sábado, 29 de março de 2008

Fasquias

A vida está cheia de estranhas coincidências. Que nos dão, se quisermos estar atentos, preciosas lições.
No mesmo dia aconteceu-me ouvir, de pessoas e em circunstâncias completamente diferentes, a mesma expressão para classificar-me: uma fasquia alta. Mas as reacções que este indubitável elogio produziu em mim foram, também, totalmente diferentes das duas vezes: numa delas senti-me recompensada pelo grau de exigência que procuro impor a mim própria, e estimulada para continuar a mantê-lo; na outra, pelo contrário, tudo o que desejei foi ser o oposto - uma fasquia bem mais baixa, dessas que qualquer atleta vence, sem medo do insucesso.
E assim constatei, uma vez mais, como tudo é relativo nesta vida.

10 comments:

cristina ribeiro disse...

Que verdadeiro.
Por vezes basta uma mínima inflexão, que cuidamos descortinar na voz, para sentirmos uma mesma coisa de forma muito diversa; doutras vezes é o nosso estado de espírito que nos comanda...
Beijinho

fugidia disse...

Tudo é mesmo relativo: a mesma realidade, vista de perspectivas diferentes é ela própria diferente (foi com o filme "O clube dos poetas mortos", em que o professor sugere aos alunos que observem a sala com pés no chão e com os pés na secretária, que percebi isso claramente - fazendo o mesmo).
Um beijinho :-)

ana v. disse...

Cristina,
É isso mesmo: às vezes está em nós, e na forma como vemos ou ouvimos as coisas em cada momento, que está toda a diferença.

Fugidia,
Esse filme é, todo ele, uma lição de vida. Lembro-me muito bem dessa cena, que tão bem ilustra o relativismo das coisas. E não creio que isto sejam Kantigas!...
;)

beijos às duas

Anónimo disse...

muito boa, essa do kantigas!

O Réprobo disse...

Querida Ana,
por vezes os Distinguidos com o Dom gostariam de estar ao alcance dos simples mortais, o que Os eleva mais ainda.
Sem essas Alturas, permita-me contar-Lhe uma história que corrobora o juízo sobre a relatividade:
estando eu na tropa, duas pessoas, no mesmo dia, me qualificaram com a mesma palavra, visando sentidos completamente diferentes.
Um dos soldados, a que eu, com um recurso meramente burocrático, conseguira livrar da situação de refractário, achava-se muito devedor e alimentava um culto que o fazia gozado pelos camaradas. Estando eu a debitar disparates sobre um qualquer tema, extasiado, aproximou-se de mim e disse "o Meu aspirante tinha jeito para Padre, não acha?".
No mesmo dia, passeando com um Alferes companheiro de noitadas, passámos junto do Seminário e louvei as instalações, dizendo que até estava tentado a trocar. Resposta: "estás maluco, Porto, a última coisa em que te via era em Padre!".
E tenho a certeza de que ambos me pretendiam fazer um elogio...
Beijinho

ana v. disse...

Querido Paulo, longe de mim (longíssimo, acredite) dar a entender que pertenço a algum Olimpo e que gostaria de descer ao nível dos simples mortais! Nada disso: acontece que, às vezes, é a desproporcionada ideia que outros têm de nós (e não aquilo que somos na realidade) que nos veda o acesso a uma qualquer aspiração perfeitamente comum. Tão comum como nós, afinal.
E quanto ao seu perfil eclesiástico... nah, também não vou nessa. O seu amigo Alferes tinha toda a razão, e nem sequer ainda tinha visto a Fabiana!
Um beijinho

musqueteira disse...

relativamente ao CD- parabéns! já o tenho.oiço-o agora!...
...rodopiar as fasquias nas suas diversas latidudes é fácil. mas, não há medo que vença a força para agarrar o leme na navegação... e navegar... sempre em frente... até a um horizonte qualquer... até onde nossos Olhos digam que vale a pena continuar -mar abaixo mar acima- a navegar a vida assim!
...assim. sempre assim. sem medo.

ana v. disse...

Musqueteira, adopto essa ideia: navegar sempre, até um horizonte que nos diga que valeu a pena vencer o medo. Porque há sempre medo, claro. Mas o que interessa é que a vontade de navegar seja mais forte do que ele.
Um beijinho

PSB disse...

Ana
É a velha questão da garrafa que, estando a meio, ainda está meio cheia para o optimista e já meio vazia para o pessimista (ou para o dono da garrafa...).
Um beijo

ana v. disse...

Eu sou das que a vê sempre meio cheia, Pedro. E não me tenho dado mal com esta visão da garrafa, felizmente. De uma maneira ou de outra, com boa vontade o que lá está dentro acaba sempre por chegar para todos os convidados.
Outro para ti