disperato, sceglierei probabilmente la pellicola “il Ryan alla figlia„, della magra di David. È tutto là: il buon, malvagità e tutto che cosa ha fra, indicato in un senso di sublimazione.
(Além da pérola "della magra di David", um verdadeiro mistério de identidade, a deliciosa "un'ora e calza". Como a fotografia que acompanha o texto é de umas botas, talvez o Google se tenha inspirado nela)
4. Inglês (a jóia da coroa, já que é a língua-mãe do Google) - Of a Z
If I had that to learn all the lições of life in one hour and stocking, as well as in a species of intensive and desperate course, I would choose probably the film “Ryan's to daughter”, of David Lean. It is everything there: the Good, the Evil and everything what it has in between, shown in a sublime way.
(Neste caso, acrescento à brincadeira a citação de David Lean, para verem como este tradutor endiabrado não reconhece a sua própria língua e consegue dar-lhe a volta):
"My distinguishing talent is the ability you put people to under the microscope, perhaps you go one or two layers to farther down than adds to other directors. I've just begun you dare you think I perhaps am the bit of an artist. “

(Outra vez as meias. "One hour and stocking" será um espaço de tempo razoável para aprender lições of life? E vejam como é espantoso como o próprio inglês se auto-destrói, no título do filme.)
Por último, só uma gracinha. Pode estar cheia de erros, mas é uma escrita linda:
لكلّ إيمبرر تثتّي إي ليس دي فيتا في أون'ورا و كلزا, يأكل هو صافية داخل يتلاقى سبس دي كرس شديدة وديسبرتو, أنا إرادة سغليري بروببيلمنت هناك بلّيكلا "إيل فيغرن ألّا„, دلّا دي هزيلة دايفيد. تثتّو ل: إيليخيط بوون, ملفجت و تثتّو ش ها فرا, إينديكتو داخل منظّمة الأمم المتّحدة إحساس دي سوبليمزيون
E é assim este mundo misterioso das traduções do Google. Mas não é tudo mau: no fim de cada página traduzida existe, muito humildemente, um mea culpa que lhe fica bem. Diz isto: "This is a computer translation of the original webpage. It is provided for general information only and should not be regarded as complete nor accurate."
Vá lá... Tirando o fétiche das meias, o tradutor até tem a noção das suas limitações.

De A a Z


Se eu tivesse que aprender todas as lições de vida numa hora e meia, assim como numa espécie de curso intensivo e desesperado, escolheria provavelmente o filme "Ryan's daughter", de David Lean. Está lá tudo: o Bem, o Mal e tudo o que há in between, mostrados de uma maneira sublime.
Acabei agora mesmo de revê-lo pela enésima vez, e emocionei-me como da primeira. Ou mais ainda, porque é daquelas histórias que nos ensinam sempre mais qualquer coisa, que têm uma reserva inesgotável de surpresas por revelar. Ou talvez sejamos nós que vamos mudando com o tempo e vendo, com o nosso novo olhar de cada momento, uma realidade diferente. O que sei é que David Lean - embora muito pouco modesto - teve toda a razão quando disse:
"My distinguishing talent is the ability to put people under the microscope, perhaps to go one or two layers farther down than some other directors. I've just begun to dare to think I perhaps am a bit of an artist."

