segunda-feira, 31 de março de 2008

O pior de nós

Recebi este texto de um amigo, por e-mail, com o pedido de divulgá-lo pelos meus contactos. Melhor do que isso é pô-lo aqui, o que faço com muito gosto. Fiz alguma pesquisa para confirmar a veracidade desta história inacreditável, e parece que é mesmo verdadeira. Por incrível que pareça, um espírito doente lembrou-se de chamar Arte a esta cruel aberração. E, pior do que isso, alguém (com responsabilidades neste sector) lhe deu cobertura. Pela segunda vez, ainda por cima.
«Como muitos devem saber e até ter protestado, em 2007, Guillermo Vargas Habacuc, um suposto artista, acolheu um cão abandonado de rua, atou-o a uma corda curtíssima na parede de uma galeria de arte e ali o deixou, a morrer lentamente de fome e sede. Durante vários dias, tanto o autor de semelhante crueldade, como os visitantes da galeria de arte, presenciaram impassíveis a agonia do pobre animal. Até que ele finalmente morreu, seguramente depois de ter passado por um doloroso, absurdo e incompreensível calvário.

Parece-lhe forte? Pois ainda não é tudo: a prestigiada Bienal Centroamericana de Arte decidiu, incompreensivelmente, que a selvageria que acabava de ser cometida por tal sujeito era Arte, e deste modo tão absurdo Guillermo Vargas Habacuc foi convidado a repetir a sua cruel acção na dita Bienal em 2008. Facto que podemos tentar impedir, colaborando com a assinatura nesta petição:
(não tem que pagar nem registar-se para assinar a petição) para que este homem não seja felicitado nem chamado de 'artista' por tão cruel acto, por semelhante insensibilidade e desfrute com a dor alheia.»

Nota minha: Por outras fotografias que encontrei na net pode ver-se a indiferença com que os visitantes da galeria reagiram a esta "experiência". Ninguém se lembrou, ao que parece, de tirar dali o cão, de levar-lhe comida ou, pelo menos, de perguntar qual seria o seu destino. Por cima do animal, na parede, há frases escritas... com ração! A natureza humana não pára nunca de me surpreender.
Eu já assinei a petição, claro.

23 comments:

PSB disse...

Ana
Já depositei, de imediato, a minha assinatura. Fiquei enjoado com a perspectiva descrita e deu-me vontade de prender o 'artista' pelo pescoço e amarrá-lo a ele na próxima bienal, ao frio, à fome e à sede, como produto da sua própria arte. Macabra.
Um beijo

ana v. disse...

Tens razão, Pedro. Macabra.
Na fotografia de baixo, a frase escrita na parede devia ser antes "És o que fazes". Talvez assim aquilo tivesse algum sentido, mas mesmo assim é arrepiante pensar que ninguém fez nada. E que todos os visitantes daquela galeria de arte se consideram, provavelmente, boas pessoas...
Um beijo

Dona Betã disse...

Vou levar esta petição contra esta "coisa" tão inominável.
Todas as assinaturas são necessárias.

Tenho ouvido o teu disco. Já sei as letras de cor. Anda no meu ouvido pelo MP3 :))))

ana v. disse...

JG, vê lá não fiques surdo...
Beijinho

Octávio Diaz-Bérrio disse...

Mais exposição seria impossível!
Beijocas!

Teresa disse...

Chorei quando li a notícia, há uns meses. De horror, de revolta, de piedade... nem eu sei. Circulou na altura uma petição com este mesmo objectivo que também assinei de imediato (não me lembro de ser em espanhol, julgo que não era esta). Claro que já assinei.

Your signature number for this petition is 1609509.

Um beijo.

estrelicia esse disse...

Chocante! Só não percebo porque me senti vagamente culpada. Porque é que pensei que poderia ser eu? Não o cão, nem o artista mas os visitantes da exposição. Como se estivesse a jantar sossegadamente e a ver um documentário sobre o Dafur ou sobre a morte em Àfrica ou a guerra no Iraque e já nem reagisse. Assino claro a petição mas não me sinto bem com a minha consciência. Todos os dias pessoas morrem a fome e eu o que é que faço? Vejo-os morrerem na televisão e se for preciso continuo a jantar como se não fosse nada comigo.

CPrice disse...

Estrelícia permita-me dar-lhe os parabéns pela frontalidade do seu comentário.
Querida Ana, as minhas desculpas por fazer correio deste seu espaço.

Lembro-me bem da 1ª vez em que isto aconteceu, da hedionda realidade que foi aperceber-me que o animal que ali estava preso estava a morrer. De me ter apercebido que, ao que parece, nenhum dos visitantes da chamada exposição de arte algo fez para acabar com tal sofrimento.
Será que sabiam do que se tratava e em que condições estava o bicho? Provavelmente ..
E lembro-me também, depois do “sururu” que foi o colmatar desta situação, da entrevista que o seu autor nos concedeu. Entrevista que acompanhei com atenção na tentativa de perceber que limites lhe faltavam à maldade humana.
E de me ter entreolhado quando o ouvi afirmar que as mesmas pessoas dispostas a crucificá-lo pela morte “propositada” de um animal são as mesmas que deixam morrer à forme centenas de crianças por dia, sem nada fazer.
Afirmações brutais. Provavelmente verdadeiras.
Mas como não penso que mobilização de gentes para acabar com a pobreza passe pelo sacrifício de um animal indefeso, já assinei, de novo, a petição.

fugidia disse...

Morrem, de facto, milhares de pessoas de fome e pouco ou nada fazemos. Às vezes é preciso levar um murro no estômago para sairmos do adormecimento em que nos encontramos confortavelmente instalados. No entanto, também não concordo que esse murro implique o sacrifício de um ser vivo. Perde-se a razão na crítica que se faz mas, pior, é-se gratuitamente cruel.

ana v. disse...

