terça-feira, 13 de novembro de 2007

Amor # Paixão (1)

Começa hoje, aqui no Porta do Vento, uma série de curtas a que chamarei AMOR # PAIXÃO.

Podem ser lidas como pequenas provocações, ou apenas como matéria para reflexão. Vou ilustrá-las com músicas que venham a propósito (não será difícil encontrá-las, já que o amor e a paixão devem ocupar, seguramente, 90% das letras das canções, desde sempre). Gostava muito que os meus leitores/comentadores não fossem preguiçosos e contribuíssem com as suas sempre sábias opiniões para este debate. Pode ser? Aqui fica a primeira, então:
O amor é um estado de alma.
A paixão é um estado de corpo.
(Rita Lee - Amor e sexo)

18 comments:

Anónimo disse...

Fizeste-a bonita, Ana... o que pode dizer desta dicotomia um amigo para quem corpo e alma fazem pouco sentido um sem o outro?

Desde logo, sorrir ao ver que na deliciosa música da Rita Lee o sexo toma o lugar que era da paixão no teu enunciado. Sexo e paixão serão sinónimos ? Não. Existem um sem o outro? Ele sem ela sim, conquanto fique aquém. E ela sem ele? Há paixões que não pedem sexo, não deixando de ser "estados de corpo". As que o pedem podem subsistir sem ele? É mais penoso. Esfaimadas, poderão amargar.

Voltando ao amor e à paixão, ela existe sem ele, que dúvida cabe?, ou até à margem dele. Carnal ou platónica, pode nascer, viver e morrer (ávida, egoísta, como aqui escreveste há tempos) sem tocar o amor e sem o gerar. Mas ele às vezes nasce dela, de rompante (embora possa nascer de outras fontes, mais de mansinho).

Sejam quais forem as suas origens, o busílis nasce quando amor e paixão se tocam ou tocam territórios recíprocos: como alcançar e gerir o frágil equilíbrio entre ambos? Ela, autofágica, terá de morrer para ele ficar? Não, mas há quem diga que os dias se vivem melhor ao ritmo do amor do que sob o jugo permanente da paixão (que, permanente, se torna chata, porque obsessiva). Quando não estão em choque, ele dociliza-a, sem a tornar insossa. Mas quando é que não estão em choque?!

Já escrevi muito, não sei com que pertinência... espero reacções para voltar à carga. E deixo-te um beijinho com muita amizade.

miguel disse...

Tenho para mim, hoje, um dia qualquer do mês de Novembro do ano de 2007,e com os cuidados inerentes ao estado de dúvida em que vou, sem querer,vivendo e , por prazer, cultivando, que há apenas uma forma de amor cujos contornos coincidem com a plenitude e que é o amor pelos filhos. É um amor cuja perda rasga a alma, faz regressar em nós a ideia mais poética de coração e que nos faz desesperadamente desejar a morte do nosso próprio corpo , criando em nós um mesmo desespero de acordar nele todas as manhãs.É um amor tão genuíno que nos enche de pudores eternamente indiziveis.Nasce um dia , sem se fazer avisar e não morre nunca.Não deve haver na natureza substância mais amarga do que as lágrimas por ele derramadas.É por causa do medo de que elas nos sobrevenham que ocultamos tantas vezes todo o brilho que nos enche as noites e os dias e nos preenche , directa ou indirectamente as cogitações que dão sentido à vida.

Quanto à paixão, também as sentimos pelos filhos...um ou dois meses depois de nascerem. Como as outras, terminam, como todas as coisas , boas ou más, que têm de acabar.

ana v. disse...

Pedro,
Não quero entrar na dança, para já, por isso limito-me a agradecer-te o comentário de luxo e o facto de teres aberto as hostilidades. Espero que outros te sigam, porque o assunto é eterno e promete.
Grande beijo

Anónimo disse...

