De tanto ouvir Bach, acabou por especializar-se na arte da fuga.
6
comments:
Anónimo
disse...
Sensacional, este "curtas"! A beleza da peça, certamente. Mas a agilidade felina de quem o concebeu e deu à luz deixou-me encantado. Deixar-me-ia sempre, acredito. Mesmo que fosse uma loira... E é, para mim, um bom pretexto de tornar o passado presente, uma forma de não voltar atrás, sem mais. De muito escutar Bach e trautear os seus magníficos corais, e tanto ouvir e cantar as composições de Paul Simon, anos a fio que duram até hoje, hoje mesmo, foi-me evidente, desde 1973 - data em que foi editado o álbum "There Goes Rhymin' Simon", o seu segundo, a solo, com a belíssima faixa "American Tune" - que o tema era, no mínimo, muito próximo de alguns corais das Paixões. Além do gosto e do conhecimento que a experiência traz, o meu "ouvido" - não "absoluto", embora - detectou facilmente a semelhança. Nunca lhe chamei plágio, porém. Um músico e compositor da dimensão de Simon não precisa de plagiar. Sempre estive convencido que não o fez, nunca o faria, com esta ou qualquer outra composição, embora a identificação da fonte talvez devesse ter sido mais clara. E acho que tinha razão. Cito: "(...) The political pessimism of American Tune had been hinted at in a couplet that Paul contributed to a Mass composed by Leonard Bernstein in 1971 (...). The melody, except for the bridge, was not Paul's. It was an old Lutheran hymn, also borrowed by Bach for St. Matthews Passion (...)". Ele não merece a acusação ou o desgosto de quem o aprecia, Ana. Especialmente agora, em final de carreira. Uma coincidência, não mais. Apesar de tudo feliz. Entre dois músicos geniais, que o tempo reencontrou. Deixo para os especialistas em direito de autor outro tipo de conversa. A música, afinal, também sempre fez e faz parte da minha vida. A Arte da Fuga é apenas mais um episódio.
PS: Num dos comentários ao "Ouvido absoluto", o Mário Cordeiro, arrastado pelo proverbial entusiasmo que o caracteriza em defesa da sua dama, chamou plágio ao hino nacional alemão. Não tem razão. A melodia do hino alemão foi composta por Haydn, no final do séc. XVIII, e corresponde ao segundo andamento de um famoso quarteto de cordas. Foi adoptada como hino nacional (Das Lied der Deutschen), dizem alguns, no início do século XX. Assumidamente. E não é caso único. Nada tem que ver com plágio, para o efeito que nos ocupa.
Touchée, Cage. Fizeste bem os trabalhos de casa e eu acato a lição humildemente. Além disso, quase conseguiste baralhar-me outra vez. Foi por pouco. Mas eu disse "quase"... Devolveste-me o respeito que eu tinha perdido pelo Paul Simon e fico feliz por isso, embora eu nunca tenha deixado de amá-lo. E obrigada pela "agilidade felina", um elogio que fica bem a loiras e a morenas. No meu caso, talvez uma onça. Ou uma pantera negra, como a do teu Benfica.
PS: Quanto a plágios e roubos, no melhor pano cai a nódoa. O próprio Picasso disse uma vez numa entrevista (e concordarás comigo que também não precisava de copiar ninguém): "Good artists borrow. Great artists steal".
É inevitável que trechos de música, letras ou arte acabem por ser parecidos ou "ir beber" a outros lados. Se se diz que um artista deve conhecer outros, amá-los e vivê-los, é natural que algumas frases (melódicas ou não) saiam espontaneamente como se fossem de nossa autoria. O nosso cérebro funciona assim, e não é por acso que as pessoas que vivem juntas, por exemplo, adquirem um mimetismo muito especial em atitude, trejeitos e expressões (e até facial!). Quanto a plágio, não creio que fosse essa a minha intenção relativamente ao hino alemão, mas se foi, disse burrada e burrada inapropriada, porque obviamente, como o Cage diz, não é um plágio, é uma adaptação.
A propósito de plágios, não é? Pois é, meus amigos, aqui está o genuíno "Arte da Fuga"! The one and only, para que conste. Seja muito bem vindo a esta tertúlia de carolas, AA :)
Para a autobiografia A MINHA VIDA de Lou Andreas-Salomé, a mulher que teve o amor de Rilke e de Nietzsche, e que conviveu intimamente com Freud, Gillot, Rée, e muitos outros homens célebres da sua época. Um relato interessantíssimo, na primeira pessoa, de uma mulher excepcional. Para um dos meus filmes preferidos de sempre - QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?, de Mike Nichols - que revejo sempre com o mesmo prazer. É superior o texto de Edward Albee, são-no também as interpretações, de um casal "ao rubro", de Liz Taylor e Richard Burton. O filme, não por acaso, conseguiu um feito único na história do cinema: foi nomeado para todas as categorias dos Oscares, em 1966. Para o filme AS HORAS, que vai fundo na análise da infelicidade extrema dos inadaptados sociais, tendo como novidade o prisma de uma outra infelicidade: a das pessoas ditas "normais" que os amam e rodeiam, sofrendo tanto ou mais do que eles e não tendo, sequer, o bálsamo da loucura ou da genialidade. Interpretações inesquecíveis de Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep. Para o filme DIÁRIO DE UM ESCÂNDALO, em que Judi Dench e Cate Blanchett nos guiam maravilhosamente, num brilhante argumento, pelos meandros da manipulação e da perversão femininas. Não percebo como não levou quase todos os Oscares do ano. Para o filme INFAMOUS, de Douglas McGrath, em tudo superior ao mediático e oscarizado "CAPOTE" (que aborda o mesmo tema). Um lote de actores de primeira água numa produção de baixo orçamento, a provar que os filmes fora do mainstream estão cada vez mais na moda, nos States. Para o filme HABLE CON ELLA, de Pedro Almodôvar, que consegue a proeza de transformar em pura poesia um dos mais abjectos crimes imagináveis - a violação - cometido, ainda por cima, sobre uma mulher completamente indefesa. Um filme que fala de um amor incondicional, desesperado, comovente. De um amor que, no seu profundo desajuste, nos faz questionar tudo e redime aos nossos olhos toda a Humanidade.
