A divulgação do vídeo do mais recente ‘escândalo’ numa escola pública – a cena de quase pugilato entre professora e aluna pela posse do telemóvel desta – veio revelar a faceta escabrosa da anarquia que se passa em muitas salas de aula, por esse País fora.
Cenas semelhantes têm-se repetido com alguma frequência nos últimos tempos, sendo cada vez menos raras as histórias de agressões perpetradas por alunos a professores.
O que não augura nada de bom no panorama do nosso ensino público, pois que o privado tem meios próprios para evitar que este tipo de situações ocorra para além dos parâmetros da mera indisciplina. Começa por fazer, logo no início, uma pré-selecção, nem que por mais não seja que pelo dinheiro que sai dos bolsos paternos todos os meses, continuando por medidas correctivas imediatas que culminam com a pura expulsão do aluno indesejado.
O ensino público não tem nenhum destes meios. Para já, porque é gratuito – todos têm acesso a ele – e, depois, porque a figura da expulsão não é sistema a que recorra habitualmente, sendo excepcional o deste caso agora vindo a público.
Fiquei sinceramente aturdido com este vídeo. Primeiro, porque achava impensável que um aluno desrespeitasse daquela forma um professor. Depois, pela chacota geral dos outros alunos, a gozarem nitidamente o espectáculo e a fazerem comentários tão pouco abonatórios.
Dir-me-ão que se vê que não sou professor. Pois não, não sou. Mas sou pai de cinco rebentos, duas já com os seus cursos, um universitário e dois estudantes do secundário, todos em universidade e escolas públicas. Onde sempre estiveram toda a vida, com excelentes resultados, mérito do seu trabalho, de alguns bons professores em que tiveram a sorte de tropeçar e, porque não dizê-lo, do envolvimento que nós, pais, sempre nos preocupámos em ter na sua vida escolar, acompanhando os sucessos e as dificuldades que foram surgindo.
E, francamente, acho que é neste ponto que reside a diferença dessa barbárie a que, por vezes, se assiste. O problema é, em grande medida, educacional. Compete-nos a nós, pais, educarmos os nossos filhos para não serem agentes daquelas tristes figuras em nenhum sítio, muito menos numa sala de aula e contra um professor. Eu morria de vergonha se algum filho meu estivesse metido naqueles lençóis... e ele também não ficaria lá muito bem, de certeza, primeiro com a sua consciência e, depois, comigo.
Naturalmente que também há responsabilidades por parte dos professores. Já conheci bons professores, na plena assumpção do termo, que se dedicam por amor à sua profissão, que têm as competências necessárias para ensinar e que conseguem, com a sua atitude e pedagogia, conquistar os alunos e merecer o seu respeito. Também já conheci os que de professores só têm o título. Entre uns e outros vai a distância de um mundo, que propicia a que estes casos existam.
Bons e maus professores são uma realidade e uma questão de sorte, para os alunos e para o seu futuro. Mas que a educação dada (ou não) em casa ajuda muito (ou não), isso é, para mim, inquestionável.
Cenas semelhantes têm-se repetido com alguma frequência nos últimos tempos, sendo cada vez menos raras as histórias de agressões perpetradas por alunos a professores.
O que não augura nada de bom no panorama do nosso ensino público, pois que o privado tem meios próprios para evitar que este tipo de situações ocorra para além dos parâmetros da mera indisciplina. Começa por fazer, logo no início, uma pré-selecção, nem que por mais não seja que pelo dinheiro que sai dos bolsos paternos todos os meses, continuando por medidas correctivas imediatas que culminam com a pura expulsão do aluno indesejado.
O ensino público não tem nenhum destes meios. Para já, porque é gratuito – todos têm acesso a ele – e, depois, porque a figura da expulsão não é sistema a que recorra habitualmente, sendo excepcional o deste caso agora vindo a público.
Fiquei sinceramente aturdido com este vídeo. Primeiro, porque achava impensável que um aluno desrespeitasse daquela forma um professor. Depois, pela chacota geral dos outros alunos, a gozarem nitidamente o espectáculo e a fazerem comentários tão pouco abonatórios.
Dir-me-ão que se vê que não sou professor. Pois não, não sou. Mas sou pai de cinco rebentos, duas já com os seus cursos, um universitário e dois estudantes do secundário, todos em universidade e escolas públicas. Onde sempre estiveram toda a vida, com excelentes resultados, mérito do seu trabalho, de alguns bons professores em que tiveram a sorte de tropeçar e, porque não dizê-lo, do envolvimento que nós, pais, sempre nos preocupámos em ter na sua vida escolar, acompanhando os sucessos e as dificuldades que foram surgindo.