Olá Ana

Olá Hucleberry Friend

A Ana ten razão, é um comentário de luxo, mas não estou totalmente de acordo, nem com a a definição dada pelas frases da Ana.

eu faço três distinções (vou falar em termos pessoais):
amor, paixão e sexo.

alinho em que o amor é um estado de alma, que eventualmente pode passar sem o sexo

A paixão é um estado de corpo, aliado ao estado de alma, que não passa sem sexo e em que o amor existe.

Sexo, é um estado de corpo, que existe por si só.

Quando a paixão desaparece, o amor a que estava aliada, pode ficar
mas também pode desaparecer.

Para o amor durar, eventualmente até que a morte nos separe, terá de surgir da paixão
se assim não acontecer esse amor passará a amizade, que é um sentimente terrível na relação de um casal.

HF, a paixão morre sempre, mais cedo ou mais tarde, porque faz parte da natureza da paixão, estar-se apaixonado pelo o que imaginamos que o outro é e não pela realidade daquilo que ele é.

Na minha concepção nunca há choque entre o amor e a paixão.


beijinho aos dois.

Marta

ana v. disse...

Miguel, escrevemos ao mesmo tempo e só apareceste depois, por isso não te agradeci também. Faço-o agora (e também à Marta, pelo contributo precioso), e agradeço a originalidade do teu ponto de vista. Não estava a pensar em amor paternal ou maternal, mas tens razão: é uma forma de amor também, e tão analisável como as outras. E já agora, para quando esse estranho métier de coveiro que agora arranjaste? Já tenho as flores a postos...

A todos os que comentarem, peço que se cinjam às frases que lá estão, porque tenho muitas mais e não quero que fique tudo dito logo no primeiro post da série! :)

Dona Betã disse...

Aforismo sábio, verdadeiro e irrefutável.

Mas, como não há regra sem excepção, é claro que o amor platónico também existe e é possível - apenas entre marido e mulher.

Ana, pf, faz que não ouviste. Olha que eu não sou cínico, embora pareça com a gracinha :)))

ana v. disse...

JG, para essa tenho uma resposta: "L'amour platonique est toujours plat... et jamais tonique". Um sábio provérbio francês, ligeiramente cínico como tu (e eu).
;)
bjs

Anónimo disse...

Então e quando é que vais entrar na tal dança?

Ora, paixão e amor? Aqui vai a minha tentativa de comentar a tua curta:

Amor é um estado de alma, sim concordo, mas não deixa por isso de ser um estado de corpo, quando se entranha e concretiza, quer seja no sexo, ou não;

A paixão nem sempre é um estado de corpo, pode apenas ser um estado aluado de alma, alimentado por palpitares do coração, mas torna-se também um estado de corpo na concretização da paixão, na passagem do desejo aos actos.

Será?

beijinhos

ana v. disse...

Será? Caro anónimo, estou aqui para aprender, e não para classificar a vossa sabedoria sobre o assunto. Aliás, quem é que terá autoridade para fazer isso?? Andamos uma vida inteira a tentar encontrar respostas para isto, não é? Mas se não amarmos apaixonadamente e não nos apaixonarmos pelo amor, a vida é uma treta.
Pronto, já dancei também.

Sofia K. disse...

Agora estiveste bem... és bom pé de dança, estou a ver... LOL Desculpa lá mas a anónima era eu, nem tinha reparado que tinha saído assim! Mas assumo aqui os meus dizeres... e aproveito para dizer que gosto desta tua nova rúbrica...

beijinhos

ana v. disse...

Ainda bem, Sofia. E gostei muito do "estado aluado de alma". Assim meio desalmado, não é? Lol

Anónimo disse...

A paixão pode ser da alma antes de passar (nem sempre passa) para o corpo, como diz a Sofia. O amor também (e começa mesmo na alma).

Muitos amores e paixões não chegam a tal encarnação, e tão-pouco somos donos absolutos dessa escolha. Ainda bem.

A passagem de estado de alma a estado de corpo é importante para se viver o amor e da paixão. São melhores juntos do que separados. Sem isso, Ana, claro que a vida é uma treta!

