quinta-feira, 13 de março de 2008

Sintra revisited - 1

Agora que o tempo melhorou um bocadinho (aqui está frio, mas, desde que haja sol, não me importo) retomei o meu velho hábito de andar a pé. Fazia-o diariamente, bem cedo ou ao fim da tarde, no paredão Estoril-Cascais - quase 6 Km, mas sempre planos. Agora, ao mudar-me para Sintra, tenho que encher-me de coragem para as contínuas subidas e descidas que me esperam por todo o lado, o que torna o exercício mais difícil e cansativo. Mas também mais estimulante. E aproveito para revisitar muitos dos locais da minha infância, onde há muito tempo não passava a pé (de carro é completamente diferente).
Nesse aspecto, Sintra é, toda ela, um verdadeiro paraíso perdido. Há locais que se mantêm secretos e quase desconhecidos dos turistas, outros perderam-se irremediavelmente na voragem do progresso e estão irreconhecíveis. A verdade é que descobri neste jogo de redescobertas um prazer enorme, feito de emoções e de surpresas. Vou fotografando recantos e pormenores, com a sensação renovada de viver uma aventura, como quando era miúda e as muitas lendas da serra, do castelo dos mouros e do palácio da Vila me levavam ao rubro a imaginação, já de si atreita a fugas.
Proponho-me desvendar aqui alguns desses pequenos prazeres, sempre que puder. Do meu passeio de ontem, aqui ficam as primeiras imagens que recolhi, ao calcorrear a Volta do Duche, desde a Correnteza ao Parque Valenças.

A Correnteza, com a estátua do Soldado Desconhecido ao fundo, onde esfolei os joelhos a aprender a andar de bicicleta. Muitas e boas recordações deste espaço, que continua igual.

A nova Biblioteca Municipal de Sintra, uma vizinha simpática mas que acabou com o estacionamento fácil por aqui.

A SAPA, com as suas míticas queijadas (os musts gastronómicos de Sintra, em versão doce, obedecem a esta tradição inalterável: queques no Preto, queijadas na Sapa, travesseiros na Piriquita e pasteis de nata no Gregório).

O Palácio da Vila, omnipresente e majestoso.

A Casa de Chá da Raposa, mágico e irresistível bric-a-brac onde tudo está à venda, até as cadeiras e as mesas onde nos sentamos, e além disso um refúgio romântico ideal para um chá com scones e bolo de chocolate, para qualquer paixão (clandestina ou não) que se preze.

O portão do Parque Valenças, hoje chamado Parque da Liberdade (embora lhe chamássemos simplesmente O Parque e ali gozássemos de toda a liberdade do mundo, muitos anos antes de ter mudado de nome).

A fonte da Volta do Duche, de inspiração mourisca, quase a chegar à Vila.

O Café Elite, onde o meu avô tinha uma mesa cativa para uma tertúlia diária com amigos, ao fim da tarde. Hoje é também uma espécie de supermercado e perdeu toda a mística desses tempos. No lugar da tal mesa, à janela, está uma arca de gelados...

E, finalmente, a vista da janela onde escrevo estas palavras. A fotografia não lhe faz inteira justiça, mas foi o que saíu.

Por hoje é tudo, com as desculpas pela má qualidade das imagens (a fotografia não é, definitivamente, uma arte que eu domine...).

11 comments:

African Queen disse...

Obrigada Ana. Que belo passeio através das tuas palavras e imagens :).
És uma privilegiada... mas sabes disso, claro! Sintra é um daqueles lugares raros no mundo que além da beleza natural e da beleza que lhe foi acrescentada pelo homem... tem uma mística, um "je ne sais quoi" que a torna mágica.
Continua a levar a máquina fotográfica quando fores passear, está bem? :)

Sofia K. disse...

Ainda bem que andas lá a pé que de carro, miúda, és um perigo naquelas estradinhas!

Isto não é justo! Estou eu aqui em casa cheia de trabalho a ver passar as horas, ou melhor, a vê-las fugir e tu aí a ver esse solzinho!

As queijadas passo (se houver também como, olha quem!), os queques e os pastéis de nata fico à espera que me leves lá e já sabes que me caem mal se comer só um! Depois passeamos muito para abater os quilinhos a mais. Os travesseiros, podias mandar-me um e meio (como sempre!) por correio expresso, para sobremesa?

Um dia destes conto-te uma história da raposa e de Sintra... andei por aí com uma paixão clandestina, muitas vezes, ao som do Sérgio Godinho! Queres melhor?

Sintra é também a minha infância, andavámos sempre a pé, horas e horas e acabávamos estafadas a comer travesseiros, o nosso consolo. E depois também foi passeio com os meus três porquinhos (aliás, quatro!), desde muito pequeninos. Um dia destes repito o passeio e fazemos-te uma visita!

Beijos, vou voltar ao trabalho

P.S. Sabes que a chaminés do Palácio da Vila têm 33 metros de altura? Uma vez um senhor disse-me isto e nunca mais esqueci!

O Réprobo disse...

Querida Ana,
Sintra é para mim local mítico desde que, no tempo da Outra Senhora, passei umas Férias Grandes inteiras no saudoso Hotel Neto, mais tarde desactivado, mas na altura com muito pessoal e grande ocupação. Ali mesmo juntinho ao Paço da Vila.
Beijinho

PSB disse...

Pois claro. Um pouco de modéstia fica sempre bem a qualquer um. Mas desengana-te Ana. As tuas fotografias estão muito boas e ilustram tão bem o teu relato! Que nos transporta contigo que nem Eça.
Beijinhos e obrigado pelo passeio que nos deste.

Huckleberry Friend disse...

Belíssimo périplo... lembra-me os passeios que dei por Sintra para fazer um trabalho sobre Os Maias, no liceu. Da Lawrence a Seteais, nada nos escapou. E muitos outros passeios, antes e depois disso (um deles com uma grega ao voltante, fazendo das curvas da serra uma autêntica montanha-russa!).

Hei-de voltar à vila em breve: prometeram-me visitas ao Castelo dos Mouros, à Regaleira e a Monserrate. E eu prometi re-visitas ao Palácio da Vila, à Raposa, ao Museu do Brinquedo, ao Cantinho de São Pedro e à praia da Adraga. E qualquer dia, com coragem, volto também à da Ursa...

Capitão-Mor disse...

Grato por estas recordações dessa terra encantada e plena de evocações místicas. Mas confesso que gosto mais do que está além da Serra e locais que fazem parte da minha vida. Colares, Praia Grande, Adraga...
Um abraço!

SC disse...

Que belo passeio que eu dei agora, sem sair do lugar! Muito obrigada. Também gosto imenso de Sintra, mas passo os doces. Continuo fã de caminhadas planas, (quase) à beira-mar.

Karocha disse...

Olá Ana
também gosto muito de Sintra, bonitas imagens:-)

ana v. disse...

Obrigada a todos, ainda bem que gostaram. Prometo mais passeios comentados. Beijinhos

tcl disse...

peco. mas o meu pecado é dos antigos. inveja. inveja da vista do teu terraço e dos vasos cheios de flores. a mim, morre-me tudo menos a hortelã, erva danada que revive sem cuidados.

ana v. disse...

tcl,
Pecas duplamente, porque o teu terraço também tem uma vista invejável... e não desprezes a hortelã fresca, que fica a matar num chá marroquino (de menta) com pinhões. Hummm, que saudades!