House - um vício de estimação Deixei-me viciar. Não vejo novelas, e desde Sete Palmos de Terra que não seguia uma série. Mas há uns tempos, confesso, voltei a ligar a televisão para ver o Dr. House. Religiosamente.
Não sou a única, claro. A série tem sido um estrondoso sucesso por todo o mundo, e em Portugal também. Não sei se por estarmos todos cansados do moralismo insuportável do Dr. Phil e das xaropadas lamechas da Oprah, aderimos sem restrições a este médico cínico, mal educado, insensível e anti-ético, cujo comportamento nega em absoluto todos os valores sagrados que esperamos encontrar nessa profissão. Talvez estejamos todos fartos dos politicamente correctos que, do alto da sua razão incontestável, nos obrigam a afogar os individualismos e a deixarmo-nos diluir na manada. Talvez nos dê um certo gozo sádico ver alguém que é bem sucedido arrasando os outros, coisa que tantas vezes gostaríamos de ser capazes de fazer. Ou talvez, por distracção, tivéssemos subestimado o poder sedutor do Mal, e a personagem de House nos atraia por personificar essa eterna tentação do abismo, tão antiga como o mundo. Porque o maior fenómeno é esse: não vemos House como um vilão, mas sim como um simpático antipático. Criaram-se clubes de fãs e choveram pedidos para que se prolongassem, ad eternum, as suas brilhantes crueldades. A rainha Isabel II agraciou o actor com um título nobiliárquico, a Academia deu-lhe um Óscar televisivo e a série ganhou vários prémios de prestígio. Há até um site para os adictos - Housisms - com as melhores tiradas "à House" de cada episódio, nas três épocas da série. Enfim, o enfant terrible é amado e todos se lhe renderam.
Há, evidentemente, explicações mais pacíficas para tanto êxito: o texto é bom e tem um humor inteligente, o charme britânico e os olhos azuis de Hugh Laurie são irresistíveis, a dor física que o acompanha sempre justifica o seu comportamento, ele afinal no fundo não é assim tao mau, etc. Acrescente-se à lista o que se quiser, a verdade é que nenhum de nós gostaria de ter um tipo destes à cabeceira, mas todos ficaríamos mais descansados sabendo-o, no covil do seu gabinete, a decifrar enigmas médicos e a diagnosticar a nossa doença. House representa o cérebro puro, totalmente desprovido de qualquer forma de emoção ou daquilo a que chamamos humanidade. E como o seu mundo é o do sofrimento, muitas vezes extremo e mesmo terminal, o choque que nos provoca essa atitude é ainda maior. Mas ele é um cientista, e o seu único fito é o Conhecimento. Para obtê-lo, todos os fins justificam todos os meios. Tem um ego desmesurado, despreza fragilidades e sentimentos, trai confianças e não perdoa erros. É detestável, em suma. Mas nós, os viciados na série, gostamos dele mesmo assim. E vamos ter saudades, porque ela vai acabar. Que pena! Nota: Ao domingo, passa a haver Feira de Velharias no Porta do Vento. São textos republicados, com tempo suficiente para já ninguém se lembrar deles. Desculpem a preguiça, mas o domingo é mesmo para estas coisas...
Há, evidentemente, explicações mais pacíficas para tanto êxito: o texto é bom e tem um humor inteligente, o charme britânico e os olhos azuis de Hugh Laurie são irresistíveis, a dor física que o acompanha sempre justifica o seu comportamento, ele afinal no fundo não é assim tao mau, etc. Acrescente-se à lista o que se quiser, a verdade é que nenhum de nós gostaria de ter um tipo destes à cabeceira, mas todos ficaríamos mais descansados sabendo-o, no covil do seu gabinete, a decifrar enigmas médicos e a diagnosticar a nossa doença. House representa o cérebro puro, totalmente desprovido de qualquer forma de emoção ou daquilo a que chamamos humanidade. E como o seu mundo é o do sofrimento, muitas vezes extremo e mesmo terminal, o choque que nos provoca essa atitude é ainda maior. Mas ele é um cientista, e o seu único fito é o Conhecimento. Para obtê-lo, todos os fins justificam todos os meios. Tem um ego desmesurado, despreza fragilidades e sentimentos, trai confianças e não perdoa erros. É detestável, em suma. Mas nós, os viciados na série, gostamos dele mesmo assim. E vamos ter saudades, porque ela vai acabar. Que pena! Nota: Ao domingo, passa a haver Feira de Velharias no Porta do Vento. São textos republicados, com tempo suficiente para já ninguém se lembrar deles. Desculpem a preguiça, mas o domingo é mesmo para estas coisas...