sábado, 10 de novembro de 2007

Aperta o papo

Pelas notícias da televisão, acabo de saber que Portugal já tem as suas máfias nocturnas, infelizmente bem organizadas e ameaçadoras. Pena que a tão apregoada segurança portuguesa, que fazia deste país uma espécie de paraíso na Europa, comece a desvanecer-se e a dar lugar a uma criminalidade cada vez mais frequente, de consequências cada vez mais graves. Pena. Era muito boa a sensação de poder sair sem medo (mesmo sozinha) a qualquer hora, de qualquer lugar da noite lisboeta. Isso, dizem-me, está a começar a tornar-se impossível.
Mas o que mais me chamou a atenção na notícia (desculpem, tenho um fraquinho pelo ridículo...) foi o nome do mais perigoso gang da noite alfacinha: "Aperta o papo"!!! Mesmo a despropósito, não consegui evitar uma gargalhada. Lembrei-me daquela velha cantiga, que dizia qualquer coisa como "Ó Zé aperta o laço, que o laço bem apertado, ai, ó José, fica-te bem" e imaginei logo uma cena do gang em acção, os mafiosos de lacinho ao pescoço e farpela domingueira, como se tivessem saído de um filme do António Silva ou de uma revista do Bordalo. Ou talvez, melhor ainda, assim como uns sucedâneos do Dâmaso Salcede do Eça, emproados e oleosos, com gestos falsamente elegntes e pose saloia.
Não sei porque carga de água um gang que pretende intimidar e dar-se ao respeito, vai escolher um nome destes. É ridículo. Dá, às vítimas, vontade de rir!
Tenham lá paciência, tudo menos "aperta o papo"! Só mesmo os portugueses, que não têm jeito para a violência (a não ser a caseira, bem regada a bagaço). Assim não metem medo a ninguém...

CHI-LE-NOS


Existe uma embirração estranhíssima entre os presidentes da república portugueses e o povo do Chile: primeiro foi Jorge Sampaio, que chamou cubanos aos chilenos. Agora, Cavaco Silva chamou-lhes chineses!!!
Meus senhores, soletrem comigo, devagarinho:
C-H-I-L-E-N-O-S.
Vá, outra vez. Agora com sílabas:
CHI-LE-NOS.
Isso mesmo. Pronto. Viram que não é difícil?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Cais das Colunas


Em época de efemérides, o Torquato da Luz lembrou-me, com este belo poema, uma questão que também me inquieta e sobre a qual já falei aqui: as novas "obras de Santa Ingrácia" do Terreiro do Paço, que nos levaram da vista o saudoso Cais das Colunas:


Sobre ser belo, tinha
uma aparência de eternidade
que lhe advinha,
não da idade,
mas da quase-irrealidade
com que marcava a linha
de rosto da cidade.
Hoje é apenas um monturo,
um lugar triste e abandonado,
ao qual roubaram o passado
e recusam o futuro.
E é de temer que o novelo
do tempo que tenho pela frente
não seja suficiente
para voltar a vê-lo.
Como lembrou, e muito oportunamente, um comentador do Ofício Diário , quem disse que a poesia não pode ser útil?
(Fotografia de Annie Assouline)

10.000

Em 6 meses, 10.000 visitantes passaram por esta Porta do Vento.
Quem diria?

Alice no país dos hai-kais



Alice Ruiz: querida amiga, poeta, letrista e mestra de hai-kai, essa subtilíssima arte da palavra fotográfica. Chamo-lhe assim porque um hai-kai é o registo de um momento, imobilizado e fixado para sempre, como numa fotografia (não sei se a definição será muito ortodoxa, mas é assim que eu vejo esta forma de poesia).
O disco Paralelas é o belo resultado de uma parceria bem sucedida: Alice e Alzira Espíndola, letra e música, respectivamente. Além das vozes de ambas (falada a primeira, cantada a segunda), também as de Zelia Duncan e Arnaldo Antunes, a fazer deste trabalho um registo memorável.
Aqui ficam alguns exemplos do talento de Alice (escolhi-os do livro Desorientais, uma recolha exaustiva dos hai-kais da poeta) :







lembra aquele beijo
corpo alma e mente?
pois eu esqueci completamente
*
dançamos em pensamento
a dança dos anos
que nos devemos
*
roubaram a casa
as moscas ficaram
às moscas
*
o menino me ensina
como um velho sábio
o quanto sou menina
*
à beira do insuportável
essa qualidade rara
ser insubordinável
(Alice Ruiz, in Desorientais)


(Alzira Espíndola e Zelia Duncan, cantando uma letra de Alice - É só começar - do Paralelas)

