Por um lado é uma private joke que não posso comentar aqui. Por outro, e por isso cá está, é infelizmente uma verdade universal. No mato ou na cidade, tanto faz. bjs ana
Venho aqui, com muito gosto, comentar pela primeira vez. Até porque, leio os seus textos com enorme prazer. Hoje mesmo, lá atrás, li deliciado e divertido, "A Generala".
Porém, em algumas das questões da actualidade estou em desacordo consigo. É o caso do presente post, no qual a política é tida como "espectáculo sórdido", coisa que sendo pontualmente ou parcialmente verdadeira, não é, de modo algum, a verdade toda. Há gente que exerce a política com sentido ético, competência e coragem, sem se afastar do sentido nobre da causa pública. É certo que nos meandros (há quem lhes chame "corredores") do poder, há terreno fértil para oportunistas, corruptos, ambiciosos, em guerra pelo seu território de visibilidade ou de preponderância, mas aqueles que acreditam no seu próprio projecto político são habitualmente gente capaz, ainda que, admito, viciada em técnicas de ilusionismo e tácticas de defesa através do ataque. Em suma, gente versada nas artes de Maquiavel.
A mim, que fujo a sete pés dos meandros do poder, tendo presente que a única forma de poder que verdadeiramente me interessa é a de ser senhor de mim próprio, não me é fácil entender porque é que a política tão frequentemente aparece, ou é tomada, como fenómeno diferenciado das restantes actividades humanas. E também me é difícil aceitar que no nosso tempo a economia e os negócios absorvam quase toda a atenção mediática. Por exemplo: separa-se com excessiva ligeireza os campos da política e da cultura, como se esta não compreendesse estratégias, projectos e decisões políticas, como se isto, afinal, não andasse tudo ligado.
Para concluir, que já me alonguei, penso que a descredibilização da política e dos políticos, tão frequente nos media e também em voga entre alguns "movimentos de cidadãos", é um elemento perigoso do actual sistema democrático. Abraços.
Roteia, Antes de mais, muito obrigada pela visita e pelos elogios, sem dúvida estimulantes. É uma honra tê-lo neste barco, e espero que volte sempre. Quanto ao reparo que me faz, o eterno perigo das generalizações, acuso o toque e acho que tem toda a razão. Mas há dias em que estamos particularmente saturados dos jogos de poder e da podridão que eles quase sempre envolvem. Olhe, apanhou-me num desses dias! Ao contrário do que posso parecer com este cepticismo, gosto de considerar todos inocentes até prova em contrário. Mas sei que, na política, os inocentes e bem intencionados não vingam: ou aprendem a dançar conforme a música, ou são cuspidos do sistema, pelo incómodo que causam e, provavelmente, pelo espelho que põem à frente de quem já se vendeu... A descredibilização dos políticos é um facto perigoso, concordo, mas não me parece que a culpa seja só dos media ou dos "movimentos", como diz. Infelizmente, os motivos partem quase sempre dos próprios, que se põem a jeito para toda a espécie de críticas e dão razão aos acusadores. Apesar de tudo, acho que já o disse aqui, agradeço aos políticos o facto de ocuparem lugares que eu odiaria ter, e a verdade é que alguém tem que desempenhar esses papeis. Seja por pura ambição ou por espírito de serviço, a verdade é que envelhecem todos mais depressa do que eu! E pronto, também já me alonguei. Mas o seu comentário lúcido merece que o tenha feito. Uma vez mais, obrigada e volte sempre.
Para a autobiografia A MINHA VIDA de Lou Andreas-Salomé, a mulher que teve o amor de Rilke e de Nietzsche, e que conviveu intimamente com Freud, Gillot, Rée, e muitos outros homens célebres da sua época. Um relato interessantíssimo, na primeira pessoa, de uma mulher excepcional. Para um dos meus filmes preferidos de sempre - QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?, de Mike Nichols - que revejo sempre com o mesmo prazer. É superior o texto de Edward Albee, são-no também as interpretações, de um casal "ao rubro", de Liz Taylor e Richard Burton. O filme, não por acaso, conseguiu um feito único na história do cinema: foi nomeado para todas as categorias dos Oscares, em 1966. Para o filme AS HORAS, que vai fundo na análise da infelicidade extrema dos inadaptados sociais, tendo como novidade o prisma de uma outra infelicidade: a das pessoas ditas "normais" que os amam e rodeiam, sofrendo tanto ou mais do que eles e não tendo, sequer, o bálsamo da loucura ou da genialidade. Interpretações inesquecíveis de Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep. Para o filme DIÁRIO DE UM ESCÂNDALO, em que Judi Dench e Cate Blanchett nos guiam maravilhosamente, num brilhante argumento, pelos meandros da manipulação e da perversão femininas. Não percebo como não levou quase todos os Oscares do ano. Para o filme INFAMOUS, de Douglas McGrath, em tudo superior ao mediático e oscarizado "CAPOTE" (que aborda o mesmo tema). Um lote de actores de primeira água numa produção de baixo orçamento, a provar que os filmes fora do mainstream estão cada vez mais na moda, nos States. Para o filme HABLE CON ELLA, de Pedro Almodôvar, que consegue a proeza de transformar em pura poesia um dos mais abjectos crimes imagináveis - a violação - cometido, ainda por cima, sobre uma mulher completamente indefesa. Um filme que fala de um amor incondicional, desesperado, comovente. De um amor que, no seu profundo desajuste, nos faz questionar tudo e redime aos nossos olhos toda a Humanidade.
