quarta-feira, 16 de abril de 2008

De malas aviadas


Chegou o dia deste blog escapar pela sua própria Porta, que está sempre entreaberta, e deixar-se levar pelo Vento para outras paragens. Para quem não sabia ainda, estamos de malas aviadas para o Sapo, que me acenou com a promessa de transformar-se em príncipe e a cumpriu em pleno, até agora. A toda a equipa do Sapo, personificada no Pedro Neves - o meu Sapo/Príncipe de serviço - agradeço a atenção e a paciência que teve com as minhas dúvidas informáticas e com os pormenores de "decoração". PSB, pega na tua mala também e vem daí. Temos nova casa, e está linda.
Deixo-vos com este delicioso video (o Sapo é esperto, veio logo cantar-me ao ouvido uma canção que é muito especial para mim...) e espero que continuem a aparecer sempre, mas agora aqui: http://portadovento.blogs.sapo.pt. Por favor mudem o vosso link e divulguem. O baile continua lá.

Uma VOZ

Hoje, 16 de Abril, é o dia mundial da VOZ. Vou-me rendendo a assinalar estes "dias de", sobretudo aqueles que não têm implicações dúbias ou não me irritam especialmente. Por isso aqui fica uma das mais bonitas canções de amor alguma vez escritas, numa das mais bonitas vozes que já ouvi. E não só bonita: é uma voz de tal maneira expressiva e rica de inflexões que, mesmo para quem não perceba a língua em que as palavras são ditas, é fácil entender o que elas pretendem transmitir e deixar-se levar pelas emoções. É uma "voz-actriz", e de primeira água. Recostem-se e ouçam-na, de preferência sem outros ruídos de fundo. E digam-me lá se não ficamos todos com vontade de ter um amor "soft as an easy chair"...

(Evergreen - Barbra Streisand)

Love soft as an easy chair
Love fresh as the morning air
One love that is shared by two
I have found with you

Like a rose under the april snow
I was always certain love would grow
Love ageless and evergreen
Seldom seen by two

You and I will make each night a first
Every day a beginning
Spirits rise and their dance is unrehearsed
They warm and excite us, cause we have the brightest love

Two lives that shine as one
Morning glory and midnight sun
Time weve learned to sail above
Time wont change the meaning of one love
Ageless and ever evergreen

terça-feira, 15 de abril de 2008

Até que enfim

Miguel Vieira (um conceituado estilista português, para quem não conhece o nome) afirmou há tempos, numa entrevista, que "na moda portuguesa não existe anorexia". Eu já tinha ouvido dizer o mesmo a Fátima Lopes (a estilista, não a apresentadora). E a afirmação que ambos sustentam, obviamente falsa, é ainda mais grave porque vem de pessoas que são co-responsáveis por uma realidade dramática que só elas parecem não ver.
Revolta-me a indiferença, ou, o que é pior, a lúcida cumplicidade no crime. Os distúrbios alimentares são um dos grandes flagelos com que se debatem as sociedades ocidentais, hoje em dia. A nossa também, como é evidente. Talvez menos do que outras, comparativamente, mas não é por isso menos preocupante. Não existe anorexia??? Por favor! E, mesmo que não existisse "no interior" do mundo da moda (o que é falso), o que dizer do mundo "cá fora", a quem a moda se destina? Ou será que a influência daquelas figurinhas cadavéricas (que dão pelo nome de manequins) nos adolescentes, também é inexistente? É só ter a coragem de ir até ao Hospital de Santa Maria, por exemplo, e ver... com olhos de quem quer ver. Mais: não é apenas um problema feminino. Cada vez mais está a afectar os rapazes também.