E, francamente, acho que é neste ponto que reside a diferença dessa barbárie a que, por vezes, se assiste. O problema é, em grande medida, educacional. Compete-nos a nós, pais, educarmos os nossos filhos para não serem agentes daquelas tristes figuras em nenhum sítio, muito menos numa sala de aula e contra um professor. Eu morria de vergonha se algum filho meu estivesse metido naqueles lençóis... e ele também não ficaria lá muito bem, de certeza, primeiro com a sua consciência e, depois, comigo.
Naturalmente que também há responsabilidades por parte dos professores. Já conheci bons professores, na plena assumpção do termo, que se dedicam por amor à sua profissão, que têm as competências necessárias para ensinar e que conseguem, com a sua atitude e pedagogia, conquistar os alunos e merecer o seu respeito. Também já conheci os que de professores só têm o título. Entre uns e outros vai a distância de um mundo, que propicia a que estes casos existam.
Bons e maus professores são uma realidade e uma questão de sorte, para os alunos e para o seu futuro. Mas que a educação dada (ou não) em casa ajuda muito (ou não), isso é, para mim, inquestionável.
Pedro Silveira Botelho
15 comments:
Na mouche, Pedro. Tenho para mim que muitos pais se demitem pura e simplesmente do seu papel de educadores. Ora, a escola, não sendo apenas um local de aquisição de conhecimentos, não pode substituir a formação de base, que se adquire fundamentalmente nos primeiros anos de vida. E que tem de ser, evidentemente, reforçada e consolidada com o passar dos anos, nesse núcleo fulcral para o desenvolvimento humano que é a família. Um abraço e parabéns por mais um belíssimo texto.
concordo na íntegra e assino em baixo aproveitando para deixar um voto pela lucidez deste texto.
Não tinha ainda falado aqui neste caso mas também eu concordo inteiramente contigo, Pedro. Muitos pais acham que a escola deve educar os filhos por eles, e isso é pura demissão. Pior ainda, cerram fileiras cegamente com os filhos quando estas coisas acontecem, e palpita-me que, lá no fundo, isso tem a ver com essa mal resolvida indiferença por eles, como a compensá-los por ela. Esquecem-se é de que fazem ainda pior, com essa atitude. E não os enganam nem os compensam, apenas convém aos filhos essa "solidariedade" nas horas de aperto e por isso a aceitam. É triste.
O que dizer das criancinhas que pulam no sofá onde nos sentamos perante a impassividade dos pais? Ou a interromperem constantemente as conversas, sem que os pais se imponham?
Não aguento quando oiço pais dizerem do filho de 2 anos: "Tem uma personalidade fortíssima!" ou "Tem um feitiozinho..."
Até prova em contrário, acho que as crianças são o que as deixamos ser. Nem mais, nem menos. Se em casa não lhes ensinam, desde pequeninos, o que é o respeito pelos outros, como irão elas aprender?
E este papel de educadores compete quase totalmente aos pais. Os professores devem, também eles, saber exigir educação e respeito aos alunos. O pior é que muitos pais e professores não têm, eles próprios, educação: uns não a dão e os outros não a pedem.
Só gostava de saber como se faz para resolver isto.
Completamente d'acordo. É assim que os pais preparam o "não-futuro" dos filhos...
Bem, conheço o Pedro há muitos anos mas só recentemente lhe descobri numa façeta que desconhecia:a de Pai corajoso e consequente (por exemplo, com o que escreveu aqui hoje). Isto porque conheço-lhe a origem socio-económica e sei bem como o classimismo neste país se vai perpetuando a começar pela educação. Ora eu sou professor na mesma escola onde um dos filhos do Pedro andou. Ela é povoada por uma população escolar com jovens muito dificeis e , os que não o são, provêm de uma realidade cultural que decididamente não é a do Pedro e dos seus filhos. Ora , não obstante, o S. fez lá o percurso escolar secundário até ao 12º ano.
A 1ª vez que o vi tratou-me por "tio". Olhámos um para o outro e percebemos, tacitamente, que essa forma de tratamento era claramnete desadequada naquele contexto. O S. adaptou-se de maneira muito madura a um ambiente do qual , de certeza, se sentiu de início, desfazado.Questionava-o a esse respeito, periodicamente.
Devo dizer que a partir desse facto, ABSOLUTAMENTE INUSUAL, ganhei uma admiração que nunca lhes expressei pelo Pedro e pela Teté. bem hajam!
Também ainda não ultrapassei o choque que foi «ver» aquilo de que apenas ouvia falar. Penso que a «causa» da atenção à boa educação das crianças, na escola como em casa, merece muito mais do que uma semana de noticiários. Por isso, gosto tanto de a ver retomada aqui e nestes termos.
Agradeço os vossos comentários e apraz-me ver a sintonia geral da vossa opinião sobre o papel fundamental dos Pais na educação, em termos latos, dos nossos Filhos. Não esperava outra coisa, sinceramente.
