“As mulheres carregam nos olhos os fogos dos sete infernos. Pode-se pegar na carne delas, qualquer trecho do corpo: é quente. Não será do sol do mundo. É das antiquíssimas labaredas, que elas atravessam sem se queimar.
Mas o fogo aquece-as para sempre e a cintilância das labaredas perdura, anzol ou garra de ar.
As mulheres quando morrem vão, mas voltam vestidas de outras peles e de outros cabelos para continuar os serviços lá delas. O diabo autoriza quando estão no ponto: “Voltem”. O diabo sabe o que faz. Aí elas se misturam de novo no meio dos povos e o aroma delas é de raízes silvestres. As curvas feitas nas ancas são cavadas pessoalmente pelo diabo que recheia muito bem recheada a parede das ancas. Ele mira e remira as ancas e satisfeito sorri, o hábil oleiro.
O diabo ensina as artes de falar; de sorrir; de prometer; de chorar; de aliciar; de imantar, de fingir, até elas alcançarem a sabedoria: para ir deixando um rastro de estragos.
Dizem que há exceções. Quanto a essa parte não sei.” Haroldo Maranhão (escritor brasileiro - 1927-2004)
Emprestado da Meg, no SubRosa, este texto de Haroldo Maranhão é altamente provocatório. Apenas misógino? Sábio? Atrevo-me a dissecá-lo:
Há qualquer coisa, realmente, na natureza feminina - a influência em nós dos ciclos lunares, por exemplo, que o diga - que está profundamente ligada aos primórdios. E os homens sempre diabolizaram o que não entendem e os assusta, exactamente porque não o entendem (muitas "bruxas" acabaram na fogueira por causa disso, literalmente ou em sentido figurado). Não sabem, claro, que tudo o que queremos é amá-los. Mas sentem, ou intuem (a intuição é mais do nosso foro, por isso será talvez instinto de sobrevivência), que esse amor pode, por vezes, ser-lhes fatal.
O tão aclamado "sagrado feminino" encerra em si um enorme poder que tem alguma coisa de perverso, há que reconhecê-lo. A infinita complexidade das mulheres (e também a pura necessidade, num mundo patriarcal), muniu-as de várias e sofisticadas armas, frequentemente usadas de maneira pouco limpa. E os homens, com toda a sua pirotecnia de superioridade, são afinal muito mais vulneráveis. Mais expostos. Até porque lhes é exigido que exibam os atributos de uma força que lhes deve ser natural. As mulheres podem recolher as garras e simular fragilidade, se isso lhes convier, mas aos homens isso não é permitido: presos na sua própria teia, cumprem o arquétipo que lhes foi atribuído, pagando o preço da previsibilidade. Assim, resta-lhes esmagá-las com essa mesma força de que são, eles próprios, cativos. Tudo isso antes que o façam elas, de formas mais subtis e quase sempre mais devastadoras.
Homens e mulheres navegam, desde sempre, num único e irremediável equívoco: presumir que a outra metade fala a mesma língua. Interpretamo-nos uns aos outros à luz de códigos duplos, julgando-os os mesmos. E todos os conflitos derivam daí. P.S.: Parabéns à Meg pelo seu Sub Rosa, que acaba de fazer 6 anos de vida!
9 comments:
Viva!!!!!!!
Vou pdir para todos os amigos virem aqui:-))
Não por minha causa, mas por causa do Haroldo.
Só pra sua informação, querida;
Ele teve dois livros publicados em Portugal e a minha primeira recensão crítica a ser publicada no exterior foi sobre um livro de Haroldo e para quem, mesmo? Ora ora vejam só!: para a Fundação Calouste- Gulbenkian, na passagem da direcção da revista prestigiadíssima do bom Luis Amaro para o maravilhoso David Mourão-Fereira: a COLÓQUIO LETRAS!
É só ir na Fundação hohoho
E o outro fato que une o grande Haroldo Maranhão a Portugal é seu romance A Porta Mágica que ganhou o Prêmio Vórtice , em Coimbra
Ele recebeu o prêmio das mãos do profesor ÒSCAR RAMOS.
Isso, a Ana está a ver que não é pra qualquer.
