É verdade, muitas vezes. Mesmo quando eles, os homens, julgam ou acham que isso não sucede.
Mas não será verdade, também, que - salvo casos, dificilmente ultrapassáveis - tal só é possível porque as mulheres aceitam, melhor ou pior, o termo de posse que lhes é dado assinar?
Grande verdade, Simone. Salvo algumas excepções, na maioria das vezes as mulheres alinham na tomada de posse. E nem se importam muito, porque acham que as contrapartidas compensam. Há gostos para tudo, não é?
Tenho para mim que amar alguém e querer ser seu dono são coisas incompatíveis.
Dito isto, como resolver o paradoxo de o amor ser, em certa medida, uma forma de posse, uma forma de ter alguém e ser de alguém (de tal forma que o consumamos - os que! - num acto a que alguns chamam «possuir»)?
O problema está no desejo de posse. Porque o «ser de alguém» inerente ao amor, o «seres minha» ou «ser teu», não se quer, reivindica ou concede. Está lá. Só quem não vê isto é que procura tomar posse ou ser don@ d@ outr@.
O medo de não ter alguém a 100% ou de perdê-l@ pode empurrar-nos para uma gesta inglória por uma posse d@ amad@ como objecto (por oposição à posse amorosa, de que amb@s são sujeit@s). E incensad@s nessa busca ciclópica e ilegítima, com grande potencial para gerar sofrimento, passamos ao lado da posse recíproca e nunca proclamada que nos oferece o amor e à qual, se amarmos, nos oferecemos também. Essa é muito mais bonita, vem sem luta e o que é preciso é não estragá-la!
PS: Ana, acho que fugi um pouco ao sentido que deste à frase, mas, casados ou não, o certo é que há homens (maioritariamente) e mulheres que tomam ou querem tomar posse daqueles que amam (amam?).
Querido Pedro, É sempre muito bom ver alguém da tua geração defender acaloradamente a utupia da perfeição nas relações humanas. Sabendo que irás provavelmente desiludir-te, espero que seja o mais tarde possível na tua vida. Ou nunca, se isso for possível (sabes que eu também gosto dos improváveis, e até acho que alguns são viáveis). Mas tens razão numa coisa: o amor é generoso por natureza, quer a felicidade do outro acima de tudo (mesmo à custa da sua própria felicidade). É a paixão que é egoísta e duma exigência muitas vezes suicida, e por isso se consome a si própria rapidamente. Mas é assim mesmo, ou não seria paixão. Apesar de tudo isto, o desejo de posse dos apaixonados deriva da insegurança, e essa insegurança é humana e natural. Errada, fatal muitas vezes, mas natural. Muito pior é o sentimento de posse de que falo neste post, que não tem nada a ver com amor ou com paixão. Tem a ver com modelos ancestrais de uma suposta superioridade masculina, que "autoriza" alguns homens a julgarem-se donos das mulheres com quem casam. Conheço muitos casos desses, e fico muito contente por ver que as novas gerações se estão a livrar desses tiques medievais. E verdade seja dita, também há mulheres que se consideram donas dos maridos. Enfim, tudo isto existe. (Tudo isto é triste, tudo isto é fado...)
Não aceito desculpas pela «lição», porque só quem é burro é que não gosta de aprender. Venham elas!
Achas que defendi a perfeição das relações humanas? Bom, talvez seja ainda muito verde ou talvez a vida me ande a tratar demasiado bem. A verdade é que, longe de aspirar a relações perfeitas (o que é isso?), prefiro deixá-las correr. A felicidade, felizmente (passe a cacofonia), não exige perfeição. Sábio é quem consegue - nem sempre é fácil - obter felicidade das pequenas perfeições que polvilham as nossas imperfeitas vidas.
Quanto à paixão, quanto mais tarde morrer, melhor. Mas tanto melhor quanto mais cedo alcançarmos o equilíbrio entre ela e o amor, que pode ser igualmente desgarrado mas tem outro ritmo, mais «vivível».
Nem mais, Pedro! Sabes mais da vida do que eu, afinal. Só posso acrescentar o seguinte: só os idiotas podem aspirar a um estado de felicidade permanente. Para o resto da humanidade, que vive "neste mundo", a felicidade é feita de momentos (mais ou menos longos) que nos permitem respirar e aguentar os outros, onde ela não está.
Mais do que tu, duvido... talvez mais do que por vezes aparento. Mas quem nunca se portou um dia como se soubesse menos da vida do que na realidade sabe?
Para a autobiografia A MINHA VIDA de Lou Andreas-Salomé, a mulher que teve o amor de Rilke e de Nietzsche, e que conviveu intimamente com Freud, Gillot, Rée, e muitos outros homens célebres da sua época. Um relato interessantíssimo, na primeira pessoa, de uma mulher excepcional. Para um dos meus filmes preferidos de sempre - QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?, de Mike Nichols - que revejo sempre com o mesmo prazer. É superior o texto de Edward Albee, são-no também as interpretações, de um casal "ao rubro", de Liz Taylor e Richard Burton. O filme, não por acaso, conseguiu um feito único na história do cinema: foi nomeado para todas as categorias dos Oscares, em 1966. Para o filme AS HORAS, que vai fundo na análise da infelicidade extrema dos inadaptados sociais, tendo como novidade o prisma de uma outra infelicidade: a das pessoas ditas "normais" que os amam e rodeiam, sofrendo tanto ou mais do que eles e não tendo, sequer, o bálsamo da loucura ou da genialidade. Interpretações inesquecíveis de Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep. Para o filme DIÁRIO DE UM ESCÂNDALO, em que Judi Dench e Cate Blanchett nos guiam maravilhosamente, num brilhante argumento, pelos meandros da manipulação e da perversão femininas. Não percebo como não levou quase todos os Oscares do ano. Para o filme INFAMOUS, de Douglas McGrath, em tudo superior ao mediático e oscarizado "CAPOTE" (que aborda o mesmo tema). Um lote de actores de primeira água numa produção de baixo orçamento, a provar que os filmes fora do mainstream estão cada vez mais na moda, nos States. Para o filme HABLE CON ELLA, de Pedro Almodôvar, que consegue a proeza de transformar em pura poesia um dos mais abjectos crimes imagináveis - a violação - cometido, ainda por cima, sobre uma mulher completamente indefesa. Um filme que fala de um amor incondicional, desesperado, comovente. De um amor que, no seu profundo desajuste, nos faz questionar tudo e redime aos nossos olhos toda a Humanidade.