Estrelicia, acho que pôs o dedo na ferida: a banalização do sofrimento humano foi uma das consequências mais perversas da globalização das notícias. Assistimos a mortes em directo (suficientemente longe para nos parecerem irreais) como se aquilo fosse uma ficção, enquanto jantamos e dizemos para o lado "passa o sal". É terrível esta alienação da realidade, que nos faz achar que nunca acontecerá connosco ou com os nossos e que estamos a salvo de todo o mal. É por isso que consideramos dramas outras coisas que não têm importância nenhuma.
Mas não é verdade que não se possa fazer nada para alterar essa indiferença. Não é preciso largar tudo e partirmos como missionários para cenários de guerra, num tudo ou nada que achamos romântico e que fica quase sempre em nada, basta tratarmos com humanidade e mais atenção as pessoas (e animais, claro) que estão à nossa volta e que sofrem. A escala é menos aparatosa, talvez, mas são essas as que podemos ajudar com mais eficácia.
Não pretendo dar lições a ninguém com este discurso, até porque sou a primeira a falhar. Fui voluntária dos hospitais durante uns anos e acabei por desistir por "falta de tempo". Mas sei que tenho tempo para outras coisas muito mais supérfulas. Aproveito esta reflexão para um mea culpa pessoal. Se este assunto servir para que outros o façam também, já valeu a pena.

Huckleberry Friend disse...

Junto ao vosso o meu mea culpa e a revolta pela aberrante pseudo-obra de arte. O propósito de alertar para a indiferença não justifica a desumanidade do que é feito ao cão.

SC disse...

Já tinha visto, infelizmente é mesmo verdade. É, de facto, revoltante!

O Réprobo disse...

Querida Ana,
já assinei, como, de resto, assinara a primeira petição. O que mais me irrita é que, com toda a crueldade e revolta emergentes, esse sujo indivíduo consiga uma publicidade inalcançável pelos seus méritos artísticos. Pelo que espero que tenha neste mundo sofrimento muito maior do que aquele que causou a um inocente, uma vez que estou seguro de que no Outro isso é coisa certa. Por vezes, as que cá se fazem também cá devem ser pagas.
Beijinho

ana v. disse...

Já tinha pensado nisso: não será esta uma manobra publicitária muito bem urdida, do "artista" ou da própria Bienal? Quem sabe? Publicidade garantida, a uma escala impensável de outro modo. É a velha máxima de que mais vale que se diga mal do que se ignore. Seja como for, embora de uma perversidade sem limites, serve pelo menos para abanar as nossas consciências, e já é qualquer coisa...

Anónimo disse...

Já assinei a petição contra esta triste, cruel e revoltante realidade.

Penso que a Ana terá razão, e não passará de um golpe publicitário do " artista", ou da galeria.

Não teriam coragem de repetir a " façanha", depois de tudo o que aconteceu no ano passado.


MA

João Paulo Cardoso disse...

Agora que já me tinha esquecido deste Guillermo e das suas "atrocidades artísticas", lá vamos nós para mais do mesmo, como é possível?

Se há gente que deveria ser torturada pelas FARC com malaguetas incandescentes rabo acima, era este ranhoso filho da puta.

Estou cansado deste mundo...

Beijos.

ana v. disse...

Este mundo é mais do que estas misérias, JP. Felizmente ainda há gente que compensa isto e que me faz manter a fé na espécie, apesar de tudo. Mas concordo contigo: essa das malaguetas era bem feita...

O que eu reparo é que toda a gente, menos eu, sabia disto desde a primeira vez. Eu só soube agora.

Bjs

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

isto já dura há uns meses...

o mundo está louco...

tcl disse...

já tinha visto isto quando aconteceu. não posso acreditar no que dizes. convidaram o animal para fazer o mesmo outra vez? ao que chegou a loucura... vou assinar, claro, espero que sirva para alguma coisa

Anónimo disse...

Vim aqui ter através do Zoo.
Obrigada pela divulgação desta indignidade, é preciso mesmo impedir aquela criatura maquiavélica de expor as suas ideias sádicas e insanas onde quer que seja. Dá volta ao estômago ver as fotografias do bicho, no meio da indiferença (quase) geral. Aquele olhar digno, para além do sofrimento - acho que não vou conseguir tirar esta imagem da cabeça tão cedo.
Embora a petição não refira a intenção de repetição da "proeza", encontrei a notícia on line na España Liberal, com data de 9 Março 2008. A petição data de Setembro do ano passado e já vai quase com 1 700 000 assinaturas.
Não resisti a fazer também um postal no meu blogue, para divulgar esta situação.
E em relação à nossa falta de "tempo" para ajudar os outros, acho que aqui o importante é que - a nenhum de nós passaria pela cabeça, alguma vez, fazer uma coisa semelhante - e que - repudiamos veementemente a actividade daquele energúmeno - e ainda que - gostaríamos que ele não pudesse expor, nunca mais, em mais lado nenhum!

ana v. disse...

Am.ma, seja bem-vinda. Obrigada pelo contributo para esclarecer este assunto.
Volte sempre.

Mad disse...

Não dá para acreditar que isto aconteça aqui mesmo ao lado!!! Já assinei, claro. Será que chega, ou é melhor ir lá e bater no filho da puta?

ana v. disse...

Não é bem aqui ao lado, miúda. Mas se quiseres dar um saltinho às Honduras (a Bienal é lá) quando voltares ao Brasil, acho que podes bater-lhe por todos nós.