E Haroldo em seu dicurso de recebimento do Prêmio discursou abrindo o speech citando o grande Frei Luís de Souza!
Louvo portanto a grande sensiblidade da Ana - realmente uma escritora e Poetisa. E agora, como crítica
****
A Ana está a ver que, por mim, ficaria como sempre vindo ao seu magnífico blog e extasiando-me. Muda e queda! Mas se falou em Haroldo Maranhão, dispo-me dos pudores.
Ambos, a Ana e Haroldo merecem
=-=-=
Grande beijo. Emoção incexcedível.
Como o Lord diz, seu texto é maravilhoso. E sua fina percepção é admirável
Meggy, Meguita.
Meg
Meguíssima: Se eu soubesse que a palavra mágica era Haroldo, há muito tempo que a tinha já escrito aqui!
Ainda bem que falou, querida. Aliás fale sempre, sempre que quiser. Esta casa é sua.
E obrigada pelas palavras simpáticas sobre mim. Uma honra, vindas de você, Meguita.
Um beijo transatlântico
Ana
Continuando este tema, a Ana aprofunda um dos mistérios mais profundos e intrigantes (e inquietantes) da Humanidade: a sua relação com os lobos.
Ficam aqui excertos de dois poemas:
"Nos densos arvoredos das trevas
Ques e rasgam no corpo
E me devoram
Sempre que os lobos
À mneia-noite
Choram"
Em Os Lobos de Maria Teresa Horta
"Ó Senhora do Amparo
Amparai os homens todos
Amparai-os para a taberna
E as mulheres p´ró céu dos lobos
Em O Poeta e as Lobas, de Natália Correia
"A avó cruza as agulhas sobre a colcha
E fala dos uivos e dos medos
Que povoam a lembrança obscura dos montes.
Escuta, é a voz dos lobos. E eu escuto."
Por amor dos lobos – José Jorge Letria
"Quando sei que nunca cumpres
O que me juras agora
Só queria ser como o lobo
Que mata e depois não chora..."
Clara Pinto Correia
"Não nos deixes nunca
belo
livre
lobo
Vive!"
“Ao Lobo”, de Ana Hatherly
Mário, que bela recolha! Estás melhor?
Este teu comentário deu-me uma ideia: queres organizar comigo uma antologia sobre este tema? Adorava, é um tema que também me fascina. Deixo-te aqui o convite on-line, um desafio. Só espero que ninguém nos roube a ideia. Já estou a pensar em formatos, ideias para enriquecer o livro... mil ideias que, se aceitares, podemos trabalhar. Que tal?
HOMENS SÃO DE MARTE,
MULHERES SÃO DE VÉNUS
John Gray
"Era uma vez um marciano e uma venusiana que se encontraram, se apaixonaram e se casaram.
No início, tudo eram flores, mas após algum tempo, foram acometidos de forte amnésia e esqueceram que vinham de planetas diferentes.
Desde então, nunca mais se entenderam.
Marcianos dão muita importância ao trabalho, aos desafios, às conquistas.
Venusianas gostam de conversar para criar relações e compartilhar sentimentos.
Marcianos são os homens, venusianas as mulheres, e essas diferenças são apenas algumas na verdadeira teia de divergências que fazem com que os dois sexos não se entendam.
Uma das maiores diferenças entre homens e mulheres é como eles lidam com problemas.
Quando um homem está com um problema, ele se retira para dentro de sua caverna interna à procura de uma solução.
Quando um homem está enfiado em sua caverna, ele está impotente para dar à sua parceira a qualidade de atenção que ela espera.
As mulheres interpretam mal o silêncio de um homem. Dependendo de como está se sentindo naquele dia, ela pode começar a imaginar o pior.
As mulheres precisam entender que quando um homem está em silêncio, ele ainda não sabe o que fazer mas está procurando uma solução.
Os únicos momentos em que uma mulher fica em silêncio, é quando, o que ela tem a dizer é lesivo, ou quando ela não confia na pessoa.
Por isso não é de se admirar que as mulheres fiquem inseguras quando um homem repentinamente fica calado.
