sexta-feira, 28 de março de 2008

Observatório VII




Hoje é Natal



Fomos agora surpreendidos (?) pelo presente de Natal inesperado (?) e fora de época (?) que Papai Zé Noel nos deu: devolveu 1% do Iva que nos tinha rou... sobrecarregado há três anos. Presente todavia incompleto, pois ainda guardou metade para futuras oportunidades, para além de outros impostos que, então aumentados, ficam agora na mesma.

A surpresa é, praticamente, nenhuma. O gato, escondido, já estava com o rabo de fora há algum tempo, pois as forças vivas já de há muito reclamavam a reposição deste imposto. Mas foi inesperada a precaução de devolver só metade, não fazendo a reposição para o nível de taxa em que estava, apesar das contas públicas estarem, ao que parece, de boa saúde, com o afamado défice bem controlado.

A época escolhida também não trouxe surpresa. Entrámos no ciclo da inevitável campanha eleitoral, com as inevitáveis benesses que acompanham as promessas de um futuro melhor, tantas vezes meros slogans de campanha, tantas vezes ignoradas, tantas vezes não cumpridas. Como esta, aliás, da promessa furada de não aumentar os impostos.

Mas não deixa de ser curioso o aviso à navegação feito pelo Ministro das Finanças, de que os agentes económicos deveriam fazer reflectir esta prenda no sapatinho do consumidor, ajustando, para baixo, os preços dos produtos que vendem já com o Iva incluído, uma vez que o imposto baixou. É curioso porque parte do princípio de que esses agentes o não vão fazer.

E acho que tem razão. Também duvido que o mercado baixe preços só porque este imposto baixou, apesar de os ter aumentado quando subiu. É um contra-senso, bem sei. É pouco…honesto, diria, mas não acredito que sobre os produtos correntes do nosso consumo diário sintamos qualquer diferença.

Portanto, o que sobra? Que as empresas vão pagar menos imposto, mas, cobrando o mesmo sobre o consumo, vão ficar mais ricas. Será que essa riqueza se vai reflectir na economia através de novos investimentos nos aparelhos produtivos, melhorando, assim, indirectamente, a vida de todos nós?

Sinceramente, também duvido. Mas temos sempre no horizonte próximo a expectativa de novos rebuçados, que nos adocem a boa vontade de continuarmos a acreditar nas campanhas que por aí hão-de vir, nas promessas que nos hão-de (re)fazer, sempre na eterna esperança de um País melhor, mais desenvolvido, mais próspero, mais europeu...

Em que, francamente, também já não acredito...
Pedro Silveira Botelho

6 comments:

João Paulo Cardoso disse...

É o nosso Portugalindo!!

Beijos e bom fim de semana.

Anónimo disse...

Um texto lúcido e atento, como sempre. É uma pena que tenhamos de ser forçosamente pessimistas se quisermos ser realistas, no panorama que temos hoje em dia pela frente.
Um abraço

ana v. disse...

Gostava de acreditar que toda esta fartura (!) significará uma melhoria de vida para os portugueses, mas os políticos habituaram-nos a só "ver para crer", infelizmente. E... tenho que concordar contigo, Pedro, temos visto muito pouco.

João Paulo, presumo que os beijos sejam para mim. Obrigada e bom fim de semana também (já só metade).

Anónimo disse...

um bocadinho menos de desalento não lhe fazia mal, caro Pedro. a vida é tão bela às vezes, homem! aproveite-a bem. com todos os problemas que existem, mesmo assim vale a pena vivê-la em pleno. digo-lhe eu, que já vivi uns anos valentes e só me arrependo do que não fiz.
abraço amigo

Huckleberry Friend disse...

Antes de mais, um abraço ao amigo e homónimo. É a primeira vez que comento o teu Observatório, mas leio-o desde a primeira vez. E um beijinho à Ana pela excelente ideia de acolhê-lo aqui no blogue.

Se dúvidas houvesse, leia-se este último texto. Eis desmontadas uma suposta boa notícia, que afinal pouco vai aproveitar ao comum dos mortais, e a artimanha de lançá-la de forma faseada. Os restantes dois por cento ficam para mais perto das eleições!

PSB disse...

Agradeço aos comentadores com um abraço para todos. Mas tenho que fazer uma pequena correcção ao 'nosso' anónimo: não me move o desalento mas sim o descrédito nos nossos políticos e na politiquice caseira, pequenina, que os caracteriza. Sou, acima de tudo, um optimista, com plena consciência da vida e da possibilidade que tenho de a poder gozar, certamente, melhor que muitos. É nestes que penso, quando os resultados das acções dos nossos politiqueiros, nos joguinhos de poder que lhes dão gozo, trazem dificuldades acrescidas a uma já tão pouco motivada expectativa de uma vida melhor. Para todos.