É só começar
ninguém precisa
ter talento
p'ra transformar
caso em descaso
já o contrário
é que é o caso
se você não tem, lamento
é preciso ser forte
é preciso ser fraco
é preciso ganhar
e perder o juízo
sai dessa pose
pára de pensar no prejuízo
e segue em frente
tem hora p'ra chegar
tem hora p'ra se afastar
não sabe como?
é só começar

Cinema no Estoril


O realizador Pedro Almodôvar foi muito justamente homenageado no novíssimo festival de cinema do Estoril.
Sei que estou a repetir-me, mas acho que quem inventa e dá vida a uma história como Hable con ella merece todas as honrarias. Não estou a esquecer os seus outros filmes: foram muitos e bons, num conjunto invulgar de qualidade e densidade dramática. Mas este, em particular, é uma obra prima. Não só de Almodôvar, não só do cinema espanhol, mas da História do Cinema.
Digo eu, e tenho a certeza de que não sou a única.
Nota: A beijoca na bochecha do Pedrito é minha. Pus baton encarnado de propósito para o efeito...
Adenda: Cito aqui uma notícia do Nuno Lopes, da Lusa, relativa a este tema. Diz ele:
"Lisboa, 09 Nov (Lusa) - Pedro Almodóvar afirmou hoje, no Estoril, que se alguma vez filmar fora de Espanha, será em Portugal, pois sente-se fascinado pela língua e cultura portuguesas. O realizador falava num encontro com público no Teatro-Auditório do Casino Estoril no âmbito do European Film Festival, inaugurado quinta-feira. O cineasta afirmou que se sente "estimulado" a criar em Madrid, até porque nos seus arredores estão os seus amigos artistas, mas confessou que tem vontade de rodar em Portugal.
"Gosto da música portuguesa, da sonoridade da língua, da cultura e da vossa maneira de estar", declarou. "Sinto que somos próximos, mas não irmãos gémeos", acrescentou. O realizador usou de sentido de humor para quebrar a timidez da audiência que hoje, ao final da tarde, se reuniu no Estoril para o questionar sobre a sua filmografia. Estudantes de cinema, público que se tornou fã incondicional dos seus filmes e alguns curiosos encheram o auditório do Casino Estoril para perguntar qual o filme de que mais gostava, a personagem favorita ou onde encontrava inspiração. Quanto à inspiração "é tudo", respondeu o realizador sem hesitar, e prosseguiu: "ela não surge como uma revelação, estou a tomar café e as notícias do 'Telediario' despertam-me histórias, assim aconteceu com o filme 'Saltos altos'".
Quanto aos filmes favoritos afirmou sentir-se "mais próximo" dos que rodou de 2000 até hoje. "A postura é a mesma, escrevo e faço-o com paixão, desfruto e sofro muito, mas a paleta de cores muda", disse. "Mas identifico-me com todos, os primeiros em que era mais jovem e os mais recentes, em que estou na meia-idade", disse Almodôvar suscitando um gargalhada na sala. Quanto a personagens, referiu o enfermeiro Benigno de "Fale com ela", que vive num mundo paralelo ao mundo real. Outra questão colocada pela sala foi a importância da música nos seus filmes. O cineasta afirmou que ela "é orgânica, pois faz parte do guião. Um elemento essencial, não truculento na medida em que não provoca sentimentos, mas explica as personagens. É um elemento activo no guião", disse. Quanto à música confessou-se um admirador de Rodrigo Leão e, em tom humorístico, afirmou que se os portugueses contratassem um comando para matar o seu director musical, Alberto Iglesias, escolheria o músico português. O realizador afirmou-se "fascinado" pela música portuguesa, realçando não só Rodrigo Leão como Bernardo Sassetti e "a descoberta" que foi Camané. Estes músicos integraram quinta-feira à noite o programa da gala de abertura do European Film Festival, a decorrer até 17 de Novembro no Estoril, e no âmbito do qual se realizou este encontro com o público. Camané foi a "descoberta do fado no masculino", disse o realizador, um fã confesso de Amália Rodrigues. "O fado muda cantado por um homem", sublinhou.
A sala questionou ainda o cineasta sobre o seu universo feminino e projectos futuros. A explicação para a forma como aborda o universo feminino foi buscá-la à sua infância "rodeado de mulheres". Ouvia-lhes as histórias, os comentários, estava rodeado delas: mãe, tias, primas, irmãs e vizinhas. "Quem nunca ficou à guarda de uma vizinha? - questionou o cineasta - na minha terra os homens iam trabalhar e nós ficávamos com as mulheres". Um universo de "mulheres fortes, do pós-guerra e a quem muito devemos", rematou.
Quanto a projectos futuros há "La piel que habito" que deverá começar a rodar dentro de um ano e um outro de que não quis revelar o título. Almodóvar explicou que "hoje em dia, num mundo complicado de direitos de autor, não vou adiantar o nome". O realizador explicou esta sua posição "pois assim que revelámos o título de 'Volver' [o seu mais recente filme] alguém se registou na Internet e ainda hoje se anda em demandas". A conversa foi pautada por gargalhadas, muitos elogios da assistência ao realizador e pedidos de desculpa por "falar em portuñol". Um dos elogios foi do ex-primeiro-ministro e ex-ministro dos Negócios Estarngeiros da França, Dominique de Villepin, que participa também neste primeiro Festival, no âmbito do qual profere no domingo uma conferência sobre "A política, a Cultura e os Artistas".