Se pensarmos que é exactamente do mundo da moda que pode vir a solução para resolver uma boa parte deste terrível problema, não me parece exagerado falar em atitude criminosa. A Organização Mundial de Saúde anda, há anos, a apelar repetidamente aos grandes costureiros e opinion leaders da moda internacional - que ditam como devemos ser por fora - que promovam uma imagem feminina mais saudável, o que passa naturalmente por um peso equilibrado. Só Espanha, inteligentemente, lhe deu ouvidos (A Moda Madrid, com a exigência de um peso mínimo para as manequins, conseguiu a atenção do mundo inteiro e muita publicidade de borla para os desfiles, além da simpatia geral). É incompreensível que todos os países não lhe tenham seguido o exemplo. Seria tão fácil! Os gurus da moda têm um poder tal, que bastaria a sugestão de uma mulher mais "cheia" como ideal de beleza, para que todas as mulheres do ocidente quisessem parecer-se com ela.
Isto para não falar de outra aberração: a de utilizar esquálidas rapariguinhas de 13 e 14 anos (autênticas Lolitas autorizadas), produzidas como se fossem adultas, desfilando roupas que se destinam a gente muito mais madura, que é a que tem poder de compra. Esse é outro escândalo, que deveria também ser visto com atenção. Até porque ambos estão intimamente ligados: numa idade em que os corpos não estão ainda completamente formados, as carências alimentares - e também as drogas e o álcool que elas usam para iludir a fome - impedem o normal desenvolvimento e causam outras doenças graves. É irónico, sobretudo se pensarmos na ilusória duração destas carreiras, mesmo as (poucas) bem sucedidas.
É por isso que é inadmissível que se continue a tapar o sol com a peneira, fingindo que está tudo bem. Em Portugal ou em qualquer lado, ainda por cima em nome de inutilidades. E é por isso também que me alegrou agora esta boa notícia. Finalmente, parece que algum bom senso iluminou os grandes do mundo da Moda. França, a capital desse mundo, a dar o exemplo, depois de Espanha ter aberto o caminho. O meu aplauso. Até que enfim.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O mundo a seus pés




Aqui fica o meu contributo para um tema que é caro a todos estes bloggers amigos, e também a mim. E afinal a quase todas nós, mulheres. Porque será que os sapatos são tão importantes para as mulheres? Muitas de nós somos Imeldas Marcos em potência, e só não lhe chegamos aos calcanhares (literalmente, no caso) por falta de verba adequada e de espaço nos armários. Problemas que ela, manifestamente, não tinha. Escolhi estas imagens pelo contraste entre si. Mas têm todas um denominador comum: a criatividade, aplicada a esses objectos míticos que trazemos nos pés e nos encantam como nenhuma outra peça de roupa. Gostava de saber se há razões históricas ou sociológicas para este fenómeno. Alguém quer dar uma achega?

Pontuação



Já fomos uma interrogação, depois fomos as reticências que deram lugar a uma exclamação esperada. E mesmo que sejamos hoje uma vírgula, sei que não seremos nunca um ponto final.

domingo, 13 de abril de 2008

Feira de Velharias (4)


Cada vez tenho menos paciência para a política e para os políticos. Agradeço-lhes a vocação ou a ambição, porque cada uma delas (ou ambas) os levaram a lutar por lugares que eu detestaria ter que ocupar. E alguém tem que fazer o trabalho deles, isso é inegável. A anarquia pura é uma utopia, bonita mas impensável na prática.
O que me parece é que, mesmo os mais idealistas e bem intencionados, acabam por ter que dançar conforme a música que encontram já a tocar. Os que não se adaptam e se recusam a fazer concessões, tornam-se demasiado incómodos e são convidados a sair do salão, a bem ou a mal.
Mas há os que, realmente, parecem ter nascido para essa vida. Entram a matar e cortam a direito, fazem o que acham ser preciso, a qualquer preço, e têm um (natural?) grau de distanciamento e de insensibilidade aos problemas do comum dos mortais que lhes permite nunca olhar para trás e até, quem sabe, dormir tranquilos.
É o caso do nosso primeiro ministro José Sócrates (um nome de uma enorme responsabilidade, caramba!). Tem a frieza de um cubo de gelo e a arrogância de um César. Chegou a afirmar sobre si próprio, mostrando como se tem em grande conta: «Sou um animal feroz» (Expresso, 24/07/2004). Não sei se é um animal feroz, mas é, pelo menos, ferozmente indiferente.
Eu, que não sei falar politiquês e prefiro a linguagem da poesia, dedico-lhe este magnífico poema de Carlos Drummond de Andrade: "E agora, José?"* , com a romântica ilusão de que o leia algum dia e que ele o faça pensar um pouco no quick step que nos tem obrigado a dançar, quando nem para a valsa temos sapatos...
E AGORA, JOSÉ?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Nota: Descobri, entretanto, que Sócrates nasceu em Vilar de Maçada. Começo a compreender os seus traumas e até entendo que tenha fugido de lá, mas, bolas!, tinha que se vingar em nós??
(* Clique aqui para ouvir o poema, dito pelo próprio CDA)
(Publicado pela primeira vez em 1/6/2007)

sábado, 12 de abril de 2008

Parabéns

Montserrat Caballé faz hoje 75 anos. Ao longo da sua carreira cantou quase todo o repertório operático clássico, com uma delicadeza e uma doçura que contrastavam com o seu volume físico e faziam com que ele se eclipsasse totalmente. Em palco ficava apenas uma cara linda e expressiva, de medalhão italiano, e uma voz simultaneamente poderosa e suave. A sua Casta Diva (Norma) ficou famosa.
Aqui, num impressionante dueto com outra fantástica voz - Freddy Mercury - a mostrar toda a elasticidade do seu talento e a sua enorme simplicidade. Uma mulher maravilhosa, uma cantora inesquecível. Parabéns, guapa!

