Na minha bicicleta de recados
eu vou pelos caminhos.
Pedalo nas palavras atravesso as cidades
bato às portas das casas e vêm homens espantados
eu vou pelos caminhos.
Pedalo nas palavras atravesso as cidades
bato às portas das casas e vêm homens espantados
ouvir o meu recado ouvir a minha canção.
Na minha bicicleta de recados
eu vou pelos caminhos.
Vem gente para a rua a ver a novidade
como se fosse a chegada do João que foi à Índia
e era o moço mais galante que havia nas redondezas.
Eu não sou o João que foi à Índia
Eu não sou o João que foi à Índia
mas trago todos os soldados que partiram
e as cartas que não escreveram
e as saudades que tiveram
na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas.
Desde o Minho ao Algarveeu vou pelos caminhos.
E vêm homens perguntar se houve milagre
perguntam pela chuva que já tarda
perguntam pelos filhos que foram à guerra
perguntam pelo sol perguntam pela vida
e vêm homens espantados às janelas
ouvir o meu recado ouvir a minha canção. Porque eu trago notícias de todos os filhos
eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos
e um cesto carregado de vindima
eu trago a vida na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas. (Manuel Alegre)
Ennio Morricone - Il Postino |
9 comments:
Perfeito para prosseguir as férias, vizinha, de preferência na ciclovia!
É verdade, mas prefiro o paredão. E a pé, por muito que goste de bicicletas!
Abraços, Ana. E boas pedaladas pelos caminhos da utopia.
Mário
Na minha bicicleta de recados
eu vou pelos caminhos.
Pedalo nas palavras atravesso as cidades
bato às portas das casas e vêm homens espantados
ouvir o meu recado ouvir minha canção.
Na minha bicicleta de recados
eu vou pelos caminhos.
Vem gente para a rua a ver a novidade
como se fosse a chegada
do João que foi à Índia
e era o moço mais galante
que havia nas redondezas.
Eu não sou o João que foi à Índia
mas trago todos os soldados que partiram
e as cartas que não escreveram
e as saudades que tiveram
na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas.
Desde o Minho ao Algarve
eu vou pelos caminhos.
E vêm homens perguntar se houve milagre
perguntam pela chuva que já tarda
perguntam pelos filhos que foram à guerra
perguntam pelo sol perguntam pela vida
e vêm homens espantados às janelas
ouvir o meu recado ouvir minha canção.
Porque eu trago notícias de todos os filhos
eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos
e um cesto carregado de vindima
eu trago a vida
na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas.
Manuel Alegre
Olá, Mário.
Sei que sabes, tão bem como eu e o Manuel Alegre, que é pedalando pelos caminhos da utopia que se atravessa a madrugada dos poemas. E este poema é lindo.
Gostei do que trouxeste na tua bicicleta dos recados. E quando o João for à Índia, não te esqueças de dar notícias.
Um beijo
O poema é, de facto, lindo - e há sempre Índias à espera dos Joões.
Por acaso, o assunto bicicleta está a despertar-me enorme interesse, porque o que o MA aqui descreve tem algo de "Postino de Pablo Neruda" e de um ritmo humano e aldeão de sentir o mundo.
Vou tentar descobrir mais coisas...
Beijinhos e bom fim de semana.
Se estiver muito calor, venho aqui apanhar um bocadinho de vento.
Tem graça, quando li o poema lembrei-me logo do carteiro do Neruda. Tem a mesma ingenuidade e a mesma simplicidade que davam ao filme toda a graça. Haja almas assim, é do que estamos todos a precisar.
(Vou passar o poema para este post da bicicleta. Se encontratres mais textos, manda sempre).
Beijos
Já lá está. E lembrei-me agora duma coincidência engraçada: o carteiro chamava-se Mario, também.
E já somos 3, e certamente não seremos os únicos, cujos pensamentos são desviados para o carteiro de Neruda. Talvez mesmo o MA tenha ido aí beber.
bjs, pp.
Olá, PP, que surpresa!
Sejas muito bem vindo a esta casa. E tiveste um baptismo de luxo, com poesia e música. Volta sempre.
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