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Bicicletas VI


Yves Montand - La bicyclette

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Do surrealismo aéreo nacional


«Na tentativa de fazer um fim-de-semana prolongado diferente, um amigo meu - vou chamar-lhe P. - decidiu vir a Bruxelas na passada quinta-feira. Para tanto, comprou um bilhete de avião de ida e volta à TAP (o surrealismo começa aqui, está-se mesmo a ver) para um voo que, saindo cedinho de Lisboa, aterrava em Bruxelas às 11h30 da manhã, hora local.
Assim, apresentou-se no check-in do aeroporto de Lisboa cerca das 6h30 da manhã. Porque é portador de uma deficiência motora, o P. desloca-se numa cadeira de rodas, tendo sido necessário fornecer-lhe assistência para o levar até ao avião. Feito o check-in, apareceu um senhor bagageiro para desempenhar a tarefa.Foi conduzido através do aeroporto, mas não pela normal zona de embarque. Passou no raio-x usado pelas tripulações e viu-se do lado de fora do aeroporto, tendo sido transportado até ao avião à segunda tentativa do bagageiro de pôr uma carrinha a trabalhar (a primeira não tinha bateria, pois tinha sido deixada com as luzes acesas durante toda a noite).
Após a entrada no avião, sentou-se no lugar indicado no seu talão de embarque, mas, momentos depois, apareceu um segundo passageiro para o mesmo lugar. A situação foi prontamente resolvida pela hospedeira, pois havia muitos lugares desocupados. Fechadas as portas, o avião fez-se à pista e uma voz fez-se ouvir nos altifalantes, dando início ao pesadelo do P.: Senhores passageiros, fala-vos o comandante. Bem-vindos a bordo deste voo da TAP com destino a Zurique.
Sim, leram bem, não me enganei. O P. tinha sido empurrado até ao avião errado, nenhum elemento da tripulação tinha verificado o seu cartão de embarque, nem quando se levantou o problema dos dois passageiros para o mesmo lugar e conclui-se de que não servira de nada as hospedeiras terem andado para a frente e para trás a fingir-se muito concentradas a contar os passageiros, pois o avião ia descolar com um passageiro a mais. Isto diz muito acerca da competência das pessoas e das questões de segurança aérea, não diz?
Mas, continuando o impensável!...
Apercebendo-se de que estava no avião errado, o meu amigo informou uma hospedeira acerca do facto, mas a mesma disse-lhe que nada podia fazer, informando-o de que o avião estava mesmo quase a levantar voo. No entanto, a hospedeira garantiu que informaria o comandante que, por sua vez, deveria informar os serviços da TAP, em última instância os de Zurique, que deviam tratar do reencaminhamento do passageiro para Bruxelas.