11 comments:
É verdade, muitas vezes. Mesmo quando eles, os homens, julgam ou acham que isso não sucede.
Mas não será verdade, também, que - salvo casos, dificilmente ultrapassáveis - tal só é possível porque as mulheres aceitam, melhor ou pior, o termo de posse que lhes é dado assinar?
G O S T E I :) :) :)
Manel
Grande verdade, Simone. Salvo algumas excepções, na maioria das vezes as mulheres alinham na tomada de posse. E nem se importam muito, porque acham que as contrapartidas compensam. Há gostos para tudo, não é?
E seja bem vinda.
Ainda há disso? Digo, gente que se casa? :)
Há, pois! E são estes, quase sempre...
:)
Ana,
Infelizmente eles existem. Infelizmente, tembém, existem mulheres que se prestam a esse papel.
Beijão
Tenho para mim que amar alguém e querer ser seu dono são coisas incompatíveis.
Dito isto, como resolver o paradoxo de o amor ser, em certa medida, uma forma de posse, uma forma de ter alguém e ser de alguém (de tal forma que o consumamos - os que! - num acto a que alguns chamam «possuir»)?
O problema está no desejo de posse. Porque o «ser de alguém» inerente ao amor, o «seres minha» ou «ser teu», não se quer, reivindica ou concede. Está lá. Só quem não vê isto é que procura tomar posse ou ser don@ d@ outr@.
O medo de não ter alguém a 100% ou de perdê-l@ pode empurrar-nos para uma gesta inglória por uma posse d@ amad@ como objecto (por oposição à posse amorosa, de que amb@s são sujeit@s). E incensad@s nessa busca ciclópica e ilegítima, com grande potencial para gerar sofrimento, passamos ao lado da posse recíproca e nunca proclamada que nos oferece o amor e à qual, se amarmos, nos oferecemos também. Essa é muito mais bonita, vem sem luta e o que é preciso é não estragá-la!
PS: Ana, acho que fugi um pouco ao sentido que deste à frase, mas, casados ou não, o certo é que há homens (maioritariamente) e mulheres que tomam ou querem tomar posse daqueles que amam (amam?).
Querido Pedro,
É sempre muito bom ver alguém da tua geração defender acaloradamente a utupia da perfeição nas relações humanas. Sabendo que irás provavelmente desiludir-te, espero que seja o mais tarde possível na tua vida. Ou nunca, se isso for possível (sabes que eu também gosto dos improváveis, e até acho que alguns são viáveis).
Mas tens razão numa coisa: o amor é generoso por natureza, quer a felicidade do outro acima de tudo (mesmo à custa da sua própria felicidade). É a paixão que é egoísta e duma exigência muitas vezes suicida, e por isso se consome a si própria rapidamente. Mas é assim mesmo, ou não seria paixão.
Apesar de tudo isto, o desejo de posse dos apaixonados deriva da insegurança, e essa insegurança é humana e natural. Errada, fatal muitas vezes, mas natural.
Muito pior é o sentimento de posse de que falo neste post, que não tem nada a ver com amor ou com paixão. Tem a ver com modelos ancestrais de uma suposta superioridade masculina, que "autoriza" alguns homens a julgarem-se donos das mulheres com quem casam. Conheço muitos casos desses, e fico muito contente por ver que as novas gerações se estão a livrar desses tiques medievais.
E verdade seja dita, também há mulheres que se consideram donas dos maridos. Enfim, tudo isto existe. (Tudo isto é triste, tudo isto é fado...)
Um beijinho e desculpa a "lição" da cota.
Ana
Querida Ana, porque és mesmo querida:
Não aceito desculpas pela «lição», porque só quem é burro é que não gosta de aprender. Venham elas!
Achas que defendi a perfeição das relações humanas? Bom, talvez seja ainda muito verde ou talvez a vida me ande a tratar demasiado bem. A verdade é que, longe de aspirar a relações perfeitas (o que é isso?), prefiro deixá-las correr. A felicidade, felizmente (passe a cacofonia), não exige perfeição. Sábio é quem consegue - nem sempre é fácil - obter felicidade das pequenas perfeições que polvilham as nossas imperfeitas vidas.
Quanto à paixão, quanto mais tarde morrer, melhor. Mas tanto melhor quanto mais cedo alcançarmos o equilíbrio entre ela e o amor, que pode ser igualmente desgarrado mas tem outro ritmo, mais «vivível».
Outro beijinho
Nem mais, Pedro! Sabes mais da vida do que eu, afinal.
Só posso acrescentar o seguinte: só os idiotas podem aspirar a um estado de felicidade permanente. Para o resto da humanidade, que vive "neste mundo", a felicidade é feita de momentos (mais ou menos longos) que nos permitem respirar e aguentar os outros, onde ela não está.
Mais um
Mais do que tu, duvido... talvez mais do que por vezes aparento. Mas quem nunca se portou um dia como se soubesse menos da vida do que na realidade sabe?
E o "mais um" passa a dois!
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