sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Modernidade


«Meu homem moderno tem orgasmos longos, erecções vítreas e telescópicas, meu homem feliz é bem informado e cínico, conhece bem as tragédias modernas mas se lixa para elas, não por maldade mas por uma crua "maturidade", um alegre desencanto. Meu homem vive em velocidade. O mundo da Internet, do celular, do mercado financeiro global imprimiu-lhe seu ritmo, dando-lhe o glamour de um funcionamento sem corrosão, uma eterna juventude que afasta a morte.

Meu homem feliz intui, confusamente, que a aventura da verdadeira solidão é apavorante. Daí ele evita que qualquer profundidade existencial possa pintar, que a ideia de morte e finitude apareça à sua frente, senão sua "liberdade" ficava insuportável. E aí ele passa a viver um paradoxo: ligar-se sem ligar-se. Ele percebe que precisa do casamento protector como uma esperança de "sentido". Aí, ele se casa, entre risos dos amigos, como se tivesse cedido a uma fraqueza. E viverá infeliz, numa eterna insatisfação»
Teresa Ribeiro, no Corta-Fitas, citando o sempre cáustico e certeiro Arnaldo Jabor, que também disse isto:
«Brevemente ouviremos a aeromoça falando: "senhores passageiros, em caso de assalto cairão automaticamente à sua frente coletes de aço e capacetes protetores contra tiros. Coloquem, e depois tenham calma com os ladrões. Não invadam a primeira classe, toda blindada e equipada com kits de sobrevivência, com champanhe e caviar para sequestros de longa duração.»
E ainda isto: «A miséria não acaba porque dá lucro».

4 comments:

Lord Broken Pottery disse...

Ana,
Não sei bem o que sou. Moderno, feliz? Talvez mais moderno do que gostaria ou precisaria ser, menos feliz do que precisaria ou gostaria de ser.
Grande beijo

ana v. disse...

Isso também não sei, milord.
Mas não me parece, pelo que tenho lido seu, que evite ou fuja da reflexão existencial ou que tenha pavor da solidão. E muito menos que encontre num celular ou num relógio mais sofisticado a fonte de toda a felicidade. Engano-me?

beijo (pouco moderno)
ana

teresa ribeiro disse...

Obrigada pela simpática referência, que só agora vi. A citação do Jabor sobre a miséria é genial!

ana v. disse...

Bem vinda a esta casa, Teresa.
É, o Jabor é mestre em frases certeiras!