Passaram-se três horas, que é sensivelmente o tempo de voo entre Lisboa e Zurique. Aterrado o avião, o P. telefonou a explicar o que lhe acontecera e eu, conseguindo ver na Internet que havia um voo Zurique-Bruxelas dali a 45 minutos, disse-lhe qual era o número da respectiva porta de embarque. Lá chegado, ele pôde constatar que nenhum funcionário da TAP tinha feito o que quer que fosse para reparar a falha cometida. Nas três horas de voo, ninguém lhe tinha reservado bilhete para Bruxelas, ninguém o esperava para o reencaminhar para outro voo, ninguém lá estava nem para um simples pedido de desculpas, para nada. A TAP despejou-o, pura e simplesmente, num país que não era aquele para o qual queria viajar. Foi a Suiça, mas podia ter sido o Brasil, os EUA ou Cabo Verde... Foi um adulto, mas podia ter sido uma criança.
Após vários telefonemas à portuguesa, para amigos dos primos das secretárias dos vizinhos dos porteiros das empregadas da limpeza dos administradores da TAP, lá conseguimos que duas antas se dignassem a contactar o P., a dar-lhe vouchers para almoçar e a informá-lo de que lhe reservariam um lugar no próximo voo, que chegaria a Bruxelas às seis da tarde.
Resta-me ainda contar que também foram surrealistas as respostas que obtive nos telefonemas que fiz para localizar a bagagem do P.. Entre outras pérolas, a menina o serviço de bagagens da TAP assegurou-me que as bagagens teriam seguido para Bruxelas. Quando lhe perguntei se não era verdade que, por razões de segurança, são retiradas dos aviões as bagagens dos passageiros que faltam ao embarque, ela respondeu-me que desconhecia esses procedimentos. Perceberam bem? O serviço de bagagens DESCONHECE os procedimentos RELATIVOS ÀS BAGAGENS nos casos de não embarque dos passageiros. Mas não está só. A senhora do balcão da TAP de Bruxelas, com quem também falei, que me disse que trabalha para a TAP HÁ VINTE ANOS, também me disse que, embora não mo podendo assegurar, também lhe cheirava que as bagagens tinham vindo no avião para Bruxelas. Aconselhou-me a meter-me no carro e a ir procurá-las no aeroporto de Bruxelas (coisa inteligente, que haveria de servir-me de muito, sem eu sequer dispor do número da bagagem...)
Sucede que eu, que nunca trabalhei para nenhuma companhia aérea, estava certa. A bagagem, que tinha sido colocada no voo para Bruxelas, teve de ser retirada do avião, devido à falta de embarque do passageiro. Por essa razão, o voo saiu de Lisboa com uma hora de atraso. Culpa de quem?...»
Encontrado aqui. Reproduzo na íntegra, porque estas coisas acontecem muito mais vezes do que deviam e são graves, por isso têm de ser divulgadas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Galináceos


Uma preocupante escassez de galinhas portuguesas foi notícia no DN, há poucos dias. Parece que, tal como aconteceu com os médicos, vamos ter que ir buscá-las a Espanha.
Francamente, não vejo razão para aflições, e acho mesmo que as estatísticas devem estar erradas: galinhas é coisa que não falta por cá, a avaliar pelos cacarejos imbecis que ouvimos todos os dias. Galos de poleiro também temos bastantes, por isso a produção de frangos e galarotes está assegurada, pelo menos para já.
E viva a "ovolução" da espécie!

domingo, 4 de novembro de 2007

Domingo

Domingo
escorre o dia, pingo a pingo.

