sábado, 2 de junho de 2007

Espelhos


Chega de política.
O assunto é desinteressante, embora haja quem consiga transformá-lo quase em música.
Mas não eu.
Para afugentar a nossa triste realidade, deixo-vos mais um poema.
Desta vez, ainda fresquinho: acabado de sair no novíssimo livro Ante-sala, de uma grande poeta brasileira, uma amiga que muito prezo e admiro:
Astrid Cabral, aqui muito bem acompanhada por mais um dos meus pintores favoritos: René Magritte.

CONHECER-SE

A gente se despe
em frente a espelhos
e ousa enfrentar-se.

Porém, não há mesmo como ver-se,

blindada a alma
e as costas inalcançáveis.

Somos opacos.
Translúcidos, apenas a radiografias.
Contudo, resta a ânsia
de bem nítido nos vermos,
na dimensão do real.
Mas, por mais que nos olhemos,
o eclipse é sempre total.

Astrid Cabral, in Ante-sala

Nota:
Finalmente descobri como revelar as fontes das imagens publicadas neste blog. E pronto: o seu a seu dono.

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