(How can I go on - M. Caballé e F. Mercury)

Dia de abrir envelopes

Há sempre aquele momento. Aquele terrífico e intimidante momento de abrir os envelopes. Olho-os a medo, tentando estabelecer com o exterior, civilizado e inócuo, um pacto de não agressão. É inútil. A desproporção de forças é total, nada a fazer. De que forma poderia eu vingar-me? A ideia absurda deixa-me, pelo menos, um sorriso. Volto a olhá-los, tentando agora outra abordagem: a do optimismo que sempre me salvou, em todas as situações difíceis por que passei na vida. Mas não é fácil, como o foi em tempos, antes daquela vez. Daquela vez em que tudo mudou, em que nem o meu mais delirante optimismo podia iludir o que o Abre-te Sésamo revelava. Nada de tesouros, nada de pérolas e ânforas de ouro. Só uma desolada frase, composta de cinco palavras letais. Todas elas, uma por uma. As palavras também podem ser letais, mesmo sendo feitas com as mesmas letras com que se escreve uma declaração de amor. Nem o pobre "de" parecia inofensivo, no meio delas. Palavras compridas, complicadas, ameaçadoras, fúnebres. Um Requiem em cinco andamentos. Conhecia-as, não me enganaram. Sou filha de médicos, a terminologia arrevezada e áspera não tem grandes segredos para mim. Palavras bastardas de um latim que gerou outras tão bonitas, tão doces. Mas também pariu estas, afinal. Há os bons e os maus em todas as famílias. Aquelas palavras eram as ovelhas negras do latim. Abro sempre os envelopes, eu mesma. Se é de mim que falam, é a mim que têm que dar explicações primeiro. E faço-o sem testemunhas. Não quero que me vejam nos olhos o medo ou a euforia, ambos demasiado íntimos para subirem ao palco. Daquela vez, os envelopes apanharam-me desprevenida. O que traziam dentro era um violento murro no estômago, no meu estômago que não esperava murros. Foi desde aí que nunca mais abri os envelopes com a mesma souplesse, essa alegre certeza de que estava tudo bem. Ficaram-me na memória, gravadas a ferro e fogo, as cinco palavras que eram uma condenação explícita. Sem enfeites, sem disfarces, sem bálsamos. Só a sentença de morte, nua e crua. Mas afinal ganhei eu. Nessa altura não o sabia ainda, mas o meu optimismo salvou-me, uma vez mais. Ganhei eu, em todas as frentes. Venci as palavras, venci os envelopes mensageiros da escuridão. Passaram dez anos. Venci os envelopes, sim, mas eles rogaram-me uma praga, como vingança: a de ter que abri-los, para o resto dos meus dias, com um misto de medo e de esperança, mas nunca mais com a confiança que tinha antes. Há dez anos que os abro, há dez anos que ganho eu. Hoje foi dia de abrir envelopes, e uma vez mais me intimidaram. Mas hoje, uma vez mais, a caverna de Ali Babá só tinha pérolas e ânforas de ouro para mim.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Old friends


"As old wood is best to burn, old horse to ride, old books to read, and old wine to drink, so are old friends always most trusty to use"
(D´Arcy W. Thompson)