Sedução na página 161


Por intermédio da Leonor Barros, do Geração Rasca, passou pela Porta do Vento a tal corrente blogosférica da "pág. 161". Antes de mais, agradeço à Leonor o simpático convite, e adiro à corrente com muito gosto. São estas as regras:
1. Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica acaso e não escolha.
2. Abra o livro na página 161.
3. Na referida página procure a 5.ª frase completa.
4. Transcreva na íntegra para o seu blogue a frase encontrada.
5. Passe o desafio a cinco bloggers (por minha conta e risco, aumentei para seis).
No livro que estou agora a ler - Como tornar-se doente mental, de J.L. Pio Abreu - a página 161 é uma das 8 da extensa bibliografia, por isso presumo que não conta. Assim, querendo manter as coisas com algum rigor e isenção, resolvi fazer o seguinte: dirigir-me à estante, apalpando as lombadas sem olhá-las, avaliando-lhes a espessura para excluir automaticamente os livros que não tivessem o número mínimo de páginas. O livro em que peguei, por este método, é uma espécie de "3 em 1": Poemas - As Elegias de Duíno - Sonetos a Orfeu, de Rainer Maria Rilke. Curiosamente, a página 161 é... uma fotografia! Assim, olhei para a página par que lhe correspondia, e lá encontrei a 5a frase completa, que é esta:
"mais sedutores que Frine se seduzem a si próprios"
E pronto, passo o testemunho aos seguintes bloggers:
  1. Juro que tenho mais que fazer, da Madalena
  2. O Eldorado, do JP
  3. Dito Assim, do Jayme Serva
  4. Codornizes, do Pedro Cordeiro
  5. Zoo, do JG
  6. Abencerragem, do Ricardo António Alves

Madrid


O fim de semana alargado (de 4 dias) em Madrid, que tínhamos planeado, acabou afinal por resumir-se a dois dias bem medidos, porque uma das pessoas que ia connosco teve que voltar a Lisboa mais cedo por razões profissionais urgentes. Foi pena. Mas esses dois dias, apesar das alterações, foram muito bem aproveitados e valeram cada segundo. Madrid vale bem, sempre, cada segundo de estadia.

Na última vez que eu tinha estado em Madrid, tinham passado cerca de 15 dias do pavoroso atentado da Estação de Atocha, e ainda tenho na memória a esmagadora tristeza de uma cidade que sempre me habituei a conhecer fervilhante de vida: nesses dias havia velas acesas e ramos de flores em todas as esquinas, espalhados pelo chão, e uma estranha apatia estupefacta tinha tomado conta das pessoas. À excepção de alguns grupos de oração, não se via praticamente ninguém na rua. Vim de lá impressionada, sem vontade de voltar tão depressa àquela Madrid fantasmagórica, tão diferente do habitual. E desta vez, confesso, ia numa certa expectativa pelo ambiente em que iria encontrar a cidade, sabendo que o tema do momento, como não podia deixar de ser, era a recém-pronunciada sentença do 11-M (designação que os espanhóis adoptaram para a "sua tragédia" de terrorismo islâmico, à semelhança dos novaiorquinos, com a abreviatura 9-11). Felizmente, o meu medo dissipou-se logo à chegada. Madrid renasceu das cinzas, com aquela força anímica de que os espanhóis - calejados pela memória de uma sangrenta guerra civil e pelos imprevisíveis e igualmente sangrentos atentados da ETA - se habituaram a socorrer-se, não permitindo que o Mal os impeça de festejar a Vida. Grande povo!

É claro que, apesar de Madrid estar cheia de forasteiros nestes dias - muitos madrilenos aproveitaram as mini-férias para sair da cidade - as conversas de café e as notícias de jornal dão conta das várias indignações populares, que resultam da clareza inequívoca da sentença jurídica: a confirmação da manipulação mediática do acontecimento por parte do PP, à época no poder (desastrosa jogada política que custou ao partido as eleições que se seguiram, e sobre a qual terá que voltar a prestar contas agora); a absolvição de vários réus, nomeadamente o odiado Rabei Osman "El Egipcio", e também Hassan "El Haski" e Youssef Belhadj, por manifesta falta de provas.
Compreensivelmente, o povo quer ver feita justiça: os 191 mortos e os mais de 1.800 feridos dos atentados de Atocha, não podem nem devem ser esquecidos. Mas o tribunal provou saber julgar com isenção e distanciamento emocional: fixou em 900.000 € a indemnização que receberá cada um dos familiares das vítimas mortais, e condenou a 42.922 anos de prisão Jamal Zougam e Otman "El Ghanoui", ambos como autores materiais dos atentados. Além destes, vários outros réus foram condenados por crimes de associação criminosa e armada, cumplicidade, etc. Dez desses islamitas condenados já estão a fazer uma greve de fome, como protesto pela sentença. Nunca se pode contentar toda a gente, mas creio que a impressão geral que fica deste dificílimo julgamento, é a sua isenção.
Entretanto, Ayman Al-Zawahiri, número dois da hierarquia da Al Qaeda, já apelou à mobilização dos seus seguidores para novos ataques aos interesses dos países ocidentais - EUA, França e Espanha - nos países do Magreb: Argélia, Tunísia, Líbia e Marrocos, por considerar estes países "escravos do Ocidente". A guerra santa, infelizmente, não tem um fim à vista.

