quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Do surrealismo aéreo nacional


«Na tentativa de fazer um fim-de-semana prolongado diferente, um amigo meu - vou chamar-lhe P. - decidiu vir a Bruxelas na passada quinta-feira. Para tanto, comprou um bilhete de avião de ida e volta à TAP (o surrealismo começa aqui, está-se mesmo a ver) para um voo que, saindo cedinho de Lisboa, aterrava em Bruxelas às 11h30 da manhã, hora local.
Assim, apresentou-se no check-in do aeroporto de Lisboa cerca das 6h30 da manhã. Porque é portador de uma deficiência motora, o P. desloca-se numa cadeira de rodas, tendo sido necessário fornecer-lhe assistência para o levar até ao avião. Feito o check-in, apareceu um senhor bagageiro para desempenhar a tarefa.Foi conduzido através do aeroporto, mas não pela normal zona de embarque. Passou no raio-x usado pelas tripulações e viu-se do lado de fora do aeroporto, tendo sido transportado até ao avião à segunda tentativa do bagageiro de pôr uma carrinha a trabalhar (a primeira não tinha bateria, pois tinha sido deixada com as luzes acesas durante toda a noite).
Após a entrada no avião, sentou-se no lugar indicado no seu talão de embarque, mas, momentos depois, apareceu um segundo passageiro para o mesmo lugar. A situação foi prontamente resolvida pela hospedeira, pois havia muitos lugares desocupados. Fechadas as portas, o avião fez-se à pista e uma voz fez-se ouvir nos altifalantes, dando início ao pesadelo do P.: Senhores passageiros, fala-vos o comandante. Bem-vindos a bordo deste voo da TAP com destino a Zurique.
Sim, leram bem, não me enganei. O P. tinha sido empurrado até ao avião errado, nenhum elemento da tripulação tinha verificado o seu cartão de embarque, nem quando se levantou o problema dos dois passageiros para o mesmo lugar e conclui-se de que não servira de nada as hospedeiras terem andado para a frente e para trás a fingir-se muito concentradas a contar os passageiros, pois o avião ia descolar com um passageiro a mais. Isto diz muito acerca da competência das pessoas e das questões de segurança aérea, não diz?
Mas, continuando o impensável!...
Apercebendo-se de que estava no avião errado, o meu amigo informou uma hospedeira acerca do facto, mas a mesma disse-lhe que nada podia fazer, informando-o de que o avião estava mesmo quase a levantar voo. No entanto, a hospedeira garantiu que informaria o comandante que, por sua vez, deveria informar os serviços da TAP, em última instância os de Zurique, que deviam tratar do reencaminhamento do passageiro para Bruxelas.
Passaram-se três horas, que é sensivelmente o tempo de voo entre Lisboa e Zurique. Aterrado o avião, o P. telefonou a explicar o que lhe acontecera e eu, conseguindo ver na Internet que havia um voo Zurique-Bruxelas dali a 45 minutos, disse-lhe qual era o número da respectiva porta de embarque. Lá chegado, ele pôde constatar que nenhum funcionário da TAP tinha feito o que quer que fosse para reparar a falha cometida. Nas três horas de voo, ninguém lhe tinha reservado bilhete para Bruxelas, ninguém o esperava para o reencaminhar para outro voo, ninguém lá estava nem para um simples pedido de desculpas, para nada. A TAP despejou-o, pura e simplesmente, num país que não era aquele para o qual queria viajar. Foi a Suiça, mas podia ter sido o Brasil, os EUA ou Cabo Verde... Foi um adulto, mas podia ter sido uma criança.
Após vários telefonemas à portuguesa, para amigos dos primos das secretárias dos vizinhos dos porteiros das empregadas da limpeza dos administradores da TAP, lá conseguimos que duas antas se dignassem a contactar o P., a dar-lhe vouchers para almoçar e a informá-lo de que lhe reservariam um lugar no próximo voo, que chegaria a Bruxelas às seis da tarde.
Resta-me ainda contar que também foram surrealistas as respostas que obtive nos telefonemas que fiz para localizar a bagagem do P.. Entre outras pérolas, a menina o serviço de bagagens da TAP assegurou-me que as bagagens teriam seguido para Bruxelas. Quando lhe perguntei se não era verdade que, por razões de segurança, são retiradas dos aviões as bagagens dos passageiros que faltam ao embarque, ela respondeu-me que desconhecia esses procedimentos. Perceberam bem? O serviço de bagagens DESCONHECE os procedimentos RELATIVOS ÀS BAGAGENS nos casos de não embarque dos passageiros. Mas não está só. A senhora do balcão da TAP de Bruxelas, com quem também falei, que me disse que trabalha para a TAP HÁ VINTE ANOS, também me disse que, embora não mo podendo assegurar, também lhe cheirava que as bagagens tinham vindo no avião para Bruxelas. Aconselhou-me a meter-me no carro e a ir procurá-las no aeroporto de Bruxelas (coisa inteligente, que haveria de servir-me de muito, sem eu sequer dispor do número da bagagem...)
Sucede que eu, que nunca trabalhei para nenhuma companhia aérea, estava certa. A bagagem, que tinha sido colocada no voo para Bruxelas, teve de ser retirada do avião, devido à falta de embarque do passageiro. Por essa razão, o voo saiu de Lisboa com uma hora de atraso. Culpa de quem?...»
Encontrado aqui. Reproduzo na íntegra, porque estas coisas acontecem muito mais vezes do que deviam e são graves, por isso têm de ser divulgadas.

5 comments:

Anónimo disse...

I M P R E S S I O N A N T E ! ! !

É verdade que coisas como estas podem (infelizmente) acontecer, mas é no solucionar e no repôr da normalidade do funcionamento, que se destinguem os verdadeiros profissionais dos outros, e ao que parece (infelizmente) a TAP está entre 'os outros'...

Há que reclamar e exigir qualidade no serviço prestado para que 'a balda', o 'nacional porreirismo' a 'falta de qualidade' não possam continuar a ser norma.

Carlota disse...

Muito obrigada, Ana, pela divulgação da história. Acho que assim vai mesmo ficar toda a gente a saber. Excelente!
:)

ana v. disse...

Manel,
Tens razão. O nosso mal é sermos pacíficos de mais, aceitamos tudo sem reclamar. E isso tem que acabar, não é?

Carlota,
Seja bem vinda, volte sempre.
Acho mesmo importante divulgar estas coisas, para que as pessoas não se conformem e se habituem a exigir qualidade nos serviços que pagam (e bem...). Quanto mais gente souber, melhor.
bjs

Capitão-Mor disse...

Bom, acredito que a tua irmã tenha umas histórias ainda bem piores sobre voos e aeroportos!

Mad disse...

Fantástico. E o que eu acho mais fantástico ainda não é o P. ter sido enfiado no avião errado, é duas funcionárias da TAP não saberem que se tiram bagagens de passageiros não embarcados! Tenho uma parecida (mas não tão grave, nem por sombras!), de uma vez que embarquei para cá, na TAP, pouco tempo depois do 9/11. Fizeram uma birra desgraçada para me tirarem da bagagem de mão uma porcaria dum estojo de unhas (lá os convenci a entregar ao piloto, em vez de deitarem fora), mas depois serviram-me talheres de metal ao almoço! Está-se mesmo a ver que fiz uma escandaleira no avião...