Poucas coisas
são tão interessantes nesta vida como reencontrar velhos amigos após um longo tempo de separação. Várias situações podem acontecer, desde a profunda decepção à reconfortante certeza de que aquele(a) amigo(a) não o era por acaso. No primeiro caso, nada a lamentar. O próprio tempo que passou se encarrega de manter o afastamento, e tudo fica esquecido. No segundo, é muito bom saber que não nos enganámos àcerca de alguém.
O primeiro embate - mais divertido do que constrangedor - em que comparamos mentalmente a nova imagem com a recordação que tínhamos da pessoa, congelada no tempo, leva-nos quase sempre a concluir que a quantidade de cabelo perdido é inversamente proporcional à dos quilos e rugas ganhos, e que tudo isso é infinitamente menos importante do que alguma vez julgámos possível.
Depois vem o melhor: um invariável rol de boas lembranças, desfiadas da meada da memória (o tempo encarrega-se quase sempre, generosamente, de apagar as más) que nos fazem rir e sustentar uma conversa que poderia durar horas, se tivéssemos tempo para isso num simples almoço. As histórias partilhadas, as situações dramáticas ou cómicas, os êxitos alcançados, o destino de outros amigos (um bocadinho de má língua dá sempre alguma graça a estes reencontros), a orgulhosa exibição de fotografias da família que entretanto se criou, tudo isto com uma naturalidade e à vontade espantosos, como se tivessemos estado juntos na véspera.
Aconteceu-me ontem, com uma amigo de sempre que deixei pelo caminho há quase trinta anos. Era um estudante idealista, hoje é um homem maduro... ainda idealista. Que bom constatar que nem toda a gente fica amarga com as desilusões da vida! Que bom saber que ainda há gente de carácter, que não inverteu as prioridades nem cedeu ao cinismo! Foram duas horas bem passadas, e no fim a promessa de não mais deixarmos passar tanto tempo sem nos vermos. Seremos capazes de cumpri-la? Não sei, a vida é muitas vezes caprichosa. Mas espero que sim. De qualquer maneira, o reencontro valeu a pena.
(Nota: Um beijinho ao M., que passa por aqui de vez em quando. Gostei de rever-te, meu amigo).

Cata-Ventos


POS, n' A Criação do Mundo
Mulher escrevendo
Adelaide Amorim, n' O Bem, o Mal e a Coluna do Meio
Teresa, no Beatles Forever
Adágio e Os grandes livros
RAA, n' A Sublime Porta
Corruptólogos
FJV, n' A Origem das Espécies
A atracção pelo lixo
Daniel Oliveira, no Arrastão
Feliz aniversário
Mike, no Desconversa
Águas de Abril
TCL, no Falabarata
No news whatsoever
OIAW, no Once in a While
Acordar, mas sem acordo
PRD, no Pedro Rolo Duarte

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Observatório IX




Futurologia



Não deixa de ter a sua graça a insatisfação tornada pública do antigo-novo barão do PSD, Ângelo Correia. Que se apressou a vir, depois, dizer que não era com o PSD em particular, mas sim com o actual estado de discussão política no País, PSD incluído, a razão para a sua desilusão neste regresso inesperado (?) à política activa.

Ora, para mim, quis dizer exactamente a mesma coisa, estando, portanto, desiludido (que surpresa?) com o caminho que o seu partido e a actual liderança vão dubiamente trilhando, num dueto de personagens de caricatura que já devia ter aprendido a não se pôr na ribalta, pois é duvidoso que reúna a confiança necessária para constituir a alternativa credível que muitos desejam, malgrès tout.

E fico a pensar nas razões insondáveis que terão conduzido este esquecido a pôr-se novamente em bicos de pés, imaginando que só poderá estar também desiludido consigo próprio, uma vez que também faz parte activa do não diálogo político actual.

Neste ambiente circense, é de não esquecer também a posição agora assumida pelo artista maior da Madeira, ao afirmar que, da próxima, é que não se vai recandidatar mesmo, deixando-nos na dúvida legítima se vai engrossar os dependentes da caixa nacional de pensões, reformando-se, ou se estará a pensar em voos mais continentais, fazendo contas de cabeça a evoluções quase inexoráveis na São Caetano.

O que seria! Alberto João Jardim candidato a Presidente do PSD e, inerentemente, a Primeiro-Ministro... E que cenário, se ganhasse as próximas legislativas!

Estou a vê-lo. Na sua relação com o Sr.Silva, como educadamente apelidou o PR durante a campanha presidencial, com os media, zurzindo de alto a baixo todos os seus inimigos cubanos de estimação, com o pressuposto chefe da oposição, Sr. Pinto de Sousa, como gosta de chamar ao PM, ajustando as contas de que se sente credor.

E a postura de Estado, em que é exímio, e o palavrório, em que é exemplo...

O que seria! De nós, do País, desta evolução que teimosamente não conseguimos atingir, desta melhoria de nível geral que teima em se nos escapar a cada momento. Apesar de, ao que parece, ter feito um trabalho notável no desenvolvimento da Madeira (bem sabemos com que meios) até enaltecido pela concorrência, na voz de Jaime Gama e para grande sofrimento dos seus correligionários de partido.