Miguel, lamento desiludir-te. Não sou especialmente corajoso pelo facto de pôr os meus Filhos a estudar em Escolas Públicas. Tal facto deve-se, exclusivamente, a razões de escala dada a prodigalidade da minha descendência (graças a Deus) versus o custo específico do ensino privado. Se tivésse tido condições, acredita que não tinha hesitado. Mas não pelas razões que apontas, pois em definitivo, não sou classicista. Mas porque, e é óbvio para mim, este aspecto particular da complementaridade do papel do Professor como Educador, é seguramente mais assumido no ensino privado do que no público. Saberás melhor isso do que eu, certamente. Mas também te digo, que a inevitabilidade de os ter posto no público, tem permitido que estejam mais preparados para as diferenças e para a realidade nua e crua da natureza humana, às vezes à custa de experiências desnecessárias que, por uma questão de sorte, não tiveram consequências dramáticas.
Um abraço.
� tudo uma quest�o de educa�o e essa come�a em casa, sem d�vidas! Bom texto, Pedro! � mesmo isso!
Sempre andei em escolas p�blicas, desde a prim�ria da prov�ncia at� � faculdade! No ciclo, trat�vamos as empregadas por 'tias' e no liceu andei no Pedro Nunes, que era, em tempos, a escola p�blica mais elitista de Lisboa! Havia em cada turma um ou dois, ou mesmo tr�s que se sentiam desintegrados, havia turmas de meninos 'n�o bem' que eram insultados, gozados e desprezados, por aqueles que julgavam ter o rei na barriga. Onde aprenderam a ser assim? Em casa, claro! Batiam com as portas, atiravam o lixo para o ch�o, tratavam as empregadas como criadas e os professores como seres inferiores. Na minha turma nunca tive cenas de viol�ncia, mas a m� cria�o vinha dos meninos da mais alta classe social! E acreditem que cenas como as que se fala na televis�o eram feitas por eles: rasgar os testes, chamar imbecil e n�o s� aos professores, fazer piadas de mau gosto, diminuir, grafitar as paredes com insultos... at� p�r alpista no bolso de um professor de apelido Passarinho! Acab�vamos todos na rua, uns a pagar pelos outros.
Conhe�o uma aluna que bateu num rapaz, durante a aula, e que a san�o foi ser suspensa durante tr�s dias e depois, trabalho comunit�rio na escola... n�o cumpriu nenhuma dessas penas, porque a m�e foi � escola dizer: Eu sou m�dica e o meu marido advogado, n�o somos de uma condi�o social que nos permita ter uma filha a lavar as casas de banho da escola!
Enfim, o costume! N�o h� s� cenas de m� educa�o nas escolas da Reboleira ou de Benfica, mas tamb�m nas escolas p�blicas que se gabam de ter os c�rebros do futuro! Muito c�ebro, nenhuma educa�o!
beijinhos ao Pedro e � Ana
Sofia, não imaginas como sabe bem ouvir (ler, no caso) alguém da tua idade dizer a essas coisas, com tanta lucidez. Esse costuma ser o discurso dos mais velhos, mas é muito bom saber que a mensagem vai passando para a geração seguinte. Nem tudo está perdido, portanto. Gosto de confirmar a possibilidade de alguma confiança no futuro, no meio do caoas a que assistimos.
Beijinhos
"Nunca pelearás con una persona que lleve gafas o lentes", norma importante de la Escuela Franquista Española (tesoros franquistas)
Ana: quanto à Sofia, subscrevo, com letras realçadas, tudo o que disseste dela. Tanto nível aos 22 anos, não se encontra por aí aos pontapés.
Pois não, Miguel. A Sofia é muito especial e eu orgulho-me de ser amiga dela.
Mas quero acreditar que não é a única a pensar assim...
Essa foi boa, Filomeno. Pena as normas franquistas não vigorarem nas escolas portuguesas, pelo menos safavam-se os professores que vêm mal...
Educação e acompanhamento familiar, sem dúvida sim.
E sempre.
Sem eles nunca será possível a escola e os professores cumprirem a suas funções de ensino e boa formação académica dos cidadãos do futuro.
Mas pergunto: como será possível esperarmos que Pais em que ambos trabalham, são mal pagos, socialmente enjeitados, que chegam a casa arrasados, que passem aos seus descendentes tudo aquilo que eles não conhecem, nunca tiveram, não têm, nem têm horizonte de jamais vir a ter ?
Não começa, de facto, toda esta problemática bem 'mais atraz' ?
E agora ? Quem e como se educam os Pais (ricos ou pobres) para que estes eduquem os seus próprios filhos ?
É certo que a responsabilidade da escola é o ensino e a dos Pais a educação, mas como efectivar a simbiose destas duas vertentes ?
Como solucionar o problema, pois é disto que se trata ?
Francamente não tenho a resposta.
Manuel Teixeira
(Sem filhos)
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