6 comments:
Sensacional, este "curtas"! A beleza da peça, certamente. Mas a agilidade felina de quem o concebeu e deu à luz deixou-me encantado. Deixar-me-ia sempre, acredito. Mesmo que fosse uma loira...
E é, para mim, um bom pretexto de tornar o passado presente, uma forma de não voltar atrás, sem mais.
De muito escutar Bach e trautear os seus magníficos corais, e tanto ouvir e cantar as composições de Paul Simon, anos a fio que duram até hoje, hoje mesmo, foi-me evidente, desde 1973 - data em que foi editado o álbum "There Goes Rhymin' Simon", o seu segundo, a solo, com a belíssima faixa "American Tune" - que o tema era, no mínimo, muito próximo de alguns corais das Paixões.
Além do gosto e do conhecimento que a experiência traz, o meu "ouvido" - não "absoluto", embora - detectou facilmente a semelhança.
Nunca lhe chamei plágio, porém. Um músico e compositor da dimensão de Simon não precisa de plagiar. Sempre estive convencido que não o fez, nunca o faria, com esta ou qualquer outra composição, embora a identificação da fonte talvez devesse ter sido mais clara.
E acho que tinha razão. Cito: "(...) The political pessimism of American Tune had been hinted at in a couplet that Paul contributed to a Mass composed by Leonard Bernstein in 1971 (...). The melody, except for the bridge, was not Paul's. It was an old Lutheran hymn, also borrowed by Bach for St. Matthews Passion (...)".
Ele não merece a acusação ou o desgosto de quem o aprecia, Ana. Especialmente agora, em final de carreira.
Uma coincidência, não mais. Apesar de tudo feliz. Entre dois músicos geniais, que o tempo reencontrou. Deixo para os especialistas em direito de autor outro tipo de conversa.
A música, afinal, também sempre fez e faz parte da minha vida. A Arte da Fuga é apenas mais um episódio.
PS: Num dos comentários ao "Ouvido absoluto", o Mário Cordeiro, arrastado pelo proverbial entusiasmo que o caracteriza em defesa da sua dama, chamou plágio ao hino nacional alemão. Não tem razão. A melodia do hino alemão foi composta por Haydn, no final do séc. XVIII, e corresponde ao segundo andamento de um famoso quarteto de cordas. Foi adoptada como hino nacional (Das Lied der Deutschen), dizem alguns, no início do século XX. Assumidamente. E não é caso único. Nada tem que ver com plágio, para o efeito que nos ocupa.
Touchée, Cage.
Fizeste bem os trabalhos de casa e eu acato a lição humildemente. Além disso, quase conseguiste baralhar-me outra vez. Foi por pouco. Mas eu disse "quase"...
Devolveste-me o respeito que eu tinha perdido pelo Paul Simon e fico feliz por isso, embora eu nunca tenha deixado de amá-lo.
E obrigada pela "agilidade felina", um elogio que fica bem a loiras e a morenas. No meu caso, talvez uma onça. Ou uma pantera negra, como a do teu Benfica.
ana
PS: Quanto a plágios e roubos, no melhor pano cai a nódoa. O próprio Picasso disse uma vez numa entrevista (e concordarás comigo que também não precisava de copiar ninguém): "Good artists borrow. Great artists steal".
É inevitável que trechos de música, letras ou arte acabem por ser parecidos ou "ir beber" a outros lados. Se se diz que um artista deve conhecer outros, amá-los e vivê-los, é natural que algumas frases (melódicas ou não) saiam espontaneamente como se fossem de nossa autoria. O nosso cérebro funciona assim, e não é por acso que as pessoas que vivem juntas, por exemplo, adquirem um mimetismo muito especial em atitude, trejeitos e expressões (e até facial!).
Quanto a plágio, não creio que fosse essa a minha intenção relativamente ao hino alemão, mas se foi, disse burrada e burrada inapropriada, porque obviamente, como o Cage diz, não é um plágio, é uma adaptação.
:)
A propósito de plágios, não é? Pois é, meus amigos, aqui está o genuíno "Arte da Fuga"! The one and only, para que conste.
Seja muito bem vindo a esta tertúlia de carolas, AA :)
Enviar um comentário