Será que poria o País na rota do sucesso económico que todos desejamos? Será que erradicaria a exclusão social, como é apanágio de todas as promessas? Será que poria Portugal no mapa, transportando-o para lugares lisonjeiros nas estatísticas dos índices de crescimento, desenvolvimento, literacia, civismo?

Já não digo nada! Como no circo, (quase) todas as fantasias inimagináveis são possíveis. Vamos esperar para ver...
Pedro Silveira Botelho

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Disparates do Statecounter


quando posso entrar com acção de uso capião? - Desde que não seja contra o Porta do Vento, avance quando quiser, amigo. E depois pague um copo, se ganhar.

existe a enzima no coração? - Existe, claro. Fica entre os ventrículos e nunca está quieta.

amor antigo não esquecido - Pois... esse problema toca a muitos. Experimente umas pílulas de Alzheimer, talvez resulte.

mulheres loiras na praia - Outra vez, caramba? Ainda não as encontrou???

constipal - Ou Ben-u-ron, também serve. Atenção, não confundir com Ben-Hur, que não cura ninguém. Pelo contrário, pode levá-lo à boca de um leão esfomeado.

elizabeth taylor e burton ateu - Problema deles, não acha?

taylor fome - Fome? Não me parece, amigo. O problema dela sempre foi mais o contrário...

love hurts - Ah, pois é... o que é que julgava? Claro que tem sempre a alternativa do futebol...

como fica em inglês a palavra te gosto - Fica bem, obrigada. Mas qual delas: "te" ou "gosto"?

ventos de cor - Aqui não somos racistas, gostamos muito de ventos coloridos.

a vida e a obra: frida collo - Essa pintora não conheço, lamento. Será prima da outra?

eu sou uma porta - É triste, admito, mas veja a coisa pelo lado positivo: assim passam-lhe ao lado imensos problemas que afligem os inteligentes!

declarações de amor para julianne - Deixe-se de palavreado e dê-lhe um beijo, vai ver que ela gosta!
10 billiontrillion trillion carats - É o valor deste blog, não sabia? Mas não está à venda.

espero que aqui jaza - Não espere, não vale a pena. Enganou-se na porta, o cemitério não é aqui.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Jamé dito


Estive a ouvir, deliciada, as justificações do ministro Mário Lino para as "frases infelizes" (palavras do próprio) que disse, num passado próximo de que todos nos lembramos, sobre a polémica localização do novo aeroporto.
Em entrevista à SIC Notícias, perante uma Ana Lourenço a lutar para conter o riso, Mário Lino voltou a meter os pés pelas mãos ao dizer que "jamé disse jamé", quem o disse foram os autores dos estudos apresentados. Tudo uma confusão dos media, portanto. Quanto à classificação da margem Sul como "um deserto", lá admitiu ter usado a expressão. Mas afirmou ter ficado genuinamente espantado com a repercussão que tais palavras tiveram nos autarcas atingidos e nos habitantes da margem Sul a quem tinha chamado beduínos (esta é minha, não foi ML que disse, claro), já que, no almoço onde a brilhante metáfora fora proferida, ninguém se tinha mostrado minimamente incomodado com ela.
Ora, daqui concluo que Mário Lino conhece mal os portugueses. Em primeiro lugar, a esses almoços e jantares dos políticos vai-se para comer à borla, e nunca para ouvir o que quer que seja. Depois, uma refeição é uma coisa sagrada. Desde que seja farta e bem regada, a benevolência é garantida. Mais depressa os convivas se amotinariam por um bacalhau sem sal ou uma mousse deslaçada do que por uma ofensa, mesmo que fosse às senhoras suas mães.
A seguir, garantiu vir a respeitar religiosamente o período de nojo imposto pela lei antes de aceitar um cargo de administrador numa grande empresa pública ou privada, quando sair do governo. Ou seja, ficamos a saber que já está a preparar a reforma.
Por fim, quando eu já estava a desesperar de encontrar algum interesse no desastrado ministro, algumas características pessoais suas, lidas pela jornalista no teleponto, salvaram-no do abismo sem remissão. Pelo menos aos meus olhos. Parece que Mário Lino é um fervoroso amante de ópera, tem assinatura nos concertos da Gulbenkian e é fumador de cachimbo. Por estas, confesso humildemente que não esperava.
Mas também fiquei a saber que exercita os neurónios nas tabelas do Sudoku, e isso é que me deixou desconfiada: ou treina pouco ou faz batota, porque os resultados dessa intensa actividade intelectual não se viram até agora, jamé...

Good news!