Mas roçam-se, Marta. A paixão exige onde o amor concede. É sôfrega onde ele é paciente. Apimenta-o de forma deliciosa, por vezes é-lhe combustível para a tal passagem de alma a corpo, mas é por natureza suicida. O amor tem outra solidez, mérito da massa de que é feito (e que pode incluir a amizade). Equilibrá-los continua a ser, para mim, o grande desafio, o grande mistério. O que dá vontade e o que tira o medo. O que vale a pena!

Anónimo disse...

Não estou de acordo HF


A paixão coabita sempre com o amor, por isso se equlibram.
Mas a paixão, acaba sempre por passar.

Penso que estão a chamar paixão ao amor, ou então estão a chamar paixão só ao estado de corpo.

Ora, para mim, são as minhas vivências, a paixão já passou, quando o homem amado já não nos faz ficar de pernas bambas, quando já não ficamos ansiosamente a olhar para o relógio e para a o telefona, quando passa a hora que disse em que telefonava.

Ah! e nem pensar falar-me em amizade relacionado com o amor.
Sabes porque é que não há amizade?
porque no momento em que se sabe que se foi traído aparece o ódio, antítese do amor, mas que nada tem a ver com a amizade e esta nunca resiste.

Jamais amizade com o homem com quem viverei.

ana v. disse...

Marta, essa não percebi. Nem todos os amores/paixões acabam em traição, e, consequentemente, em ódio. O mais vulgar é ser o desgaste e o desinteresse a acabar com a paixão, e não o ódio, acho eu. Além disso, quando há ódio há ainda paixão (mas não amor).
Quanto à amizade, acho difícil integrá-la na fase da paixão, mas não me repugna nada tê-la a par com o amor. Pelo contrário, acho o ideal que existam ambos numa relação "em velocidade de cruzeiro". E com esta já estou a comentar a nova provocação...

Anónimo disse...

Vou entrar nesta dança. Amor é paz e paixão é "guerra", mas "guerra santa", se partirmos do princípio que há guerras santas. E como depois da tempestade vem a bonança, e depois da guerra a paz, o amor pode ficar, e é bom que fique, depois da paixão, em tempo de paz. Contudo, como também há "paz podre", é bom que a paixão vá aparecendo para que nunca estagnemos. A paixão é o motor da "pica". Por isso devemos apaixonar-nos muitas vezes, por pessoas, ou por coisas, pela vida, por uma música, sei lá. E muitas vezes ao longo do tempo, ao longo dos dias, dos meses ou dos anos, por aquela pessoa, para que a paz que temos nunca apodreça.
E agora vou ali acima entrar no cruzeiro ou fugir das bombas...

Anónimo disse...

Marta, embora não esteja de acordo, esta conversa tem sido um prazer. Prolonguemo-la nas próximas provocações da Ana.

Ana, continuo a acreditar que a amizade pode fazer parte do amor em várias fases, incluindo a da paixão, sem que tal seja obrigatório.

Rv (prazer!), gosto da ideia de nos apaixonarmos e reapaixonarmos várias vezes por aquela pessoa. É mais uma forma de vermos, sentirmos e experimentarmos vários ângulos de alguém que amamos.

Sofia K. disse...

Mas que grande baile este! E pelo que já vi, lá em cima também já se dança...

Mas como eu aqui já dei o meu pézinho, passo só para dizer que gostei muito do que disse a RV...
(olha eu a ver se ela me faz uma empada!) LOL

beijinhos
(vou ver se danço ali na pista de cima!)

Anónimo disse...

Isto já está praticamente uma "rave", não acham?

Olá Hucleberry Friend! Haja alguém que não me dá graxa para ver se prova a empada! LOL

Estava a brincar, Sofia! O meu filho - um cozinheiro de mão cheia - vai achar lindo que alguém me "conheça" por causa dos meus "dotes culinários"! Obrigada pela confiança, e, quem sabe, talvez ainda nos conheçamos à mesa para os provar e comprovar.

E agora que já dançámos juntos, beijinhos para os dois
Rosarinho