Os homens vão para dentro de suas cavernas ou ficam calados por uma série de razões:
1. Ele precisa pensar sobre o problema e encontrar uma saída.
2. Ele está confuso e não tem uma resposta para o problema ou situação.
3. Ele ficou aborrecido. Em tais momentos ele precisa ficar sozinho para se acalmar e restabelecer o equilíbrio.
Quando um homem vai para dentro de sua caverna, ele geralmente está com um problema, ou está confuso, e está tentando resolver seu problema sozinho.
Um homem pode começar a se sentir sufocado quando uma mulher tenta confortá-lo ou ajudá-lo a resolver o problema.
Neste momento:
- Não desaprove sua necessidade de se afastar.
- Não tente ajudá-lo a resolver seu problema oferecendo soluções.
- Não tente compreendê-lo fazendo perguntas sobre seus sentimentos.
- Não se preocupe ou sinta pena dele.
É difícil para um homem quando a mulher exige que ele fale. Especialmente quando ele não está com vontade de falar.
Isto porque, quando um homem fala de seus sentimentos, ele admite, erroneamente, que, de alguma forma, ele é responsável ou culpado."
Este texto é de um livro de Jonh Gray que me fez rir enquanto o lia ou me lembrava de certos momento relatados. Não sei senão deveria ser livro de cabeceira de casais.
Mas senão fossem vocês, as lobas mulheres ou mulheres lobas, que seria de nós mais a nossa atracção para o "abismo". Já basta o que tem acontecido com tantos homens que por aí se perdem e que foram obrigados a viver só, uns com os outros.
Vocês podem ser o que quizerem, perversas, complexas, faladoras, sujeitas a ciclos lunares, sei lá.
Nós, pirotécnicos, vulneráveis, mais expostos, enfim outros mais adjectivos.
Mas caímos aqui os dois Mulher e Homem como meteoritos vindos de Vénus e Marte, e temos mais é que nos entender ou nunca, Cabe a nós resolver.
É o que dizes NAVEGAMOS NUM ÚNICO E IRREMEDIÁVEL EQUÍVOCO: PRESUMIR QUE A OUTRA METADE FALA A MESMA LÍNGUA.
Bjs, pp.
Querido PP, a tua capacidade de ver sempre o lado bom de tudo é das coisas que mais me enternece em ti. E que faz de ti um amigo precioso aos meus olhos.
Não tenho a tua pureza, e acho que as coisas não são assim tão simples. Desconfio dessas "bíblias" redutoras, que nos catalogam e nos transformam em clones uns dos outros como se todos os homens e todas as mulheres fossem iguais. É verdade que há códigos que nos identificam e nos atiram para um dos lados, mas depois há muitas zonas de penumbra também. Há homens venusianos e mulheres marcianas, e há Vénus e Marte em todos nós. E ainda bem, porque se não fosse assim é que não havia mesmo convivência possível.
Acho difícil chegarmos um dia a falar todos a mesma língua, mas podemos sempre ir tentando a tradução simultânea, não é?
Essa da tradução simultânea está muito bem vista vou adotar esse sistema.
Eu sei que o nosso conteúdo é bem diferente, não tenho dúvidas quanto a isso, basta essa grande diferença que é a da maternidade e paternidade e do modo como sentimos nossos filhos.
Claro que são Biblias redutoras, mas como eu acho que este inigma me transcende, prefiro muitas das vezes ver pelo lado possível de termos de nos entender mesmo com a tradução simultânea.
bjs, pp.
Arrematado.
Mas ainda estou à espera da resposta ao meu Quizz sobre o Lobo Mau e o Lobisomem. Sem isso, nada feito! Porque esse é o alfa de tudo. E se calhar o omega do caso McCann.
A televisão ainda te contrata em vez do Moita Flores, Mário.
Não tenho respostas, mas acho que os lobos representam o nosso lado mais negro, mais selvagem. Terá a ver com a rejeição dos filhos ou com a violência sobre eles, por exemplo. Condenamos o que tememos, sobretudo o que tememos em nós, no nosso íntimo. Os lobos são uma metáfora para os nossos sentimentos mais secretos, que apelam ao animal que há em nós e está sempre pronto a vir ao de cima. E dos quais nos envergonhamos. Será isso o teu alfa?
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