Eu já simpatizava com a candidatura de Barak Obama, mas agora fico mesmo a torcer para que ele ganhe, ao saber desta notícia!
Depois da tragicomédia que têm sido os discursos de Bush durante os seus mandatos, acho que ninguém mais se habituará a palavras cinzentas na Casa Branca. E já agora, para variar, que passem a ter a qualidade inquestionável dos Monty Python...

Que las hay, las hay...

Não vou comentar a história em si, já que tem tido nos media cobertura mais do que suficiente e até excessiva, quanto a mim. É um caso triste de espalhafato mediático sobre um homicídio doméstico, alegadamente cometido por uma figura do jet set nacional (se é que isso existe por cá...), como lhe têm chamado as "revistas do coração". Erradamente, ainda por cima, porque esta pessoa era absolutamente desconhecida nesses meios não fosse o envolvimento, mais ou menos escandaloso, com outra figura dos mentideros portugueses: o inenarrável José Castelo Branco.
Apenas chamo a atenção para uma espantosa coincidência (ou será gralha do jornal?) que encontrei ao ler a notícia do Sol: o advogado de acusação - Paulo Cruz - tem exactamente o mesmo nome que a vítima, marido da acusada!! A ser verdade, é um caso invulgar daquilo a que costumamos chamar "ironia do destino"...
Adenda: Parece que era mesmo gralha, afinal.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Amigos de talento - II


Sempre inventei histórias para os meus filhos, quando eram pequenos. Deixava correr a imaginação e as personagens iam mudando, ao sabor das perguntas que eles me faziam e dos seus desejos. Muitas vezes eram eles mesmos quem sugeria aventuras e peripécias, consoante o interesse do momento ou alguma coisa que tinham visto ou ouvido. Com uma infância vivida no campo, o imaginário infantil dilata-se substancialmente e ganha cores, cheiros e formas impensáveis para uma criança da cidade. Talvez por isso eles respondessem tão bem ao estímulo da participação na composição da história, acrescentando sempre pormenores mais ricos e dando vida a personagens engraçadíssimas. Frequentemente, eram eles que construiam toda a trama, sem se aperceberem disso.
Tenho as melhores recordações dessa época de partilha de sonhos e de loucuras imaginativas, em que me sentia muito próxima daquele universo mágico e me deixava conduzir, sem resistência, por entre seres fantásticos e mundos delirantes. Era com estes pensamentos que os meus filhos adormeciam, e muitas vezes também eu. Além das histórias, cantava-lhes canções de embalar com letras inventadas por mim, muitas vezes na hora, sobre músicas conhecidas. A única que sobreviveu ao tempo e às sucessivas mudanças de casa, escrita num papel amarrotado, foi uma letra que fiz para o meu filho mais velho. Lembro-me muito bem dessa noite de Verão em que a cantei pela primeira vez, de uma lua cheia e magnífica que entrava pelo quarto e abria as portas a todos os sonhos. Aos meus e aos dele...
Curiosamente, encontrei esse papelinho há uns anos. Sem fazer a menor ideia de qual era a música em que a encaixei nessa época (mais de vinte anos antes), gostei ainda do que tinha escrito e apeteceu-me que alguém a musicasse. Falei nisso à minha amiga Rita Vasconcellos, sabendo que ela se entusiasmaria com o projecto. A Rita é arquitecta de profissão, mas é também uma inspirada compositora, para além de outros múltiplos talentos. É, sobretudo, um espírito curioso e sensível, muito próximo ainda da inocência das crianças, como acho que todos gostaríamos de ser. Como eu calculava, achou graça ao desafio. Pedi-lhe que fizesse uma coisa simples, já que era uma "Cantiguinha de embalar", título que dei, logo ali, à canção que surgiria da nossa parceria. Sentou-se ao piano e começou a alinhavar uma melodia suave e delicada, como aquelas das caixinhas de música. Era exactamente isso que eu tinha imaginado para aquela letra. Deixei-a, nessa noite, enredada na sua criação, sabendo de antemão que iria gostar do resultado. Poucos dias depois, ligou-me. "Está pronta, vem ouvir." Lá fui, comovida e curiosa. E amei desde logo o casamento entre as minhas palavras simples e a música da Rita, que tão bem as tinha apreendido.
Por sugestão de amigos, concorremos com esta canção ao Festival da Canção da RTP (há 3 anos). Para isso, demos-lhe o título de Branca Lua e gravou-se uma maqueta em estúdio, com a própria Rita ao piano e a bela voz da Mafalda Sachetti "emprestada" para o efeito. Não ganhou, claro, nem nós esperávamos que isso acontecesse. É uma música/letra que está muito longe do perfil das canções que habitualmente ganham festivais. Mas todo este processo nos deu um enorme gozo e nos aproximou como amigas. Depois disso, decidimos fazer outras parcerias musicais. Estão em fase de acabamento várias canções, e algumas delas farão parte de um interessante projecto musical em que a Rita está agora a trabalhar (não posso adiantar mais sobre o assunto porque ainda está no segredo dos deuses, mas acredito que vai ser um êxito).
Aqui fica a Branca Lua, em maqueta, porque ainda não encontrou uma voz que lhe desse vida definitivamente. Gostaríamos muito que isso acontecesse, um dia.
BRANCA LUA

