sexta-feira, 11 de abril de 2008

Old friends


"As old wood is best to burn, old horse to ride, old books to read, and old wine to drink, so are old friends always most trusty to use"
(D´Arcy W. Thompson)


Poucas coisas
são tão interessantes nesta vida como reencontrar velhos amigos após um longo tempo de separação. Várias situações podem acontecer, desde a profunda decepção à reconfortante certeza de que aquele(a) amigo(a) não o era por acaso. No primeiro caso, nada a lamentar. O próprio tempo que passou se encarrega de manter o afastamento, e tudo fica esquecido. No segundo, é muito bom saber que não nos enganámos àcerca de alguém.
O primeiro embate - mais divertido do que constrangedor - em que comparamos mentalmente a nova imagem com a recordação que tínhamos da pessoa, congelada no tempo, leva-nos quase sempre a concluir que a quantidade de cabelo perdido é inversamente proporcional à dos quilos e rugas ganhos, e que tudo isso é infinitamente menos importante do que alguma vez julgámos possível.
Depois vem o melhor: um invariável rol de boas lembranças, desfiadas da meada da memória (o tempo encarrega-se quase sempre, generosamente, de apagar as más) que nos fazem rir e sustentar uma conversa que poderia durar horas, se tivéssemos tempo para isso num simples almoço. As histórias partilhadas, as situações dramáticas ou cómicas, os êxitos alcançados, o destino de outros amigos (um bocadinho de má língua dá sempre alguma graça a estes reencontros), a orgulhosa exibição de fotografias da família que entretanto se criou, tudo isto com uma naturalidade e à vontade espantosos, como se tivessemos estado juntos na véspera.
Aconteceu-me ontem, com uma amigo de sempre que deixei pelo caminho há quase trinta anos. Era um estudante idealista, hoje é um homem maduro... ainda idealista. Que bom constatar que nem toda a gente fica amarga com as desilusões da vida! Que bom saber que ainda há gente de carácter, que não inverteu as prioridades nem cedeu ao cinismo! Foram duas horas bem passadas, e no fim a promessa de não mais deixarmos passar tanto tempo sem nos vermos. Seremos capazes de cumpri-la? Não sei, a vida é muitas vezes caprichosa. Mas espero que sim. De qualquer maneira, o reencontro valeu a pena.
(Nota: Um beijinho ao M., que passa por aqui de vez em quando. Gostei de rever-te, meu amigo).

10 comments:

fugidia disse...

Tem graça, a semana passada revi dois amigos que não via desde o secundário, um, e desde a faculdade, a outra.
É uma sensação muito engraçada e agradável quando percebemos que estamos quase iguais em muitas coisas...
Foi pena ter sido tão rápido...
Um beijinho e bom fim-de-semana, querida Av.
:-)

ana v. disse...

Bom fim de semana para si também, Fugidia.
Um beijinho

Anónimo disse...

Curiosamente, encontrei no sabado passado muitos,muitos amigos do passado, e foi exactamente como dizes.
E e tao bom...
Beijo

ana v. disse...

Olá, Melões. É óptimo, sim. E assim aos montes deve ser divertido.
Beijinho

O Réprobo disse...

Querida Ana,
é óptimo quando isso acontece, a bitola ideal de aferição dos nossos sentimentos, bem diferente do incómodo que nos chega do reencontro de meros conhecidos por quem passamos em momentos sem empatia e que surgem como importunas lembranças roubadas ao esquecimento que era seu por direito.
Só conheço uma sensação comparável, mas muito mais tranquila: é a de retomar uma conversa com um amigo no ativo, após algum tempo de afastamento físico, no ponto em que a tínhamos deixado. O sinal seguro de que nos importa não só o saldo do Outro, mas também todos os movimentos, ao ponto de lhe termos fixado e pensado as palavras e os posicionamentos.
Beijo

ana v. disse...

E é mesmo, Paulo. Interromper uma conversa e retomá-la no mesmo ponto, tempos depois, só mesmo com alguém com quem temos uma amizade tão grande que nos faz cúmplices perfeitos, com entendimentos que nem sempre se explicam.
Um beijinho

Anónimo disse...

Aqui fica um beijo grande para a menina Ana, que realmente não via há perto de 30 anos...E que revi com tanto prazer na Doca de Santo!

Obrigado por tudo! E sobretudo, obrigado pelo gostoso passeio pelo teu céu estrelado.

Manecas

ana v. disse...

Olá, Manecas, muito bem-vindo a esta estreia como comentador. Eu sabia que havias de entender-te com a caixa de comentários!
A menina Ana agradece também. Não só o almocinho na Doca de Santo como a longa conversa, que ainda vai no princípio.
Um beijinho e volta sempre

Anónimo disse...

Ana querida...

Não a conheço...mas amei muito do que li por aqui.
Reservei-me o direito até de 'copiar' algumas de tuas idéias entretanto com o cuidado de citar o seu blog como referência.
Sou brasileira,mas pelo seu português tão rebuscado e bonito ( tipo ..."gostei de rever-te" ),solene mesmo...fez-me supor isso.
Parabéns!
Com carinho,
Bel

ana v. disse...

Muito obrigada, Bel. Você é que é um amor. Volte sempre e leve o que quiser, claro.
Um beijo