sábado, 8 de dezembro de 2007

Matilde



Em "arrumações e limpeza" de ficheiros de música no computador, encontrei hoje esta canção do meu velho amigo Pedro Guerra (há muito tempo que não o punha aqui, não se podem queixar...) "Matilde (el marido de la peluquera)" e lembrei-me de uma encomenda que tive para traduzi-la, o que me divertiu imenso.
Acabei por não fazer uma tradução nem sequer uma adaptação - achei que o absurdo e as ironias castelhanas perderiam todo o sentido em português - e propus fazer, em vez disso, uma letra completamente nova, mantendo só o tema e o título. Aceitaram, felizmente. Não tenho a versão portuguesa digitalizada mas aqui deixo a letra que fiz e a versão original, uma delícia do surrealismo saída do desconcertante talento do Pedro Guerra.

Matilde (o marido da cabeleireira)

Acordo ensonado
(sete da manhã),
já ela se enfeita,
se pinta, se ajeita,
rói uma maçã.
Atira-me um beijo
e sai apressada,
deixando o feitiço
do corpo roliço
na licra apertada.

Entra no transporte,
empurra e refila.
Como uma guerreira
conquista a cadeira
da primeira fila.
Tão longe a cidade,
tão grande a ambição…
Sai cara a demora,
está quase na hora
de abrir o salão.

Matilde, pequena
princesa de folhetim,
que tortura, que poema,
esses gestos de cinema
à Marylin!

Dá cor e beleza
ao mundo real:
Ninguém, como ela,
faz da Cinderela
uma história banal.
Domina, com graça,
conversas ligeiras,
segredos de alcova
que enrola na escova,
com as cabeleiras.

Regressa à noitinha,
provocante e bela,
e diz-me, ao ouvido,
coisas sem sentido
que ouviu na novela.
Fico atordoado
de orgulho e ciúme,
com medo que, um dia,
tanta fantasia
leve o seu perfume…

Matilde, pequena
princesa de folhetim,
que tortura, que poema,
esses gestos de cinema
à Marylin!
(Nota: A canção tem 2 títulos: "Matilde (...)" e "Nunca Mas". O imeem escolheu o segundo)

3 comments:

Sofia K. disse...

Como eu gosto de Pedro Guerra, no outro dia cantou lá no meu cais, uma música natalícia... o célebre Feliz Navidad... uma delícia! Já tenho a discografia toda dele, por isso por mim podes pôr as vezes que quiseres!

beijinhos

p.s. Adorei a que me mandaste por e-mail - PERFEITA!

Anónimo disse...

Ana,
Adoro este teu trabalho que resulta em original por virtude de recusa de uma tradução de um original que recusate fazer.
Não conheço o original, mas este, o teu, acho fabuloso.
Tem que ser musicado e gravado.
Está mesmo a pedir !
(Sérgio Godinho? Rui Veloso? Pedro Abrunhosa? ou...?)

ana v. disse...

Manel,
Não sei o que aconteceu à música que eu tinha posto aqui (é por isso que eu não gosto do imeem) mas garanto que estava cá o original. Quanto à minha versão de letra, completamente diferente da espanhola, já foi gravada (pelo António Pinto Basto) com a música do Pedro Guerra, mas é pouco conhecida por cá. Se alguém quiser pegar nela outra vez, não tenho nada contra.