Branca lua traz um sonho
risonho
ao meu filho adormecido
Deixa-o partir num veleiro
ligeiro
pelo azul desconhecido
Deixa-o tocar as estrelas
prendê-las
entre os dedos pequeninos
como se fossem brinquedos
segredos
que só sabem os meninos

Dá-lhe asas ao pensamento
fermento
duma vida por escrever
que enquanto tudo se espera
quimera
tudo pode acontecer
Ó Lua, quando ele partir
a sorrir
no seu corcel de magia
pede ao sol que se detenha
e não venha
trazer cedo a luz do dia


(Como tenho estado com problemas no Imeem, aqui fica o link se não conseguirem ouvir: http://anavidal.imeem.com/music/MKNuQSuG/mafalda_sachetti_branca_lua/)

domingo, 6 de abril de 2008

Feira de Velharias (3)


أسامة بن محمد بن عود بن لادن

É assim o nome de Ossama Bin Laden em Árabe, na minha opinião a mais bonita escrita do mundo. O que prova a sabedoria de um velho ditado popular: "Nem tudo o que luz é ouro".
(Nota: Publicado pela primeira vez em 19-07-2007)

Mood

Hoje acordei com vontade de ouvir isto. Grande voz, grandes canções.

sábado, 5 de abril de 2008

Avec...quoi?


Demoiselles... dêem largas á imaginação... abram portas e janelas de par em par... ás zero... em ponto... Maldoror depositará uma flor... em vossos corações... eleitas entre biliões...
"J'ai fait un pacte avec la prosttution afin de semer le désordre dans les familles"

Chat Noir avec

À minha caixa postal têm vindo parar, ultimamente, mensagens surreais de um tal Chat Noir Avec (???), escritas num francês macarrónico ou num português arrevezado, que se supõem misteriosas mas não passam de cómicas. Imediatamente antes da assinatura, a invariável frase ameaçadora: J'ai fait un pacte avec la prosttution afin de semer le désordre dans les familles.

Ora bem, o que eu quero dizer a este gato preto é que as únicas coisas que tem semeado por aqui são... erros ortográficos de bradar aos céus. A não ser que o Avec esteja ainda por aparecer com novas pragas, mais sedutoras do que uma flor depositada no coração das eleitas escolhidas entre biliões (não conheço as outras demoiselles contempladas mas estou habituada a ser a única eleita, pelo que o plural ainda me parece excessivo), até agora esse pacto de desunir famílias ainda não fez qualquer efeito.

Não perca tempo comigo, bichano. Há-de haver quem se deslumbre com o seu francês de Alcabideche e o seu Maldoror Valentino, semeando flores em noites de lua cheia. A mim, ingrata como sou, só me dá para rir. Já tentou as Mães de Bragança?

Adenda - Não resisto a partilhar a última mensagem que recebi, hoje mesmo, do Chat Noir Avec, que agora se tomou de fervores monárquicos e poéticos e acrescentou mais um idioma à sua vasta cultura linguística: o castelhano. Ora vejam:

..."todas ibamos a ser reinas"...se Leticia...lo iba...porque no tu...noche de sueño...

...esta noche... petite demoiselle ...te daré el...cielo...deste amor...que és de Pedro...por...Inês...

Estou quase a ceder. Quem é que resiste a isto, digam lá??

(07/04/2008)


sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ainda um sonho


Passam hoje 4o anos sobre a morte de Martin Luther King.
Que bom seria que o seu sonho fosse já uma realidade...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Observatório VIII




Sem Rei nem Roque



A divulgação do vídeo do mais recente ‘escândalo’ numa escola pública – a cena de quase pugilato entre professora e aluna pela posse do telemóvel desta – veio revelar a faceta escabrosa da anarquia que se passa em muitas salas de aula, por esse País fora.