Bom, chega de política e de tristezas: Madrid tem sempre uma oferta de Arte invejável, e foi sobretudo por isso que lá fomos desta vez. Com um objectivo específico, antes de qualquer outro: ver a exposição de pintura de Paula Rego no Centro de Artes Reina Sofia. E, neste capítulo, tudo o que eu possa aqui dizer ficará a anos-luz da realidade. Integrada na V Mostra de Cultura Portuguesa, a que Madrid dedica uma série de iniciativas representativas das várias artes em Portugal - música, pintura, fotografia, azulejaria, etc. - a exposição comemorativa de toda a carreira de Paula Rego é a mais completa que foi feita até hoje e é, positivamente, de cortar a respiração. Ocupa toda uma ala do 1º andar do Rainha Sofia, e abrange desde as primeiras experiências académicas da pintora (já geniais, aliás) até aos´trabalhos executados no passado ano de 2006. Quase todos os quadros-ícones da sua obra lá estão: "a mulher-cão", "a família", "o baile", toda a série das "avestruzes-bailarinas", a série sobre o aborto clandestino, etc. São, na sua maioria, quadros de enormes dimensões, que têm um impacto completamente diferente (como é natural) daquele que exerce sobre nós uma reprodução vinte vezes menor, por muito boa que seja.

No meu caso, confesso, foi a total rendição à pintora: além da prodigiosa mestria técnica (unanimemente reconhecida pelos maiores críticos de arte mundiais), está patente, na obra desta mulher, um profundo e impressionante conhecimento da natureza humana, nas suas facetas mais sórdidas mas também nas mais redentoras. A série de pequenos desenhos denominada genericamente "misericórdia", fez-me saltar lágrimas dos olhos, de tão comovente. São cenas de entre-ajuda humana, nas situações mais difíceis da vida de todos nós: aquele conceito a que os cristãos chamam vulgarmente "caridade" e que tão desvirtuado e mal interpretado tem sido ao longo dos tempos. O que mais impressiona nelas é o próprio tema, raramente abordado em pintura. Mas, se há adjectivo que possa aplicar-se à obra de Paula Rego, é mesmo "incómoda". Não só pela violência de algumas imagens, retratadas sem fantasias nem romantismos de qualquer espécie, mas sobretudo pela coragem de abordar temas que não são considerados "estéticos". Paula Rego pinta a realidade nua e crua, pungente e grandiosa na sua complexidade: as figuras femininas são robustas e quase rudes (gente de trabalho, comum, e não modelos de perfeição), mas tão expressivas quanto um ser humano pode ser. A ténue linha de divisão entre seres racionais e irracionais está bem expressa na utilização de animais em poses e situações humanas, a mostrar-nos como estamos todos tão próximos da bestialidade e, por outro lado, como alguns animais se aproximam ou até ultrapassam as nossas so called "melhores qualidades".