5 comments:
E isto é o quê? (vá, eu vivo no mato...)
Por um lado é uma private joke que não posso comentar aqui.
Por outro, e por isso cá está, é infelizmente uma verdade universal. No mato ou na cidade, tanto faz.
bjs
ana
Venho aqui, com muito gosto, comentar pela primeira vez. Até porque, leio os seus textos com enorme prazer. Hoje mesmo, lá atrás, li deliciado e divertido, "A Generala".
Porém, em algumas das questões da actualidade estou em desacordo consigo. É o caso do presente post, no qual a política é tida como "espectáculo sórdido", coisa que sendo pontualmente ou parcialmente verdadeira, não é, de modo algum, a verdade toda. Há gente que exerce a política com sentido ético, competência e coragem, sem se afastar do sentido nobre da causa pública. É certo que nos meandros (há quem lhes chame "corredores") do poder, há terreno fértil para oportunistas, corruptos, ambiciosos, em guerra pelo seu território de visibilidade ou de preponderância, mas aqueles que acreditam no seu próprio projecto político são habitualmente gente capaz, ainda que, admito, viciada em técnicas de ilusionismo e tácticas de defesa através do ataque. Em suma, gente versada nas artes de Maquiavel.
A mim, que fujo a sete pés dos meandros do poder, tendo presente que a única forma de poder que verdadeiramente me interessa é a de ser senhor de mim próprio, não me é fácil entender porque é que a política tão frequentemente aparece, ou é tomada, como fenómeno diferenciado das restantes actividades humanas. E também me é difícil aceitar que no nosso tempo a economia e os negócios absorvam quase toda a atenção mediática. Por exemplo: separa-se com excessiva ligeireza os campos da política e da cultura, como se esta não compreendesse estratégias, projectos e decisões políticas, como se isto, afinal, não andasse tudo ligado.
Para concluir, que já me alonguei, penso que a descredibilização da política e dos políticos, tão frequente nos media e também em voga entre alguns "movimentos de cidadãos", é um elemento perigoso do actual sistema democrático.
Abraços.
Roteia,
Antes de mais, muito obrigada pela visita e pelos elogios, sem dúvida estimulantes. É uma honra tê-lo neste barco, e espero que volte sempre.
Quanto ao reparo que me faz, o eterno perigo das generalizações, acuso o toque e acho que tem toda a razão. Mas há dias em que estamos particularmente saturados dos jogos de poder e da podridão que eles quase sempre envolvem. Olhe, apanhou-me num desses dias! Ao contrário do que posso parecer com este cepticismo, gosto de considerar todos inocentes até prova em contrário. Mas sei que, na política, os inocentes e bem intencionados não vingam: ou aprendem a dançar conforme a música, ou são cuspidos do sistema, pelo incómodo que causam e, provavelmente, pelo espelho que põem à frente de quem já se vendeu...
A descredibilização dos políticos é um facto perigoso, concordo, mas não me parece que a culpa seja só dos media ou dos "movimentos", como diz. Infelizmente, os motivos partem quase sempre dos próprios, que se põem a jeito para toda a espécie de críticas e dão razão aos acusadores.
Apesar de tudo, acho que já o disse aqui, agradeço aos políticos o facto de ocuparem lugares que eu odiaria ter, e a verdade é que alguém tem que desempenhar esses papeis. Seja por pura ambição ou por espírito de serviço, a verdade é que envelhecem todos mais depressa do que eu!
E pronto, também já me alonguei. Mas o seu comentário lúcido merece que o tenha feito.
Uma vez mais, obrigada e volte sempre.
Ana
Estamos entendidos!
Abraços.
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