Para completar esta homenagem à minha Mãe, transcrevo aqui parte de um poema do meu querido amigo e poeta maior Thiago de Mello, que, com a sua ternura, me ajudou (mais do que julga) a passar por este momento difícil. O poema chama-se "Dona Maria" - o nome da sua Mãe - e foi escrito no dia em que ela morreu.
(Juntei-lhe uma fotografia que encontrei por aí e que achei admirável. Não sei quem é o autor nem o modelo, mas pareceu-me uma Mãe - talvez a de todos nós - sábia e resignada, esperando o cumprimento inevitável de um ciclo).
DONA MARIA
Dona Maria está partindo.
Parece que está dormindo.
Mas já está chegando ao finzinho
do vale que leva à eternidade.
Quero só ver o que a eternidade
vai fazer com Dona Maria.
Ela sempre garantiu, desde mocinha,
que ia morar lá no céu.
E muito ouvi dela que Jesus,
de quem era serva fiel,
a esperava, contente.
Conversava com ele
como pessoa da sua maior intimidade.
Falava do céu como do jardim
cheio de roseiras e begónias
da casa dela na rua José Paranaguá.
Isso, ela. Eu, que não tenho lá essas certezas,
convencido de que a verdade da vida eterna
não chega a me dizer respeito,
acho que tenho o direito de esperar
que a Eternidade, com maiúscula,
dê a Dona Maria, pelo menos,
uma das tantas flores de bondade
que o seu coração repartiu
com o seu companheiro de vida,
os filhos (contando os de criação),
os irmãos, os parentes, as pessoas amigas,
e especialmente as desconhecidas,
pois a todos considerava filhos de Deus.
Sinto imensa precisão
de que ela me atenda mais uma vez.
Então lhe peço, como desde menino:
"A bênção, minha Mãe, Dona Maria!"
Mas desta vez ela não me responde,
como sempre fez, com sua fé prodigiosa:
"Deus te abençoe, meu filho,
Deus te faça feliz!"
Não me abençoará nunca mais.
Porque minha Mãe Dona Maria
acaba de partir para a eternidade.
A Poesia pode ser uma mão redentora. Neste caso, cumpriu esse papel com o zelo de um amigo próximo. Obrigada, Thiago. Espero poder um dia retribuir-te, de alguma forma.
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