Cenas semelhantes têm-se repetido com alguma frequência nos últimos tempos, sendo cada vez menos raras as histórias de agressões perpetradas por alunos a professores.

O que não augura nada de bom no panorama do nosso ensino público, pois que o privado tem meios próprios para evitar que este tipo de situações ocorra para além dos parâmetros da mera indisciplina. Começa por fazer, logo no início, uma pré-selecção, nem que por mais não seja que pelo dinheiro que sai dos bolsos paternos todos os meses, continuando por medidas correctivas imediatas que culminam com a pura expulsão do aluno indesejado.

O ensino público não tem nenhum destes meios. Para já, porque é gratuito – todos têm acesso a ele – e, depois, porque a figura da expulsão não é sistema a que recorra habitualmente, sendo excepcional o deste caso agora vindo a público.

Fiquei sinceramente aturdido com este vídeo. Primeiro, porque achava impensável que um aluno desrespeitasse daquela forma um professor. Depois, pela chacota geral dos outros alunos, a gozarem nitidamente o espectáculo e a fazerem comentários tão pouco abonatórios.

Dir-me-ão que se vê que não sou professor. Pois não, não sou. Mas sou pai de cinco rebentos, duas já com os seus cursos, um universitário e dois estudantes do secundário, todos em universidade e escolas públicas. Onde sempre estiveram toda a vida, com excelentes resultados, mérito do seu trabalho, de alguns bons professores em que tiveram a sorte de tropeçar e, porque não dizê-lo, do envolvimento que nós, pais, sempre nos preocupámos em ter na sua vida escolar, acompanhando os sucessos e as dificuldades que foram surgindo.

E, francamente, acho que é neste ponto que reside a diferença dessa barbárie a que, por vezes, se assiste. O problema é, em grande medida, educacional. Compete-nos a nós, pais, educarmos os nossos filhos para não serem agentes daquelas tristes figuras em nenhum sítio, muito menos numa sala de aula e contra um professor. Eu morria de vergonha se algum filho meu estivesse metido naqueles lençóis... e ele também não ficaria lá muito bem, de certeza, primeiro com a sua consciência e, depois, comigo.

Naturalmente que também há responsabilidades por parte dos professores. Já conheci bons professores, na plena assumpção do termo, que se dedicam por amor à sua profissão, que têm as competências necessárias para ensinar e que conseguem, com a sua atitude e pedagogia, conquistar os alunos e merecer o seu respeito. Também já conheci os que de professores só têm o título. Entre uns e outros vai a distância de um mundo, que propicia a que estes casos existam.

Bons e maus professores são uma realidade e uma questão de sorte, para os alunos e para o seu futuro. Mas que a educação dada (ou não) em casa ajuda muito (ou não), isso é, para mim, inquestionável.

Pedro Silveira Botelho

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Nas tuas mãos

Reinventa-me tu. Dou-te pincéis e tintas de todas as cores, uma tela em branco e, mais do que tudo isso, a imensa liberdade de me recriares à tua medida. Redesenha-me: dá-me olhos menos inquietos, mãos menos aventureiras, braços que embalem tudo menos sonhos. Dá-me pernas imóveis, que não acabem em pés andarilhos. Pinta-me o corpo de um tom de mármore belo e pálido como o das estátuas antigas, em que todo o ardor se transformou já em História. Não te detenhas nos cabelos, deixa-os inacabados. Podem ganhar vida própria e enlear-te como algas, e tu sabes como é perigosa a maresia. Evita a curva do pescoço, e foge dos pormenores no peito e no ventre. Passa a correr pela boca, aí todo o cuidado é pouco. Um último aviso: não me pintes um coração nem um cérebro. Porque, se o fizeres, eu volto a construir-me como era.
(Imagem - René Magritte, "Tentando o Impossível")




Para afastar as nuvens...

What a wonderful world!

(by Louis Armstrong)

(by Eva Cassidy & Katie Melua)

I see trees of green, red roses too

I see them bloom for me and you

And I think to myself what a wonderful world.

I see skies of blue and clouds of white

The bright blessed day, the dark sacred night

And I think to myself what a wonderful world.

The colors of the rainbow so pretty in the sky

Are also on the faces of people going by

I see friends shaking hands saying how do you do

They're really saying I love you.

I hear babies crying, I watch them grow

They'll learn much more than I'll never know

And I think to myself what a wonderful world

Yes I think to myself what a wonderful world.