Começo com este sobre o dr. House, já que começou uma nova série há pouco tempo. Publiquei-o a primeira vez em 28-06-2007. Apaguei os comentáros antigos.
14 comments:
Valeu, Ana! House é um must, a série não pode acabar. Você pintou um retrato fiel desse médico que esnoba títulos e juízos alheios.
Creio que, além dos olhos azuis, a gente gosta, nele, da porção House que existe em todos nós. Mas que a imagem ajuda, ajuda - e como!
Beijos
Ana, acabo de ver seu post do dia 7 de março, que tem um título praticamente igual ao que escrevi no dia 8, no Umbigo do Sonho. Só faltaram as reticências. E juro que não o havia lido ainda. O conteúdo de cada texto é semelhante, embora o seu me pareça mais contundente. Tivesse visto seu post antes, teria mudado o título, mas agora que já foi lido e comentado, não sei se teria utilidade fazer isso. Mas se você preferir, faço sim, sem problemas.
Beijo e desculpe o "plágio" involuntário.
Adelaide querida, isso não é um plágio, é uma coincidência. Significa só que estamos em sintonia neste tema, e ainda bem. Era o que faltava ter que mudar o texto ou o título!
Um beijinho
É incrível, mas perdi o balanço para as séries, desde que me entrou a TVcabo em casa. Estou limitado ao telejornais, aos Marcelo, à Quadratura, ao Eixo do Mal e a alguns Prós e Contras. Não fora o Canal disney e afins, a minha tv seria paupérrima.
Eu também não vejo praticamente nenhumas séries, hoje em dia. Abri uma excepção para o House, embora esta nova série já não seja tão boa como as anteriores. Mas continuo a gostar, apesar de tudo. E vejo, às vezes, uma ou outra da britcom. E, mais uma vez, já foram bem melhores.
Mas tudo isto pode ver-se nos canais portugueses, vizinho. Aliás, estou igual: só preciso do Meo (acabei com a Tv Cabo depois de uma longa zanga) para a SIC Notícias, o Travel e pouco mais.
Mas que bela ideia 'preguiçosa' que tu tiveste, a de recuperar os teus 'tesourinhos'!
Eu também sou fã do Dr. Casa, não só porque o senhor até é engraçadito (coisa pouca), mas porque a série é óptima (também acho que as anteriores eram melhores).
É como eu digo, ele podia dar-me as 'picas' todas que quisesse. Tenho sempre um misto de sentimentos de 'pena' e 'bem-feita' das dores que o pobre rapaz tem, mas uma coisa é certa, por muito bonito que seja, não queria ser enfermeira dele... quer dizer, se fosse só por um dia... ou dois...
beijos miúda
Pois não posso pronunciar-me, já que nunca vi episódio housesco. Pergunto-me é se a saída do cafageste entre as Minhas Amigas de língua Portuguesa não se deverá à identidade da tradução do nome dele com a conjugação de certo verbo sempre susceptível de românticas expectativas...
Psi de serviço
Dr. Fraude
Beijinho, Querida Ana
LOL! Dessa não me lembraria, caro dr. Fraude! E falo por mim - embora possa jurar não estar sozinha - não queria o House para marido nem que fosse o último homem do mundo! É daquelas personalidades que nos atraem mas depois nos saem caríssimas... para consumo externo tudo bem, mas em dose diária e caseira, jamé! (como diria um intelectual da nossa praça)
Um beijinho
È uma boa série mas continuo a prefirir o NIP/TUCK pelo toque quase surrealista de alguns episódios. Ainda ontem ao rever o "Sensibilidade e Bom Senso" dou de caras com o Dr.House travestido de Lorde inglês.
Boa semana para ti!
eu não gosto mesmo nada da série...
ADORO!!!!!!!!!!!!!!!!
Sofs, com que então uma pica, hein?
Júlia, se todos gostassem do mesmo, o que seria do amarelo?
(Por acaso eu gosto imenso de amarelo)
Oi, Tatiana! Bom te ver por aqui. Vejo que também és fã...
Beijos, meninas
Capitão, "travestido"?? Mas ele JÁ É um lorde inglês, ora essa!
;)
Bolas, com tanto revivalismo que por aí grassa, o meu novo blogue sobre velharias e recordações sortidas vai parecer... velho.
Beijos :)
Pelo contrário, JP. O teu blog vai ser um must, ques as tuas velharias são de altíssima qualidade, sem asas partidas nem pires desencontrados. Quando é que arranca, afinal?
Beijinho
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