Magnífica experiência, é o que tenho a dizer. E de tal maneira forte que, ao subir para ver Picasso (que está no andar logo por cima em toda a sua pujança, inclusivamente com o impressionante Guernica), ficamos perdidos, sem conseguir fazer a mudança de registo e sem conseguir, sequer, aderir ao mestre (e até a Dali, que lá está representado também e que é um pintor que eu adoro). Não nos é possível desligar logo do impacto poderoso de Paula Rego, e esse facto já diz muito sobre a qualidade da sua obra. Volto a dizer: rendi-me incondicionalmente à pintora, embora mantenha que não aguentaria olhar todos os dias para a maioria dos seus quadros e que, só por essa razão, não os queria ter na minha sala. São espelhos incómodos, que nos deixam sem pele. Mas que demonstram bem o poder da arte, quando é boa.

Enfim, a exposição não só vale a pena como é absolutamente obrigatória, na minha opinião. Se lá puderem ir, não deixem de fazê-lo. Ainda estará por lá até ao fim do ano. E se não puderem mesmo, então não percam a esperança: o Museu Paula Rego será uma realidade a curto prazo, em Cascais.

Um pormenor importante: aconselho vivamente o uso do audio-guia (embora não exista em português!!!), que explica criteriosamente as histórias que estão por detrás dos quadros principais, as mudanças de fase e de motivações, e que inclui até explicações da própria pintora. É completamente diferente ter este apoio, sobretudo nas figurações menos óbvias.

Mas nem só de arte vive o homem: embora não tenha dado tempo para o flamenco - estava programada uma visita ao famoso Café de Chinitas, decorado pelo português Duarte Pinto Coelho - a gastronomia é sempre um must em Madrid: não deixámos de cenar perdiz no antiquíssimo Sobrino de Botín (o restaurante mais antigo do mundo, segundo o Guiness), onde continua a comer-se maravilhosamente e onde os preços, curiosamente, não aumentaram muito. O ambiente é fantástico, os empregados são eternos, a comida insuperável. Está sempre completamente cheio, é uma sorte conseguir uma mesa sem reserva. Tivemos sorte.

O mesmo não se pode dizer das esplanadas da Plaza Mayor, onde almoçámos mal e por um preço astronómico. Os turistas tomaram posse dos velhos restaurantes e inflaccionaram os preços, a um ponto ridículo para a qualidade actual. Salvou-nos o Jose Luis, na Castellana, cujos solomillos e o revuelto de gambas e asparragos verdes, ao jantar, nos fizeram esquecer completamente o desaire do almoço.

Resta-me dizer que o belo sol de Madrid nos permitiu passear e andar por las tiendas (não resisto aos sapatos, em Espanha...), e por isso fizemos quilómetros a pé. Tudo está bem quando acaba bem, e só foi pena que tivesse acabado tão depressa. Mas hei-de voltar, quantas vezes possa, a Madrid. Essa é uma das poucas certezas que tenho.

(Paco de Lucia - Entre dos Aguas)

Nota 1: Aqui fica o fabuloso som de Paco de Lucia, que um dia ouvi ao vivo (precisamente no Café de Chinitas), há muitos anos.

Nota 2: Duas notícias curiosas, ouvidas na TVE: a primeira é a de que o "Toro de Osborne" - autêntico símbolo nacional - acaba de fazer 50 anos. Uma centena de exemplares está espalhada por todo o território, lembrando-nos de que estamos em Espanha; a segunda diz respeito a um crime passional, ocorrido recentemente e relatado da seguinte maneira (impensável ainda há poucos anos) - "1o años de carcere para el chico que mató a su novio".
Nota 3: Infelizmente, e embora nos tenhamos falado por telefone mais do que uma vez, não nos foi possível tomar "una copa" com os bloguistas amigos do Codornizes e d'O Meu Cais. Eles estiveram por lá mais dois dias, por isso aconselho a lê-los: são viajantes curiosos e muito mais novos (aguentam bem mais do que eu, que já não tenho o ritmo deles), conhecem Madrid a palmo e sabem aproveitar tudo o que há para ver. Por exemplo, as filas intermináveis (davam a volta ao quarteirão) para o Prado e para o Thyssen desmoralizaram-nos, além de termos tido pouco tempo. Eles, tenho a certeza, não desistiram e conseguiram lá ir.